Estar na pele da Robertta: Página 03
Diário das Máscaras
Por inspiração do texto de @CarlosStefano, decidi abrir minha experiência em dar de cara com meu próprio ego, que começou depois do término de uma relação em 13/12/2019.
Até então ele (o ego) se manifestava livremente em mim sem nenhum pudor, e eu, na minha ignorância justificava que por conta de todo vilipêndio, execração e blá blá blá… que torna legítima essa ação, do alto da minha razão vomitava palavras que rasgavam como uma lâmina afiada, do ventre até o cérebro daqueles que manifestassem qualquer indício de desqualificação, demérito ou chacota contra mim ou alguém indefeso que estivesse ao meu lado.
Eu, sem nenhum problema ou dificuldade empunhava minha espada brilhante de ódio desferindo argumentos com baixo, mas bom tom, os segredos que aquela criatura guardava no mais profundo da sua alma, que sem nenhum véu era descortinado a mim no exato momento que me sentia agredida (esse dom de olhar para alguém e ver as dores da sua alma herdei de minha avó sensitiva, usava isso para ridicularizar aqueles que queriam me colocar no ridículo, sempre fui bem sucedida, apesar de minha avó ter me avisado que eu só tinha esse dom para saber com quem eu estava lidando...olha o mau uso dos dons divinos...agora já foi rsrs)
Só que depois de ter revertido a situação em meu favor, batia um arrependimento, por ter feito aquilo que eu não gostaria que fizessem comigo, mas aí era tarde. A pedra atirada e a palavra dita não têm como voltar atrás. Era uma reatividade defensiva do meu narciso, mas que graças a Deus não prevalece sobre o meu ser, tenho aquilo que me diferencia dos narcisistas malignos: o traço de personalidade de amabilidade. O que não me impedia de defender meu espaço de direito com as palavras certas para ferir.
Palavras que eu não tinha como me desculpar, foram contundentes, mortais, acredito que as pessoas que fizeram essas tentativas de humilhação comigo, nunca mais repetiram essa atitude, eram inesquecíveis, feriam a alma, impossível esquecer ou relevar.
Tive notícias de alguns, tempos depois, que mudaram seu comportamento em sociedade. Outros nunca mais ouvi falar, outros mudaram de bairro, cidade, estado. A sociedade narcisista “pensa” que pode tudo, até dar de cara com o demônio vestido de mulher, eu (essa sombra é o pior que existe em mim).
Mas isso fazia parte do ego narcisista que tive que desenvolver para sobreviver entre pessoas que só entendiam essa língua.
Interpretar papéis nunca foi o meu forte, eu sempre tive limites sociais/profissionais, mas sem deixar de ser eu mesma, o que me causou vários problemas, pois ao menor sinal de domínio ou sobreposição eu levantava dos meus um metro e setenta e seis e dizia que comigo não meu bem...tô saindo...e seguia meu caminho que sempre me ofereceu novas oportunidades, graças a Deus/Deusa.
Mas voltando as máscaras, eu nesse papel de vítima que “tem que se defender”, também manipulava as pessoas a minha volta, que quando contrariados por algum motivo, despertavam esse mecanismo de defesa narcísico que até então não me diferenciava deles em nada, eu apenas me escondia atrás da máscara de vítima para que tivessem pena de mim e alguém realizasse o que eu queria. Olha gente, dar de cara com essa realidade num trabalho de consagração da ayahuasca* de cinco horas vomitando todo esse veneno e tendo essas visões de mim mesma, foi um salto quântico para a concepção que eu tive sobre meu comportamento por uma vida inteira. O papel de vítima é cômodo, sensibiliza e reafirma nossas dores e as injustiças que sofremos (sem desqualificar a história de ninguém, pois as coisas que vivi também foram reais e foi em mim que doeram, a questão é: o que fazer com essa dor? Usá-la como degrau para crescer, ou permanecer nela culpando o externo sem reconhecer a mim mesma e minhas responsabilidades?) numa postura de fragilidade que é confortável, o ser humano tem apego a zona de conforto por ser um território conhecido, melhor do que encarar o novo desconhecido “deixa eu ficar aqui que já conheço”. Sem a pretensão de teorizar sobre psicologia, vivendo essa experiência, fui buscar conhecimento analítico e descobri o quanto estava enganando a mim mesma. O choque de me ver igual a eles foi tamanho que mudei o sentido em meu coração e mente sobre tudo que já havia vivido.
A consagração me mostrou a essência do meu nascimento, a pureza daquela criança que aos 4 anos desejava que TODOS fossem felizes, sem diferenças, privilégios ou dissensões, apenas fossem felizes.
E ela me perguntava: onde está essa criança que existia em você?
O que você fez com ela? Vá resgatá-la antes que seja tarde, antes que você condense em si esse concreto de ódio e mágoas e não consiga reverter para sua verdadeira essência. Você não veio aqui para assimilar experiências, veio para vivê-las e aprender com elas. Não foi suficiente o contraste entre bem e mal que foi mostrado? É hora de encerrar esse ciclo para que novas experiências possam vir, desapegue do que já foi, das dores, das mágoas, da falta...tudo que você precisa está sendo dado, o que passou não é você, apenas solte, deixe ir, o tempo a frente trará novas coisas para aprender, aproveite o que já conheceu e traga como aprendizado, para viver o novo de uma maneira diferente do que já viveu, mas é preciso que solte o que já foi.
Em resumo, saí desse trabalho com uma consciência que nem sabia que tinha, foi um insight que a espiritualidade trouxe para me libertar desse costume de ter pena de mim mesma.
Eu não sou o que fizeram comigo, eu sou o que posso ser de melhor em mim, na verdade foi tão forte que ainda estou assimilando tudo isso, mas serviu para que eu reconheça meu valor, minha capacidade, minha própria existência sobre a Terra, minha essência, aquela que nasceu comigo, eu em mim e não o que as pessoas esperam que eu seja, e sim a pessoa que ocupa o lugar onde está e chegou até aqui apenas por mérito próprio, essa sou eu, sou a força e a vida que conquistei, por mim mesma, já é meu lugar de direito.
Há um lugar legítimo, mas ele existe dentro de nós, eu pensava que reconhecia meu valor e por isso me impunha diante da sociedade para sobreviver dentro dela, mas é um movimento desnecessário, pois a atitude de empoderamento é legítima sim e necessária, quando estamos num nível de esgotamento emocional que nos tira as forças, é preciso levantar desse lugar para poder seguir em frente, usar todos os recursos a mão para poder continuar. Até um momento onde já me reconheço como pessoa e posso deixar essa luta para viver em paz novamente, vivi esse momento várias vezes em minha vida.
Viver no estado de se empoderar constantemente reafirma que ainda não tenho certeza de quem sou, cria uma necessidade de autoafirmação para mim mesma, e não sai da postura de vítima, pois, se preciso me reafirmar constantemente é por que não consigo me reconhecer como pessoa inteira.
Aí reconheci outra zona de conforto...a vítima que precisa se auto afirmar o tempo todo, foi doloroso me ver assim.
E reconheci que não conseguia enxergar em mim tudo que estava tentando colocar para o externo.
Então pensei: “ porque eu preciso mostrar alguma coisa para alguém? “
De onde vem essa necessidade? E o óbvio se manifestou: “ quero ser reconhecida ”. E a consagração foi mais fundo: reconhecida por quem? Não tive como negar...por aquele que já não está mais entre nós, meu pai.
E gentilmente ela disse: ele já te reconheceu onde está, você precisa reconhecer a si mesma e continuar, solte essas lembranças.
E no mesmo momento começaram a surgir imagens de quando ele estava vivo no nosso dia a dia em casa, que não em palavras, mas sim em atos ele reconhecia quem eu havia me tornado.
E num misto de saudade e alegria, chorei tudo que ainda estava guardado no peito, acorrentado por mim, sem que eu percebesse.
Buscando a informação acadêmica pude refletir sobre o que realmente essa “dor” do passado representava para mim ainda, não desqualifico o que vivi nem o que senti, muito menos a história de cada um, mas preciso reconhecer o que na verdade sou em mim, essa pessoa que busca respostas e encontra, basta que eu aceite.
A vida impõe, disponibiliza as circunstâncias necessárias para nosso crescimento, o que fazemos com elas já é livre arbítrio, eu escolho sair do lugar comum, não é sem motivo que nunca me submeti a nada nem a ninguém por muito tempo, o tempo necessário para que eu me mexesse para encontrar uma saída, uma solução para aquela dor, e sempre encontrei, ...fácil? Nunca foi, mas necessário, por que se hoje me tornei quem sou, foi à custa desse sofrimento que me dizia: você é melhor que isso, saia daí você consegue. E sempre com ajuda, nesses trinta e cinco anos de análise, de busca e encontrando a consagração da ayahuasca desde 2018, cheguei onde estou, inteira em mim mesma, sem a necessidade agora de nenhuma máscara para me encaixar em nenhum contexto pré-estabelecido por uma sociedade narcisista, perversa, dominadora que precisa rotular, categorizar e encaixar em nomenclaturas aquilo que simplesmente é, Ser Humano.
Não tenho a pretensão de colocar saídas, fórmulas ou maneiras para que alguém se livre das dores que carrega, todas são legítimas no tempo e espaço de cada um, mas não podia deixar de relatar essa experiência libertadora que vivi com os meios que se apresentaram a mim durante a vida.
Somos seres únicos, parafraseando Letícia Lanz, psicanalista, existem mais de sete bilhões de sexos sobre a terra, cada ser é único em si mesmo, impossível classificar, nomear ou categorizar o que é único.
Infelizmente nosso cérebro é social, precisamos conviver em sociedade, só não precisa ser com conceitos pré-estabelecidos por governo, religião etnia, ou quem quiser ditar normas sobre como devemos nos comportar, esse já é um senso que nasce com cada um, se torna genético, hereditário, vem por assimilação do próprio convívio enquanto crescemos. Mas a essência que cada um carrega consigo é única, não dá para mascarar o que se é, independente do que vão achar de nós, Deus/Deusa nos deu a vida para que vivamos, não para copiar nada nem ninguém, apenas Ser. Me reservo esse direito e dou a todos que desfrutam da vida o mesmo direito, viver.
Ofereço essas reflexões com todo amor que tenho em mim, meu narciso não me representa, sou um ser Divino vivendo uma experiência humana na terra, não o contrário. Desejo que todos possam um dia, no seu tempo e condições, desfrutar da excelência da vida em sua própria essência.
Obrigada por esse espaço de escuta e acolhimento que é o Instituto Bem do Estar, a toda equipe que integra esse movimento de saúde da mente neste tempo de total necessidade de cuidarmos uns dos outros.
Beijos e abraços a todos os seres humanos que esse texto alcançar.
***
Robertta Francolin
Esteve no meio corporativo e serviço público dos 14 aos 21 anos.
Há 43 anos como profissional da beleza, sem intenção de parar de criar, sempre aberta para o novo.
Autodidata, sensitiva, sobrevivente.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.