Estar na Pele da Mariana: Página 04

Ui, mais um ano desde que escrevi o último texto! O tempo passou e, confesso, eu não vi. Me perguntou por onde andei, ou onde estou agora. Acho que estive distraída com a vida, cumprindo com as obrigações que eu mesma me impus e, claro, sendo atravessada pelos acontecimentos. Muitos acontecimentos. O tempo todo, acontecimentos.

Por um lado, penso que é bom que tantas coisas aconteçam. Isso significa que estou viva? Sei lá, só estou tentando achar algum sentido nas coisas, na vida. Vocês também fazem isso? Parece que tenho uma pulguinha na minha cabeça que tenta justificar tudo o tempo todo. Posso chamar essa pulguinha de controle, uma tentativa de ter alguma garantia, certeza. Maldita vontade de querer controlar tudo.

Ela me faz questionar tudo o tempo todo. E acho que é isto que venho fazendo nos últimos meses, enquanto estive sumida daqui. Estive ocupada pensando. Pensando no que estou fazendo com a minha vida, no que quero, no que farei.

Seria bom se eu tivesse encontrado alguma resposta. Como não achei, sigo pensando. Porém, entre estes pensamentos, me pergunto: será que vou chegar a alguma resposta? Será que alguém realmente sabe a resposta para o que quer?

Na minha experiência, acho um pouco difícil achar esta resposta. Não porque ela não exista, mas porque meus desejos mudam com bastante frequência. Mudam porque eu conquisto o que quero, ou porque algo sobre qual não tenho controle acontece e, então, eu mudo de ideia, tento outro caminho, ou simplesmente desisto mesmo.

A verdade é que parece que meus questionamentos estão comigo numa constante corda bamba. Acho um ponto de foco para não desequilibrar e sigo em direção a ele. Neste exato momento que escrevo, estou aqui nesta corda bamba. Achei um foco, o que significa que alguma decisão foi tomada, e estou tentando segui-lo.

Os questionamentos vêm comigo, mas parecem um vento que tenta me desequilibrar. As respostas seriam o ponto de segurança para não desequilibrar? Talvez. Mas o que me garante que as respostas são certas, ou que são garantidas? Como posso passar por uma corda bamba sem controle?

Além disso, questiono o ponto de início desta corda, que entendo ser o momento da tomada de decisão. Será que essa é a decisão correta? Mas existe uma decisão correta? Será que vai dar certo? Será que tenho capacidade de conquistar? - (odeio tanto essa). Será que é isto mesmo o que quero? E como saber o que quero? “Vai, medita, entra em contato com você mesma”, eles dizem. Mas quem me garante que é isto mesmo que eu quero se nem eu mesma não consigo me garantir o que quero?

Por que ninguém nos ensina a tomar decisões? O que preciso levar em consideração para tomar uma decisão? Qual o critério devo seguir? Esses critérios mudam de situação para situação, dependendo da perspectiva? Será que pergunto a algum amigo, ao meu terapeuta, à minha mãe? Será que eles não podem resolver isso para mim não? Tô tão cansadinha...

A verdade é que, no fundo, no fundo, eu sei que não tem decisão correta, nem certeza ou garantia. Mas ainda assim eu quero essa segurança, quero a certeza de que vou conseguir exatamente o que quero (e claro, considerando que sei exatamente o que quero), e que meu desejo será realizado na exata forma como eu esperava.

E aí vem o contraponto do controle, a danada da expectativa. Como dosar essa expectativa? Nem sempre temos consciência do tamanho dela, e às vezes, quando temos, talvez percebamos que devemos ajustá-la, não?

Ou simplesmente somos tão teimosos que insistimos em conquistar aquilo que decidimos que queremos, do jeito que queremos. Às vezes dá certo. Às vezes caímos da corda bamba. Estou agora tentando alinhar minhas expectativas e distinguir o que posso ou não controlar. Mas sigo pensando, pensando e pensando...

 

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Mariana Calvão

Sou carioca, nascida e criada na zona norte, onde morei por 30 anos. Hoje estou morando pelo mundo, onde me faço e refaço, deixando e recebendo um tanto por onde passo, e levando comigo a certeza de que muito pouco eu sei, mas sempre à procura de um sorriso meu e daqueles que me permitiram os amar.

 

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*As opiniões expressas na coluna Estar na Pele não refletem diretamente as posições editoriais do Instituto Bem do Estar, são baseadas nas experiências dos colunistas e suas versões do fato, sendo a ideia da coluna um diário aberto onde autores podem expressar suas experiências de forma genuína se aproximando dos leitores.

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