Estar na Pele da Raquel: Página 01

Sob a Sombra do Luto: Minha Jornada de Dor e Culpa


Desde muito cedo, o luto me apresentou a um mundo de sentimentos complexos, começando com a perda que me deixou buscando respostas que uma criança não poderia compreender. A despedida de meu irmão  mais velho inaugurou um capítulo de dor e culpa, emoções que eu, na inocência da minha juventude, mal sabia nomear, mas que sentia com uma intensidade avassaladora. A única certeza que tinha era a ausência que ele deixou, um vazio que palavras de consolo adultas não conseguiam preencher.


Essa dor inicial marcou o começo de um padrão que se repetiria, cada perda subsequentemente gravando mais fundo a ideia de que com cada adeus, uma parte de mim também se perdia. Da avó que era um pilar de amor e bondade em minha vida ao término de um relacionamento que pensei que duraria para sempre, cada experiência de luto parecia reforçar a culpa infundada e a pergunta eterna: "Havia algo mais que eu poderia ter feito?"


O peso da culpa me fechou, criando barreiras invisíveis entre mim e a possibilidade de novas perdas. Por muito tempo, evitei me apegar, temendo que o preço da proximidade fosse mais dor. Esse recuo, por mais que fosse uma tentativa de autopreservação, custou-me momentos de conexão e alegrias possíveis, mas naquela época, parecia um preço menor a pagar do que enfrentar a dor de outra perda.



No entanto, foi o suporte incondicional da minha família e as sessões de terapia que lentamente começaram a abrir rachaduras nas paredes que eu havia construído ao redor do meu coração. Aprendi que a culpa, embora uma resposta natural ao luto, não precisava ser uma sombra permanente sobre a minha vida. Foi um processo longo e muitas vezes doloroso, mas também liberador. A terapia me deu um espaço seguro para desembrulhar a dor e a culpa, enquanto o amor da minha família me lembrou que eu não estava sozinha nessa jornada.


Gradualmente, comecei a perceber que o luto, por mais que doa, também traz lições importantes sobre o valor da vida, sobre a importância de viver plenamente e apreciar as pessoas enquanto estão conosco. A cada passo nesse caminho de aceitação e entendimento, encontrei uma nova força e uma nova capacidade de abrir meu coração novamente, não sem medo, mas com a coragem de enfrentá-lo.

Hoje, minha visão sobre o luto se transformou. Não o vejo mais apenas como uma sombra de tristeza, mas como uma parte integrante da vida, que, embora desafiadora, me ajudou a compreender a importância de cada momento e a valorizar mais profundamente as pessoas ao meu redor.

Aprendi que enfrentar a dor e aceitar a perda são passos necessários para encontrar a cura e, eventualmente, abrir espaço no coração para novas alegrias e conexões. Cada experiência de luto deixou sua marca, mas também me deu a força para abraçar a vida com mais amor e gratidão. Ainda enfrento dias difíceis, mas agora estou equipada com uma maior apreciação pela fragilidade da vida e pela capacidade de superar a dor, avançando em direção à luz de novos começos e possibilidades.



***

Raquel Monteiro

Engenheira e futura médica, aventuro-me no universo da saúde mental com a curiosidade de uma exploradora. Apaixonada por neurociências e autoconhecimento, percebo na medicina não apenas uma profissão, mas uma vocação para compreender e cuidar do nosso bem mais precioso: a mente. Nas horas vagas, desafio-me nas pistas, treinando para minha primeira maratona, sustentada pela crença de que mente e corpo são partes de um todo indissociável. Compartilharei insights e reflexões sobre saúde mental, iluminando temas complexos com simplicidade e um toque de leveza. Juntos, vamos desmistificar, explorar e cuidar da nossa saúde mental, um passo de cada vez.

Instituto Bem do Estar

Queremos gerar conhecimento aplicável sobre a saúde da mente


https://www.bemdoestar.org/
Anterior
Anterior

Como ações de prevenção podem melhorar a saúde mental e a qualidade de vida dos funcionários

Próximo
Próximo

Já pensou fazer uma boa ação enquanto escuta música?