Jogo de Palavras: Depoimento de Daniela Cais
A convite do Instituto Bem do Estar participei (ao lado da minha filha Letícia) da campanha Ser Mulher 2022.
A proposta foi reproduzir um jogo de palavras (confira no instagram do instituto), como fizemos no nosso livro - Gira, o livro. Confidências vividas e inventadas - mas, dessa vez, transformando nossas associações em vídeos curtos.
Dos vídeos, nasce esse texto, sob a minha perspectiva.
4 palavras apenas – Menstruação, Infância, Gestação e Menopausa. Na prática, 4 temas que atravessam as mulheres e se fundem (confundem) à condição feminina.
Mais uma vez me vi diante das minhas cicatrizes, relembrando a menina que fui e percebendo sua permanente presença em mim, ainda que eu seja séria, ela está aqui e me salva da desesperança quando me permite ser e sonhar com o mundo divertido, leve e pacífico.
A moleca que pedalava descalça e abria os braços e as pernas para mostrar destreza típica dos meninos, ou a criativa que transformava a sala em escritório, fingindo datilografar relatórios intermináveis como uma poderosa mulher de negócios, ou a terna mãezinha que embalava as bonecas e as colocava para dormir enfileiradas... Eu já me multiplicava.
A infância é o céu, infinito e etéreo, quando ela acaba, a gente não sabe mais nada.
Por volta dos 13 anos eu menstruei. Teoricamente sabia de todo o processo e das suas justificativas biológicas. Fui uma das últimas garotas da minha turma a ficar mocinha, como se dizia naquela época, e desde então eu aprendi que na teoria, a prática é diferente.
A minha menarca foi traumática. Daí em diante, mensalmente, eu me sentia desconfortável, insegura e nada satisfeita... eu sonhava em poder não sangrar definitivamente, com toda a ignorância que cabia nesse desejo.
Segui com essa ideia na cabeça.
Então, lá pelos 24 anos engravidei pela primeira vez. A gestação é uma experiência inexplicável e surpreendente. É um momento que a mulher experimenta sentimentos contraditórios como poder e fragilidade, ambos em situação vulnerável. O corpo se modifica com encanto e medo. Gerar outra pessoa é como revelar-se e ocultar-se, traduzindo uma beleza indizível: o big bang pessoal.
Passei por isso 2 vezes e, ainda assim, senti emoções de principiante. Nunca é igual. Sempre é muito diferente: o tempo, o corpo, a cabeça, o espírito, o mundo, os seres... tudo muda o tempo todo.
E, exercendo a minha pluralidade, eu desejei muito a menopausa e fui me gerando para renascer neste momento.
Uma alforria da menstruação? Também. Mas, o meu grito de liberdade é mais profundo, emerge uma necessidade de abandonar o que não foi bacana junto com a apropriação de tudo que me constitui, a despeito de agradar ou desagradar alguém.
A condição (limitante) da menopausa não me assusta porque eu entendo que meu corpo tem o valor que eu dou a ele.
Não preciso mais que digam que estou bonita, que acertei na escolha da roupa ou que disse belas palavras... não mais.
Minha voz diz o que sinto e eu procuro sempre dizer com honestidade, convicção e gentileza. Não sendo possível, adoto o silêncio que também é muito meu.
Nesta fase, eu choro menos. Choro com o que importa, verdadeiramente. Isto para mim é uma conquista, me sinto maior, mais segura, mais inteira...
Tem gente que olha meus cabelos brancos e se espanta, desgosta, desaprova. Eu amo tê-los, não é coragem, como ouço de algumas mulheres. É aceitação, liberdade, paz de espírito.
Não recomendo a ninguém que deixe brancos os fios, não levanto bandeira, não milito sobre a grisalhada. Sabe por quê? Porque é a natureza falando comigo, especialmente para mim: é a colheita da minha história.
Envelhecer não é uma operação matemática, não tem que ser igual para todas nós – esta sim é a minha bandeira: não tema e se reconheça em cada fase, nas palavras pronunciadas, nas memórias, nas infindas possibilidades de Ser Mulher.
Eu não tinha nada disso elaborado, embora tenha consciência do quanto essas palavras me pertencem, me honram e contribuem para minha (in)definição. Gratidão pelo convite, pela oportunidade e pela consideração.
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Daniela Cais
Mestre em Fonoaudiologia – Comunicação Profissional (PUC-SP), Consultora de Comunicação Corporativa, Palestrante, Mentora e Escritora.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.