Mudanças climáticas, existência e saúde mental
O ecossistema que nos rodeia, o ambiente em que vivemos, influenciam diretamente nossa saúde. Sem nenhum exagero, se nosso planeta não tivesse exatamente as condições atuais de temperatura, pressão, umidade, entre outras milhares de variáveis, seria impossível viver aqui. Da mesma forma, se apenas alguns dos milhares de fatores necessários para a manutenção da vida na Terra mudarem, não estaremos mais aqui. Pelo menos não da forma que conhecemos hoje. Essa modificação das variáveis do ambiente que nos rodeia é uma das formas de entendermos o que chamamos de mudanças climáticas.
Diversas alterações já estão ocorrendo no nosso ecossistema e, infelizmente, a maioria delas são causadas por intervenções nossas, dos seres humanos. Nós fazemos parte desse micro e macroambientes complexos. Não o controlamos nem somos “superiores”, como muitas vezes parece ser. Estamos todos interligados. Então, o debate sobre as mudanças climáticas e o impacto que elas causam nas nossas vidas deve ser uma prioridade e ignorá-lo só trará mais dificuldades e sofrimentos.
Já estamos sofrendo muito pelas transformações do ambiente.
Dentre vários fatores, a saúde mental é uma das principais causas desse sofrimento. Basta olharmos para alguns exemplos das devastações que as mudanças climáticas já vêm causando para entender essa relação:
Chuvas desproporcionais e inesperadas: atingem moradias deixando muitos desabrigados; destroem plantações diminuindo a oferta de alimentos e gerando problemas financeiros; causam deslizamentos e alagamentos, trazendo perdas de vidas e patrimoniais.
Aumento da temperatura média do planeta: causa a morte de diversos seres vivos mais vulneráveis essenciais para a manutenção da vida no planeta; aumenta o derretimento dos polos inundando áreas próximas a rios e mares, afetando moradias, plantações, infraestrutura; influenciam na temperatura dos oceanos que promovem mais alterações nos ecossistemas.
Secas prolongadas: interferem diretamente nas plantações e fornecimento de alimentos; dificultam a vida rural pelo baixo desempenho financeiro de safras e criação de animais; queimadas devastando a fauna e a flora; aumento do êxodo rural, aumentando a concentração da população urbana.
Estes são alguns exemplos em como as mudanças climáticas afetam diretamente fatores essenciais para uma vida de qualidade e com boa saúde mental. A moradia é muito importante para trazer sentimentos de segurança, proteção, privacidade e intimidade. O trabalho é fundamental para a obtenção de estabilidade financeira, propósito de vida e abastecimento de alimentos a toda a população. A perda de plantações e safras inteiras levam a fome, desemprego, violência. O comprometimento da infraestrutura pode trazer prejuízos em saneamento básico, assistência à saúde e educação, mais desemprego e crise financeira. As populações rurais são obrigadas a mudarem para as cidades, levando a superlotação urbana, mais problemas de saúde, trabalho, moradia, violência entre outros.
Nessas condições é impossível viver bem. Elas atingem a base das necessidades humanas, que todas as pessoas deveriam ter o direito de usufruir. Assim há claro aumento do desenvolvimento de todas as doenças mentais, principalmente depressão, ansiedade, dependência, traumas, estresse pós-traumático, surto psicótico e suicídio. Fica então evidente como as mudanças climáticas afetam de forma fundamental a saúde mental.
Infelizmente, na maioria das vezes, as populações mais atingidas são aquelas com maior vulnerabilidade, com poucos recursos para enfrentarem desastres naturais ou darem acesso adequado à saúde, alimentação, trabalho, educação, o que piora ainda mais as condições para uma saúde mental equilibrada. Geralmente essas populações são as que mais participam da conservação do meio ambiente e que nos protegem das mudanças climáticas, como as populações tradicionais. Isso torna a situação ainda mais dramática.
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Dr Ricardo Jonathan Feldman
Psiquiatra no Centro Feldman de Saúde, fundada em 2012, no Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), no Residencial Israelita Albert Einstein e professor na Pós-Graduação de Psiquiatria do HIAE, atua no diagnóstico, tratamento e ensino dos diversos transtornos psiquiátricos, focando na melhora da qualidade de vida, da sensação de bem-estar e do equilíbrio físico, mental, social e espiritual.
A Psicologia Positiva surge como uma abordagem essencial para a prevenção de transtornos mentais, especialmente em tempos em que a saúde mental é um desafio crescente na sociedade contemporânea. Fundamentada por Martin Seligman, essa área da psicologia transcende o tratamento das patologias e promove o florescimento humano por meio do fortalecimento do bem-estar, da resiliência e de relações positivas.