20 de Novembro - Saúde mental de Nós para Nós
O dia 20 de novembro, como o Dia Nacional da Consciência Negra em referência a morte de Zumbi dos Palmares, nasceu dos esforços de diversos movimentos pretos brasileiros representados pelo Movimento Negro Unificado (MNU) há algumas décadas atrás, a fim de reivindicar e evidenciar o reconhecimento da contribuição da população afro-brasileira na cultura e no desenvolvimento desse país. Além de posicionar a população sobre a luta pela igualdade de direitos, por dignidade, trabalho, estudo, lazer, acesso, combate à violência e erradicação do racismo.
Diminuir então os resquícios do sofrimento e dos atrasos que os nossos ancestrais negros viveram integralmente com a escravização, permanece um grande desafio, dar fim aos danos que a falsa “liberdade” promovida pela Lei Áurea provocou e acabar com mito da democracia racial que nos impediu de cortar as raízes dos problemas e fez manutenção dos atrasos na sociedade brasileira através do racismo atitudinal e estrutural, não pode deixar de passar pela ampliação da busca e do acesso a saúde mental. É evidente que na sociedade brasileira além de todas as violências que uma pessoa negra sofre, a falta de acesso ainda é uma das mais agressivas e atravessantes. Esta é justamente a maneira mais eficiente de barrar o desenvolvimento da população que por tantas demandas e estigmas não consegue acessar massivamente os serviços em psicologia e psiquiatria.
Pensando no contexto social de raça e classe, a psicoterapia e o atendimento clínico em psiquiatria são especialidades que ainda estão gentrificadas e elitizadas, o que significa que quando existe o acesso por pessoas não brancas, as chances de encontrar profissionais que não buscam esse repertório e não compreendem clinicamente e socialmente as demandas do preconceito racial na pisque são grandes apesar do respeito à subjetividade ser uma premissa de qualquer profissional da saúde. Claro, é uma questão que apresento para se refletir e mudar tal realidade, mas que não pode nos impedir de apresentar nossas questões enquanto negros e negras para pessoas brancas, muito pelo contrário, devemos sempre sinalizar.
Mas falando em saúde mental da população negra, é fácil de compreender que são as pessoas mais vulneráveis a ter sua autoestima diminuída por fatores externos, o “se ver" e o “ser no mundo”, ou seja, o senso de pertencimento, os valores e crenças são marcados pela falta de representatividade preta, desvalorização ou apropriação da sua estética e de suas potencialidades intelectuais e culturais. A desinformação e falta de oportunidade de letramento somam-se a esse espectro de fatores que acaba fazendo com que as necessidades básicas sejam negadas e que a violência e o desrespeito possam protagonizar, principalmente, parte da infância e juventude, mas também de toda a vida adulta.
Nas favelas, quilombos, nas comunidades brasileiras e nos grandes centros urbanos as heranças dessa desigualdade e do atual descaso ainda está levando a nossa população negra a desenvolver diversas psicopatologias por disparadores sociais. Então a nossa missão, além do óbvio que é conscientizar a população da importância de reivindicar saúde como um direito, é sinalizar a responsabilidade do poder público com relação às políticas públicas que afetam as pessoas negras diretamente, mas não deixar de incentivar a busca individualmente ao serviço de saúde mental especializado para lidar com essas violências densas, cerceadas pelas cansativas lutas ancestrais que nossa comunidade herda.
Nós, pessoas negras, lutamos diariamente por nosso espaço, pela nossa sobrevivência de forma digna, estamos sempre superando conjuntamente o preconceito de classe e o racismo que ainda persiste apesar dos avanços alcançados. Então, buscar a saúde mental para as demandas específicas da nossa vivência com profissionais, que fazem parte da população negra, é uma das possibilidades que podem contribuir para o nosso processo de cura, buscar se cercar de pessoas negras nos ciclos também contribuem para a possibilidade de se ver no mundo, dividir angústias e outras similaridades.
Quando oportuno, procurar profissionais negros não caracteriza desvalorização dos outros profissionais, nem se deve descartar completamente a possibilidade de atendimento por pessoas não brancas, mas simboliza o nosso fortalecimento coletivo, além de maximizar as chances de um acolhimento mais eficiente e específico. O incentivo e a busca por saúde mental fazem parte da nossa luta e resistência, reafirmam para a sociedade brasileira a importância da formação para a população negra brasileira, e resultam na conscientização que leva a autodeclaração, a reafirmação da própria identidade, enriquecendo assim um importante ciclo mental consciente e inconsciente que cria formas mais efetivas para quem é atravessado pelo racismo como ferramentas de enfrentamento, pensamentos funcionais e blindagem.
Todos os recursos e dispositivos disponíveis nós merecemos e é nosso direito: ter acesso à saúde mental é nosso direito, buscar o equilíbrio não é superficial para quem herdou e vive dores tão profundas. Também vivemos para sermos respeitados e felizes, participar de ações que são de nós para nós fornecem conforto, e conforto promove cura.
Viva Zumbi! Faça terapia!
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João Vitor Borges
Psicólogo Clínico e Social. Escreve textos e reflexões gerais com ênfase em comportamento social e saúde mental.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.