Estar na Pele da Joice: Página 01
Aqui nós estamos
Às vezes, eu gosto de pensar sobre o tempo. Nas lembranças como um todo. É claro que tomo cuidado para não viver tanto no passado e esquecer da minha presença no tão conhecido presente. Mas é como se, em alguns momentos, eu buscasse entender a minha caminhada.
Vagamente, com o que me vem em mente, vou brincando de ligar os pontos, criando, assim, uma conexão entre passado-presente. Nessa brincadeira, digamos assim, lembrei de um momento interessante e que vivi ainda no mundo corporativo.
A cada ano ou semestre, não me lembro bem, a área em que eu trabalhava se reunia para uma espécie de celebração e alinhamento das metas. Esse sempre era um momento especial. Eram dois dias inteiros e distantes das atividades diárias e corriqueiras, apenas conversas, dinâmicas e palestras.
Eu sempre morei distante do escritório, mas isso nunca foi um problema. Me organizava para chegar até antes do esperado.
No tão aguardado dia 1 do encontro, lembro de acordar, tomar banho, abrir o computador, trabalhar um pouco e, na sequência, me organizar para pedir um Uber. Na minha mente, estava tudo calculado. Eu chegaria em tempo.
Acontece que eu não cheguei a tempo. O motorista pegou um caminho totalmente diferente e, aos poucos, apesar de ser calma, fui ficando um pouco impaciente, angustiada. Ele percebeu e tentou me explicar que essas coisas acontecem. Eu compreendi e não o culpei em nenhum momento. De fato, isso pode acontecer com todo mundo. A real é que não temos controle, só achamos que temos.
Entre mensagens de pessoas querendo saber se eu estava chegando, o relógio continuava. Cá entre nós, eu atrasei quase duas horas. Começaram sem mim (e ok). Mas lembro de um olhar estremecido e chateado de uma das pessoas que eu mais admirava. E eu, imediatamente, me culpei por isso.
O dia estava, teoricamente, só começando. No entanto, obviamente eu não aproveitei nenhum momento, estava tão focada em me culpar e preocupada com o que pensariam de mim.
Naquele mesmo dia, um profissional sênior compartilhou com a pessoa responsável pela área que eu trabalhava um texto que eu tinha proposto para uma determinada divulgação. Eu nunca soube ao certo do que se tratava, mas sabia que ele tinha falado algo do tipo: “Não está bem escrito. Cheio de erros”.
Este foi o único momento que parei de me culpar pelo atraso. Afinal, estava eu ali me culpando sobre o texto. Sobre os erros que eu, de acordo com ele, cometi. Sobre errar. Relembrei, inclusive, de um erro anterior - que, por falta de atenção ou sobrecarga, deixei passar.
No final do dia, eu só queria desligar. No dia seguinte, eu só queria chegar em casa.
Hoje, olhando com um pouco mais de calma, eu tenho reflexões diferentes - penso que eu já estava cansada, tenho até um pouco mais de empatia com o momento que eu estava vivendo. Mas este é um outro tema, uma outra conversa.
Por fim, o dia 2 do tal encontro acabou. Com o que sobrou de mim, pedi um táxi para ir embora. Em São Paulo, umas 19 horas, o trânsito era intenso. Abri o meu celular para tentar escrever tudo o que eu estava sentindo. A única coisa que eu pensava era: será que eu devo escrever?
A minha insegurança era tanta que, por alguns minutos, duvidei da minha capacidade. Questionei a minha vivência, as minhas experiências. Eu resumi a minha pessoa em duas situações que não, não dizem muito sobre mim, mas sobre o que é a vida.
Eu nunca falei tão abertamente sobre esses dias, sobre esses sentimentos. Inclusive, escrevo, hoje, com uma certa emoção.
Cuide-se e não seja tão cruel com você. Aqui nós estamos.
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Joice
Tia da Duda e da Ana, comunicóloga, relações públicas por formação, ama fotografar pessoas e plantas, escreve para se encontrar e é uma mulher em busca de sanidade há muitos anos. Acredita no poder das pequenas e boas ações e que o amor é a chave para um mundo melhor.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.