Minha filha LGBTQIA+

Olá.

Me chamo Raimunda, sou filha, mãe, esposa, avó e amo todos meus papéis na vida.

Minha "Tchuca", como chamo minha querida filha, se descobriu, depois de adulta, bissexual; e confesso que senti muito no início, não pela escolha dela, pois depois de avaliar entendi aquela tristeza que via nela e não conseguia ajudá-la.

Ela era uma criança alegre, muito esperta, andou com sete meses, era a alegria da casa com seu dom artístico, cantava, contava história, sempre nos divertimos com os seus shows. Eu sempre quis ter uma menina e ela veio para completar nossa família. Hoje vejo que fui inexperiente e não fui capaz de ver o que estava acontecendo e nem dei o apoio que ela necessitava.

Na transição da puberdade, nossa Camilinha sempre tão festeira falante, foi ficando quietinha, calada, sozinha no quarto aos poucos foi ficando emburrada, não gostava mais da farra que sempre fizemos em família em casa, já não saia mas conosco. E eu fiz o que achava certo na época: deixá-la no tempo dela, e com isso fomos acostumando e pensando “ela é assim mesmo, gosta de ficar sossegada”.

Começou a namorar, ele era um bom rapaz, tivemos problema em lidar com isso, principalmente o pai, eu fui entender depois que era ciúmes dele, mas ela voltou a sorrir. E devido a uma atitude equivocada do pai, a qual fui conivente - que hoje tenho consciência que foi totalmente arbitrária - a  Camila foi ficando cada dia mais distante e tristonha. Bom, o tempo foi passando …. e eu comecei a notar que ela estava sempre com "as meninas" até brincava com ela " não encontrou nem um príncipe encantado?".

Ela nunca demonstrou nada que identificasse está sua escolha sexual* (não sei o modo correto de colocar, e vejo agora que isso é mais uma falha minha, bom sigo aprendendo)

Enfim, em um determinado momento comecei a desconfiar, pesquisei como descobrir, até que um dia resolvi perguntar (e como foi complicado para mim), usei a maneira que mais usamos hoje, mensagem, perguntei já com certeza da resposta, e foi um misto de sentimentos, eu sempre falei (erroneamente) que tinha "dó" das pessoas que se descobriram "diferentes". Tinha até uma frase pronta. "a vida já é cheia de dificuldades, para quem é "igual" a todos imagine quem é homossexual, não por preconceito, mas por já trabalhar e conhecer pessoas que enfrentam muitos obstáculos na vida pela sua opção sexual*. Mas foi vivendo como mãe de uma menina maravilhosa que tem sim uma opção sexual* diferente da maioria que entendi, isso é apenas um detalhe a pessoa é o que é, minha filha, minha Tchuca tão amada, é uma excelente filha, irmã, tia, uma pessoa cheia de amor para com o próximo e que nada mudou em sabermos a opção* dela, ela é um ser humano maravilhoso.

Bom, sei que levantei a cabeça e entendi que isso não muda nada em nossas vidas, a não ser por um detalhe, sou mais feliz, por ela ser esta pessoa forte, determinada que mostra para sociedade que a preferência sexual* de uma pessoa não a define e sim o caráter dela.

Tenho muito amor e orgulho por ela ser minha filha.

Nós familiares que conhecemos nosso ente querido e sabemos seu valor como pessoa, precisamos mostrar a sociedade que somos todos diferentes, somos semelhantes como ser humano, mas cada um ser único, não devemos tentar se igualar ao outro, devemos nos aceitar como somos e aceitar o outro, o respeito às diversidades, deixa o mundo melhor.

Acolham seus filhos aceitando-os como são, dê seu amor e respeito e o entorno o dará também. Ele se sentirá forte aceito e amado preparado para seguir em frente.

Eu sou uma pessoa espiritualista, acredito numa força maior que emana amor e deseja que todos se respeitem e amem uns aos outros. 

*orientação sexual seria a expressão adequada.

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