Estar na Pele da Bruli: Página 09
“O desabafo pode nos fazer encontrar caminhos”
Eu seria muito, muito hipócrita se eu abrisse esse texto sem dizer que eu já pensei em me matar! É muito íntimo e particular pra mim confessar isso, mas eu não consigo tocar em assuntos que eu vou abordar sem ser minimamente sincera. E eu não quero que minhas amigas que leem meus textos fiquem preocupadas comigo!
Significa que esse assunto já está um pouco mais maduro e que é hora de falar abertamente. Eu também não quero apelar aqui para religiões ou deuses, porque nem todo mundo vai acreditar em algo espiritual, e às vezes acho que argumentar através de um dogma ou culto, não me parece um caminho muito saudável… eu não gosto de sugestionar nem lobotomizar as pessoas. A vida por si só pode fazer sentido dentro de cada indivíduo, e eu acredito nas pessoas e na força que nos move enquanto seres humanos ou meros quebra-cabecinhas dentro dessa realidade em que vivemos. É tudo muito delicado, subjetivo, complexo e singular, e eu só consigo falar a partir das minhas experiências…
Bora lá, depois me muita análise e de procurar ajuda na terapia, fui entendendo que o que eu queria matar em mim era uma versão que já não fazia mais sentido; embebida da densidade de perceber que as personas que eu vivia, já não performavam mais a verdade na minha vida.
E eu vejo que sempre vai existir uma outra forma de responder a essa angústia sem que seja remover a minha própria vida e interromper o fluxo. Pra mim, e de novo: isso é muito singular - esses momentos delicados e complexos me apresentam que é hora de deixar a casca antiga e deixar uma nova emergir.
Eu sei que às vezes o vazio existencial chega batendo muito forte, a depressão nos olha no olho e mais um monte de questionamentos passam pela nossa cabeça. E não tem nada de errado com você ou com os momentos desafiantes que vivemos em determinados momentos da vida, mas eu acredito que esses lugares podem ser como uma pepita bruta de ouro. E podemos nos investigar com sinceridade no âmago do nosso ser para lapidar essa jóia rara que entramos. É natural que a gente, enquanto humanidade se sinta assim, afinal estamos aqui no planeta terra sem um mísero manual sobre como viver e como é ser um ser humano… Não há nada de errado, pecado ou culpa no que você está sentindo. Mas sobretudo por mais que pareça clichê, dentro da gente existem motivações que vão nos inclinando a encontrar algum sentido na vida, mesmo que sejam pequenas motivações - elas são reais pra você, podem te nutrir em algum lugar, e isso basta. Tem de haver em algum lugar um tesão, uma paixão, um conforto e uma vontade de decifrar e viver a vida que é só sua. Única e intransferível!
E vale contar com pessoas próximas que você minimamente confie e que sejam importantes pra você desabafar e contar sobre esses lugares escombrosos e desconfortáveis que você se encontra. Nem todo mundo gosta de ouvir ou acolher o desconforto de um pensamento de alguém que quer se matar, porque a sociedade enxerga que falar abertamente de suicídio é um tabu. Eles acreditam que é melhor abafar o assunto, colocar embaixo do tapete… mas enquanto isso, pessoas estão achando que existe algo de errado com elas, se fecham, não buscam ajuda e acabam aniquilando sua própria vida.
Eu confio que é muito importante desabafar e dar o primeiro passo de pedir socorro, de colocar pra fora, saber que não tem nada de errado em falar sobre esses pensamentos e se questionar. Isso vai ajudando a gente a se entender, se ouvir e sair do barulho interno que entramos. Por mais que nessas horas queiramos ficar sozinhas, escondidas nos escombros mentais, debaixo de cobertas e, se pudesse, até com uma capa da invisibilidade ou extremamente codificadas… Só que, pode acreditar, dentro de você existe uma chama que pulsa e ainda acredita que a vida pode valer a pena. Saiba que a impermanência é uma lei universal e qualquer que seja a situação que você esteja vivendo, por mais desafiante, aterrorizante, assustadora, ela não representa você por inteira! Com certeza você já foi feliz em algum momento da sua vida e ele passou, não passou?! A sua angústia também vai passar. Ela não vai ficar pra sempre com você, mesmo que seja um processo letárgico.
Os momentos de realização que vivemos na vida, são uma espécie de tesouro secreto que só você vivenciou e mais ninguém. A sua vida é um acordo valiosíssimo que faz parte de todo um organograma dessa existência. A mesma força que abre uma flor pela manhã é a mesma força que quer te ver se sentindo realizada também. Eu coloco aqui o meu apelo para que você dê algum sinal para alguém que você confie. E se não tiver ninguém, pode me mandar um email desabafando que vamos juntas tentar encontrar o próximo passo e uma ajuda para você.
Meu email é criaturadeconteudo@substack.com e é óbvio que eu não sou uma profissional, mas sei que muitas vezes pode ser difícil pedir ajuda para quem conhecemos… e eu acredito que me colocar como um canal disponível, também me ajuda a honrar o compromisso que fiz e faço com a minha vida. Sair de mim mesma, do meu próprio umbigo é uma ótima ferramenta pra mim. É como fazer o mínimo de um movimento para retribuir os novos ventos que me livraram de cometer um ato comigo mesma. É como se você lançasse uma pedrinha num lago e fizesse com que ela reverberasse em algumas ondas de sinais de ajuda e apoio no universo.
Eu imagino que em algum lugar, mesmo que inconscientemente, a maioria das pessoas já pensaram em se matar, mas há diferença entre pensar e realizar o ato é o que nos difere e nos torna seres humanos que estão pulsando no jogo da vida. Por isso que é importantíssimo falarmos sobre a prevenção ao suicídio, ainda há tempo de reverter os quadros de alguém que está achando que não há caminho. Eu já vivi o luto de duas amigas que se foram por conta de suicídio, eu já chorei muito por elas e por mim também. Eu sei que elas estavam vivendo momentos muito desafiantes. Eu não as julgo, mas confio que em algum lugar exista motivos para estarmos vivos nessa dimensão, nem que seja um motivo aleatório. Mas existe! Não desista de ser você mesma!
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Bruli Maria
Se declara uma cuidadora do planeta, apaixonada por gatos e multi-artista, trabalha como: atriz, dj, modelo, taróloga, micro-influenciadora e terapeuta; e agora se aventura no universo da escrita também por aqui. Mora na mata atlântica de Nazaré Paulista, o que a permite uma escuta profunda com a vida e com a natureza.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.