Educadora Menstrual
Uma satisfação receber o convite do Instituto Bem do Estar para ser colunista e é com muito prazer que trago a Educadora Menstrual pra cá, proporcionando tornar natural o diálogo sobre o ciclo menstrual e a menstruação em mais um espaço.
Você deve estar se perguntando: por que precisamos falar sobre isso? Espero que lendo este artigo e os próximos que virão, você passe a entender.
O que vem a sua mente quando ouve a palavra menstruação?
Certamente, uma grande maioria trará em sua resposta os mais diversos estigmas - infelizmente - em torno dessa manifestação natural, fisiológica dos corpos com útero. Estigmas esses, que fizeram da menstruação um defeito do corpo com útero, um inconveniente, algo sujo e desonroso, criando e fortalecendo ao longo dos séculos, os mais diversos tabus em torno do tema.
E o que isso tem a ver com a saúde da mente? Muita coisa! Não só com a saúde da mente, como a saúde física também. Mas hoje, vamos focar na saúde da mente, mais especificamente sobre a saúde da mente da mulher cis. Importante ressaltar que são diversos os corpos que menstruam, sendo importante também, ter um olhar diferenciado considerando-se as condições físicas, emocionais e econômicas das diferentes pessoas que menstruam.
Falar sobre a saúde da mente da mulher, se faz necessário ter um olhar para além do físico e do emocional. É preciso ter um olhar social também.
Na parte hormonal, ela vivencia mudanças ao longo da vida que são basicamente: a menarca, a adulta na fase fértil e a adulta em fase de menopausa. Essas mudanças acontecem em razão das alterações na produção hormonal que ocorrem em cada etapa da vida. Já os homens são os mesmos desde a juventude até a idade madura. Na questão social, existe uma construção patriarcal que determinou sub-papéis ao feminino, um processo de subjugamento, que distanciou a mulher de sua natureza feminina, a principal delas, o ciclo menstrual. Vemos então a importância de falar sobre a saúde da mente conectada ao ciclo menstrual, tanto numa perspectiva biológica, como numa perspectiva social.
A mulher pode apresentar um comportamento mais expansivo, motivado, em determinada fase do ciclo menstrual e outro mais introspectivo, angustiante e até mesmo, depressivo quando se encontra no seu período pré-menstrual, por exemplo. Isso se dá, pelos picos de alterações hormonais decorrentes de cada fase e não quer dizer, obrigatoriamente, que se encontra em um estado de depressão. Mas sim, um momento que requer mais atenção, recolhimento e acolhimento. Por outro lado, disfunções hormonais podem potencializar estados depressivos. Para além da importância da medicina estar atenta e aberta para um olhar diferenciado, fazendo uma avaliação mais profunda, humanizada, exclusivamente para aquela mulher, se faz mais importante ainda que a mulher tenha esse conhecimento para ter autonomia de questionar qualquer diagnóstico e indicação que possa vir de forma precipitada e muitas vezes, padronizada.
Além disso, as mulheres carregam dores, sombras, que são resultados de processos vivenciados ao longo da vida, muitas vezes causados pela estrutura patriarcal que citei, que as colocaram papéis sociais que as distanciam de sua natureza, fortalecendo a sobrecarga, a baixa autoestima, a culpa e a cobrança ao longo da vida.
E, segundo a psicanalista Barbara Black Koltuv*: o primeiro passo para esse processo de se ressignificar, é se conectar com o ciclo menstrual.
Esse “ressignificar”, será o tema do próximo artigo. Mas já te convido a refletir sobre como esse texto reverberou por aí.
*Barbara Black Koltuv é psiquiatra, doutora em Psicologia Clínica, pós doc em psicanálise e psicanalista junguiana pelo instituto C. G. Jung de NY, autora do livro “A Tecelã - Uma Jornada Iniciática Rumo à Individuação Feminina”
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Silvana Guerreiro
É ativista e terapeuta menstrual, incentivadora feminina, educadora física, empreendedora social e gestora de operações e finanças. Em 2020 fundou o negócio social Educadora Menstrual onde idealizou o Projeto EmanCicla, um trabalho de educação menstrual em escolas da rede pública e comunidades tradicionais, para adolescentes e jovens que menstruam.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.