Estar na Pele da Lilly: Página 05

É a primeira vez que escrevo depois de muito tempo. Bom, na verdade escrevi alguns poemas nas últimas três semanas, mas em termos de escrever para ouvir a minha própria mente é a primeira. Acho que, sem brincadeira, fiquei mais de um ano sem tocar numa folha de papel ou abrir uma página em branco no docs e agora percebi que não era pelo motivo que eu imaginava. A todos que me perguntavam, eu respondia que estava ocupada com a faculdade e trabalhando, que não tinha tempo para isso. E não, essa resposta não me incomodava nem um pouco. 

Veja, eu estava focada nessa perspectiva de que como eu estou fazendo a faculdade que eu sempre quis e estou na busca de um emprego que eu ame sem focar no sucesso financeiro, bom seria egoísmo e ingratidão eu querer algo a mais, certo? Errado, mas foi assim que menti para mim mesma por tanto tempo e me obriguei a ser feliz. Porém não tinha como eu chegar nem perto da alegria se eu estava afastada do que eu amo fazer já que é nessa atividade que eu fico mais próxima de conseguir me ouvir e compreender o que o meu coração quer. Eu percebo isso agora, porque mesmo que ainda precise tratar de muitos problemas na terapia, ao escrever tudo é mais leve. De qualquer maneira, no ano passado, em algum momento eu deixei de me sentir como escritora e foi nesse momento que o perigo começou, quando eu me esqueci de mim mesma. Esta é uma resolução que hoje me surpreende, porque eu sempre acreditei que amor demais pelo outro nos torna cegos de nós mesmos, mas descobri que a independência também. Tudo sempre foi sobre o equilíbrio. 

Chegou um tempo em que eu parei de me importar com o meu desenvolvimento acadêmico na faculdade, larguei a mão mesmo, e isso não é algo que uma CDF de carteirinha como eu gosta de admitir, mas é a verdade. Eu levei na mais pura mediocridade que começaram a me perguntar se eu estava infeliz com o curso. Começaram a me aconselhar a prestar vestibular de novo, a me confortar dizendo que não tinha problema em trocar de faculdade. Mas essa nunca foi a problemática e eu me indignava toda vez que sugeriam isso.

A questão foi que ao ler o tempo todo grandes autores e estudar os maiores críticos literários, você começa a duvidar da sua própria capacidade de criação artística, eu parei de me sentir suficiente na minha escrita. Esse é um dos motivos do meu afastamento, mas não acaba aqui.

Sabe, a primeira vez que eu escrevi foi para aliviar as dores de uma desilusão amorosa. Depois, grande parte da minha inspiração veio de um relacionamento que deu certo por um tempo. Quando tudo acabou, a dor também virou, mais uma vez, motivo de poesia. O problema foi quando todo o tormento passou, eu fiquei com medo de me apaixonar de novo. Mesmo que eu escreva alguns poemas metafísicos voltados para questões do mundo e outros autoreflexivos, o meu maior tema sempre foi e sempre será o amor. Aí que está, eu havia me bloqueado para ele. Então quando eu conheci uma pessoa nova, cheia de possibilidades, eu quis mergulhar naquele sentimento e ao mesmo tempo repudiava temerosamente a ideia de me tornar vulnerável mais uma vez. E se desse tudo errado? Eu teria aberto o meu coração por nada. Por isso, eu resolvi me manter fechada, sentindo mais medo do que amor, e foi assim que eu fiquei mais de um ano sem escrever um poema sequer. E, agora, o principal motivo está revelado. 

Isso tudo foi até três semanas atrás, quando eu finalmente entrei de férias da faculdade e toda aquela angústia que eu sentia - e culpava no estresse causado pelo semestre - não passou. Foi assim que eu comecei a me indignar comigo mesma: “eu finalmente posso descansar, cumpri com todas as minhas obrigações, por que a minha ansiedade permanece atacada?”. Eu vim para o interior passar um tempo com a família. O contato próximo com a natureza sempre foi um aliado em me ajudar a me ouvir melhor, eu comecei a pressentir que algo estava errado, decidi desligar o celular por uns dia e na mesma noite escrevi três poemas. Eu finalmente voltei a me ouvir e a compreender o que eu precisava. 

Foram nesses últimos dias que eu percebi que não importa se tudo der errado, pois a minha poesia me ajudará a encontrar paz no sofrimento.

O que realmente importa num espectro substancial do meu ser é: o amor gera arte e é na arte que eu vivo, mesmo diante da dor. Eu não posso me permitir paralisar por conta dos meus traumas e eu tentarei, dias após dia, a não me deixar impedir pelo medo. Bom, não posso mentir e dizer que não tenho mais o que temer porque é óbvio que eu ainda sinto medo, todo mundo sente na medida que é um dos aspectos mais naturais do ser humano. Então, nesse ano que se seguirá  agora, me jogarei de novo nessa busca e, no meio do caminho, tentarei manter um equilíbrio e tentarei aprender a hora certa de quando ouvir ao amor e a quando tomar precauções baseadas na minha experiência. Porque é na dose certa de amor, seja ele próprio ou pelo outros, que a gente se encontra.

***

Lilly Alpina

Eu encontrei um refúgio nas palavras quando ainda era uma pequena menina. Sempre que a tarefa era escrever uma redação, eu ultrapassava o limite de linhas em páginas. Agora que cresci um pouco, entendo o porquê. É uma ponte para o meu interior que me ajuda a me conectar com as minhas emoções e a entendê-las. E assim como é para mim, espero que seja também para outros. Espero que, de certa forma, as minhas palavras lhes confortem e sirvam como um espaço para o autoconhecimento.


Lilly Alpina

Eu encontrei um refúgio nas palavras quando ainda era uma pequena menina. Sempre que a tarefa era escrever uma redação, eu ultrapassava o limite de linhas em páginas. Agora que cresci um pouco, entendo o porquê. É uma ponte para o meu interior que me ajuda a me conectar com as minhas emoções e a entendê-las. E assim como é para mim, espero que seja também para outros. Espero que, de certa forma, as minhas palavras lhes confortem e sirvam como um espaço para o autoconhecimento.


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