Ser LGBTQIAPN+ | "Foi suicidado" não é um erro gramatical; representa o grito indignado da comunidade LGBTI+
Os problemas de violência estrutural, discriminação e exclusão social enfrentados por pessoas LGBTI+ têm um impacto significativo na saúde mental desses indivíduos. A constante exposição a violências verbais, psicológicas, físicas e sexuais pode causar traumas psicológicos profundos, resultando em ansiedade, depressão, transtorno de estresse pós-traumático e outros distúrbios psiquiátricos.
A vivência diária da LGBTI+fobia e as dificuldades de acesso aos serviços de saúde mental, especialmente durante a pandemia, foram descritas como desesperadoras para essa comunidade. Um exemplo mencionado foi o suicídio de Demétrio Campos, um jovem negro trans, cuja mãe relatou que ele enfrentou racismo e transfobia, levando-o a um quadro de depressão.
A expressão "foi suicidado" foi utilizada por líderes LGBTI+ para destacar a falta de apoio do Estado.
Essas tragédias refletem as múltiplas formas de violência e discriminação enfrentadas diariamente pelas pessoas trans no Brasil. Os desafios relacionados à saúde mental dessa comunidade já existiam antes da pandemia, mas foram agravados durante esse período difícil.
Para a professora de psicologia e PhD Jaqueline Gomes de Jesus, essa violência não é apenas resultado de ações individuais, mas sim de sistemas sociais, políticos e jurídicos que perpetuam a discriminação e a exclusão. Normas culturais e sociais que promovem ideias de gênero binário e cisnormatividade contribuem para essa violência, marginalizando identidades de gênero não conformes. Além disso, as instituições governamentais muitas vezes falham em proteger os direitos das pessoas transgêneros e em implementar políticas inclusivas que reconheçam sua identidade de gênero.
Na minha experiência liderando grupos, percebo um adoecimento mental muito grande entre as pessoas participantes, e, em parte, esse processo tem relação direta com o preconceito e a violência vivida no dia a dia por elas, ou seja, está relacionado ao estresse de minorias. Claro que os participantes que se envolvem aprendem e desenvolvem uma mentalidade empreendedora que os torna protagonistas do seu processo de inclusão e ascensão social, mas não podemos ignorar os desafios a serem vencidos e o fato de nem todos conseguirem.
Acredito, firmemente, que a educação quando aplicada em projetos de impacto – dentro de organizações de ensino ou de trabalho, levando essas características em consideração – tem o poder de ser um catalisador de mudanças. Mas, ela depende totalmente dos indivíduos atuantes: o próprio sujeito, os professores/lideranças e a sociedade como um todo.
Ou seja, trabalhamos nas ações de inclusão e de impacto social com o objetivo de reduzir o estresse de minorias, os problemas de violência estrutural e a exclusão. Porém, existem metas e objetivos para serem trabalhados por todas as partes, ou seja, pelos diferentes atores sociais.
Para superar posturas passivas e limitações que impedem a plena vivência da identidade de gênero e de outros aspectos da vida cotidiana, é fundamental, por exemplo, a terapia aliada a intervenções que promovam o empoderamento. É necessário desconstruir estigmas sobre a transgeneridade, abordar a construção social dos papéis de gênero e buscar redes de apoio, mesmo que não familiares, em sessões terapêuticas.
À medida que avançamos, é crucial não apenas reconhecer os vieses inconscientes que permeiam nossa sociedade, mas também agir de forma decisiva para desmantelar as estruturas que os perpetuam. A educação, quando aplicada de maneira inclusiva e consciente, tem o poder de ser um catalisador de mudança, criando um futuro em que a diversidade é não apenas aceita, mas celebrada e valorizada.