Expressão e história LGBTQIA+ através da arte
Projeto fotográfico SOLUS, de Carol Rahal
Este projeto fotográfico teve início entre 2013 e 2015, e está sendo retomado neste ano de 2022, quase 07 anos depois, motivado pela minha história autobiográfica sobre a minha questão homossexual na juventude, as dores que passei na época por não me encaixar nos padrões e expectativas familiares e pelas questões ligadas às tradições religiosas, muito fortemente presentes em nossa cultura.
A CULPA / Solus de Carol Rahal
A partir de uma linguagem ficcional e onírica, este projeto aconteceu como um processo de autocura e uma possibilidade de sobrevivência em meio a esses meus desejos reprimidos. Portanto, são imagens que surgem como sonhos ou pesadelos que encantam e ao mesmo tempo assombram, imersas num universo simbólico.
"Solus", é uma palavra em latim que significa "estar só". A partir de uma encenação performática para a câmera, este trabalho busca trazer uma reflexão sobre as sensações de solidão, o enfrentamento da própria sombra e o retorno da própria jornada, dialogando com um sentimento profundo de não pertencimento, sobrevivência psicológica e uma busca solitária para a compreensão da verdadeira identidade.
A MENTIRA/ Solus de Carol Rahal
““Solus” nasceu da necessidade de eu encarar esta minha sombra, de eu me fortalecer em mim mesma, de não ser clandestina do meu próprio desejo.”
Hoje minha relação com meus pais é maravilhosa, mas eu precisei da arte e da terapia na época para “sobreviver” em mim, eu precisei passar por este processo para me fortalecer e me enxergar como uma pessoa que têm todo direito de ser feliz do jeito que quiser e amar quem quiser, pois isso era vital, é vital.
E todo ser que é privado disso, principalmente no seu núcleo familiar, seja pela rejeição, distanciamento, silêncio e/ou violência (das mais diversas) é privado também de ser protagonista da própria história, pois lhe dão somente a opção de viver na sombra do medo, da insegurança ou da culpa.
O EFÊMERO / Solus de Carol Rahal
Portanto, eu quis retomar este trabalho, quase 1 década depois, para sensibilizar por meio da arte, o que muitas vezes sentimos lá dentro, no silêncio da nossa solidão, quando nos deparamos isolados por simplesmente amar alguém do mesmo sexo. Este mesmo AMOR, que é pregado nas religiões e legiões de pessoas, que salva e cura a humanidade...
Pensando na nossa atual situação política, esta retomada do trabalho SOLUS também foi movida como um grito de BASTA, como gesto de acolhimento, em meio à tantas regressões de pautas importantes que estávamos avançando. Por isso, concordo quando Gilberto Gil disse que "é preciso colocar a cultura na cesta básica brasileira": ele sintetiza de forma extraordinária sobre a importância da cultura na formação da sociedade.
O MEDO / Solus de Carol Rahal
Sobre
Carol Rahal é atriz, fotógrafa e professora. Busca em seus trabalhos a experimentação do teatro, da fotografia e do cinema tanto na área da educação quanto na sua fotografia autoral. Suas inspirações estão no universo surrealista e ficcional, criando uma atmosfera mais subjetiva para abordar sobre a exploração do ser humano sobre si mesmo.
Em sua série "Solus" (2013-atual), reflete sobre a sensação do não pertencimento e a busca da própria identidade a partir da sua homossexualidade, já na série "Universos de Dentro" (2018) traz uma leitura poética da arquitetura das cidades e de seus sujeitos urbanos.
Seus últimos projetos são a série "Delicadeza Selvagem" (2020), projeto em parceria com a fotógrafa Sabrina Meira, sobre a tensão entre as vidas e mortes simbólicas que experimentamos ao longo da nossa existência, e "O que sobra" (2021-atual), que resgata fotos de arquivos e propõe a intersecção entre realidade e ficção a partir de vestígios autobiográficos.
Na área de educação, atualmente contribui como diretora criativa no "Instituto Bem do Estar", que promove a reflexão e ações preventivas sobre a saúde da mente, além de ministrar oficinas a partir da linguagem fotográfica e seus diálogos com as demais manifestações artísticas para jovens e adultos.
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Carol Rahal (ela/dela, mulher cis lésbica)
Artista, educadora e fotógrafa. Sou uma aprendiz fascinada pelos encontros e trocas de experiências com as pessoas. Sou também um labirinto que se revela aos poucos à medida que se vai adentrando nele. Desde pequena sempre gostei de inventar histórias, criar personagens e brincar de professora. Foi no teatro que descobri minhas habilidades artísticas, mas foi na sala de aula que compreendi a potência do conhecimento. Na busca de explorar meu olhar criativo, me apaixonei pela fotografia e fiz dela minha ferramenta de transformação.
Você acredita em vidas passadas?