Estar na Pele da Andrea: Página 06
Nesse mês reservado para falar sobre a prevenção do suicídio gostaria de incluir no meu diário Estar na Pele um episódio que aconteceu comigo.
Eu lutei contra a minha depressão, mais de 10 anos, alguns desses anos sem realmente saber que estava deprimida e que meu caso era algo que um médico pudesse me ajudar.
Hoje tenho muito mais consciência, pois busquei informação, estudei e principalmente tive ajuda médica para sair do estágio mais pesado da depressão.
“Mas tudo isso foi possível porque eu tinha e tenho pessoas que me amam ao redor de mim.”
Em um dos momentos mais fortes de uma crise minha, eu tive alguém procurando por mim e querendo saber como eu estava.
Não lembro ao certo o mês. Mas não tinha muito tempo que havíamos mudando de província aqui no Canadá, onde eu moro.
E não era um tempo difícil não. Falo isso até para entenderem que a depressão não existe somente para aqueles que enfrentam algum problema externo ou algum trauma. A depressão acontece por vários fatores.
Enfim, eu não estava nada bem. E já tinha um tempo também que eu trabalhava de casa, sendo assim, passando a maior parte do tempo sozinha.
Com as crianças na escola, o marido no trabalho, eu passava boa parte do dia no meu home office cuidando da minha própria empresa, junto com a minha irmã que trabalha comigo a distância de outra cidade.
Um certo dia essa sensação ruim aumentou. Era uma dor mental, se assim eu posso descrever, onde nada melhora. E seu corpo já não responde tão bem. Eu não tinha força para me animar sozinha. Mas eu tinha tudo programado.
Eu pensava comigo mesma: vou dormir só enquanto eles (as crianças e o marido) estão fora, quando chegarem em casa, eu lavo o rosto e abro aquele sorriso e mostro que está tudo bem. Nada diferente do que eu já estava fazendo nos últimos dias.
Só que dessa vez eu dormi demais. Era um cansaço físico e mental que eu não tinha força para sair da cama. E ali fiquei. Chorava, dormia e assim foi por algumas horas.
Até que consegui pegar meu celular e ver que tinha milhões de ligações perdidas. Consegui atender a chamada da minha irmã que estava super preocupada, pois ela e meu marido estavam já a algum tempo tentando me encontrar para saber de mim.
Estavam os dois assustados, imaginando o pior, sem ter notícias minhas.
“E então minha irmã me falou: Se você não quer ir ao médico por você, vá pelos seus filhos, pelo seu marido, por todos nós.”
Encontrei forças e fui direto à clínica médica que fica muito perto da minha casa. A médica foi super querida, me receitou remédio para me acalmar e para ajudar com meu quadro depressivo. Chegou até a me ligar no dia seguinte para saber se eu tinha melhorado.
E com essa ajuda eu consegui desafogar, eu consegui voltar a ver a vida. Não, ainda não estava bem. Mas já estava melhor.
Sou muito grata por dizer que foi meu último episódio forte de depressão, pois com a cabeça um pouco melhor eu decidi que queria viver diferente, que eu estava cansada de estar cansada e triste. E por favor, não tem nada a ver com o que se passava na minha vida. Pois a pior coisa que você pode falar para alguém deprimido é: “Você tem tudo na vida! Está triste por quê?”
A pessoa deprimida já tem culpa mais do que suficiente dentro dela. Ela não precisa de mais. O que ela precisa é de um “empurrão” para buscar ajuda médica. É de saber que tem alguém que se importe com ela. Mesmo que pareça que ela não quer sua ajuda.
“Sou grata por ter escolhido a vida. Escolhido entender o que se passa comigo e trabalhar nisso.”
Saiba que você pode salvar vidas! Você pode ajudar alguém hoje. Aja! Faça alguma coisa agora com aquela pessoa que você tem em mente. E se for por você, saiba que não está sozinho. Isso é temporário, você vai sair dessa. Só precisa de um pequeno esforço de cada vez.
Com carinho,
Déa Britto
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Andrea Britto
Brasileira-Canadense, mãe, esposa, filha, irmã, amiga, empreendedora e apresentadora do podcast Dose de Energia. Apaixonada por desenvolvimento pessoal, tenho como objetivo de vida espalhar pelo mundo mensagens de inspiração, conhecimento e consciência sobre nossas mudanças e desafios. Acredito muito nas pessoas e que todos nós oferecemos o melhor que temos no momento em que estamos e, por isso, podemos sempre evoluir e então inspirar aqueles que nos observam - buscando assim um mundo melhor.
Apenas um desabafo criativo de um escritor frustrado, na perspectiva de seu eu lírico