Estar na Pele da Bruli: Página 15
Você acredita em vidas passadas?
[tem uma palavra em coreano “in-yun”, quer dizer “providência” ou “destino”. mas se refere especificamente a relacionamentos entre pessoas. acho que vem do budismo, e da reencarnação. o “in-yun” acontece até quando você passa por alguém na rua e suas roupas esbarram sem querer. significa que alguma coisa aconteceu entre vocês em vidas passadas. se duas pessoas se casam, dizem que é porque houve 8 mil camadas de “in-yun”, mais de 8 mil vidas.]
É assim que Nora explica para seu marido um dos fenômenos que embarcam o roteiro de “vidas passadas”, filme que assisti, fiquei embasbacada e totalmente dentro da história. Um filme lindo e sutil, desses que você consegue respirar e se encontrar ali. Antigamente eu não curtia muito obras audiovisuais mais meditativas ou contemplativas, hoje em dia eu fujo dos blockbuster que tentam te prender a todo custo e a todo instante presos na tela. Gosto desses filmes que dá pra ser você mesma e respirar enquanto assiste. Vidas passadas é coreano, escrito, dirigido por Celine Song e inspirado na sua história de vida; é um bálsamo para os corações. Narra a história de uma menina chamada Nora e Hae Sung que se conhecem, se apaixonam na infância e juram se casar quando mais velhos. Tempos depois, e já bem diferentes da versão de si que um havia conhecido do outro, eles se reencontram, por um feito do destino ou não. Ela já está casada, e os personagens são confrontados por providência a fazer suas escolhas por o que poderia ser ou aceitar a vida como ela é!
Há um outro mini documentário (The Egg - A Short Story) que eu gosto muito e costumo enviar pra pessoas queridas no dia do aniversário. Chama-se “The egg”e fala algo que eu acredito muito mais do que vidas passadas ou vidas futuras… que é o babado de que o tempo não é algo linear, e as fronteiras de vidas e arquétipos que vivemos se entrelaçam num grande filete de manifestações que acontecem simultaneamente no mesmo instante; que só temos ESSE instante, que somos um grande organograma e tudo está conectado.
Isso é muito mais não dual e mais simples, apesar de parecer complexo na teoria. Mas quando se vive isso em alguns instantes é impossível não fazer sentido. Até pelo próprio lance de que essa ideia não se prende a nenhuma historinha ou promessa de garantir ou conquistar algo futuro, mas se liga ao próprio fluxo de existência do aqui e agora, que talvez seja a única coisa que consigamos garantir mesmo. Até o “eu” não se pode garantir, cara leitora.
Até que se prove o contrário, nem nós existimos!
É tudo parte de um grande sonho coletivo chancelado pelo pobre do eu que acredita e faz de tudo, e mais um pouco, pra se garantir existente.
Mas você percebe que existem vários eus novos sendo co-criados e destrinchados dentro de si mesma? Que nada é fixo, nem permanente e que estamos sendo convidados ou forçados o tempo todo a desbravar um novo parâmetro de qual dessas versões está se manifestando em cada instante.
Agora, pra fechar, sendo bem advogadona do diabo, essa é a única vida que podemos garantir, e tudo o que sabemos é que somos o próprio manifesto, que devíamos estar exatamente aonde estamos! E fazer a vida valer a pena, ESSA, do jeito que ela se apresenta. Mas confesso que acho bonito esses conceitos ou sabedorias antigas de vidas passadas que se apresentam e trazem uma espécie de conforto pra gente. Eu lembro o quanto chorei assistindo “Alma Gêmea” ou lendo “Violetas na janela”.
O que se sabe é estamos vivendo numa nave que tá girando junto de outras naves estelares universo a fora na imensidão infinita, é que é bom ter um quentinho muitas vezes. Mesmo que depois a gente se desapegue do que não serve mais. E o que é, continua sendo um grande mistério.
Há muita beleza nisso!
***
Bruli Maria
Se declara uma cuidadora do planeta, apaixonada por gatos e multi-artista, trabalha como: atriz, dj, modelo, taróloga, micro-influenciadora e terapeuta; e agora se aventura no universo da escrita também por aqui. Mora na mata atlântica de Nazaré Paulista, o que a permite uma escuta profunda com a vida e com a natureza.
****
*As opiniões expressas na coluna Estar na Pele não refletem diretamente as posições editoriais do Instituto Bem do Estar, são baseadas nas experiências dos colunistas e suas versões do fato, sendo a ideia da coluna um diário aberto onde autores podem expressar suas experiências de forma genuína se aproximando dos leitores.
Não hesite em procurar ajuda profissional, sofrimento emocional não é normal e você não precisa passar por isso sozinho:
como falar sobre saúde mental quando a pessoa que vos escreve é caótica e doidona? talvez assumindo essa faceta no mundo mesmo!