Estar na Pele da Joice: Página 02

Cuide-se, mas também tenha uma rede de apoio

Uma vez eu escutei que nós não precisamos de muitas pessoas, mas das pessoas certas. Também me disseram que quantidade não necessariamente é qualidade. Ambas frases estão conectadas, se você parar e ler com calma. 

Mas é claro que não aprendemos isso do dia para noite. É com o tempo. É quando, de uma certa forma, precisamos de alguém do nosso lado, às vezes só marcando aquela presença acolhedora. 

A vida também é feita de ciclos. Algumas pessoas chegam, revolucionam - em um sentido positivo -, mas depois seguem a sua jornada. Você, provavelmente, já entrou na vida de alguém, mas não permaneceu. Nós temos os nossos motivos. 

O ponto é: no fundo, sabemos quem está, de fato, com a gente. Isso é tão intrínseco e único dentro de cada um de nós. Abrindo um parênteses, às vezes nós nos surpreendemos e descobrimos que aquele amigo ou amiga não era tão legal assim, coisas da vida. 

De qualquer forma, para não fugir do tema, é importante ter a sua pessoa, como Meredith Grey (Greys Anatomy, desculpe) e Cristina Yang - ambas se chamavam assim, de minha pessoa - my person, em inglês.

Por esses dias, sem perceber, eu tive a minha pessoa em uma situação um tanto quanto pessoal. Eu não sei contar histórias pela metade, então vou precisar voltar 04 anos. 

Em 2018, ano em que eu estava finalizando a minha faculdade, decidi, aos 22 anos, que iria tirar, finalmente, a minha CNH. Cá entre nós, sempre rolou uma certa pressão interna aqui em casa do tipo: “E aí, quando você vai tirar carta?”.

Eu nunca me senti psicologicamente preparada, mas com uma certa dose de coragem entendi que, talvez, aquele fosse o momento. 

É interessante como o sistema não é tão funcional. São várias as etapas para você conseguir tirar a sua carteira de habilitação. Primeiro, você vai até a escola que escolheu para tirar sua carta, depois te encaminham para um exame médico e um psicotécnico. Depois, se tudo der certo nessas etapas, você começa o CFC, um curso no Centro de Formação para Condutores. 

Após alguns dias, você faz uma prova teórica. Passando, você vai para as aulas práticas. E aí começa o meu dilema. Não consegui um bom instrutor, mas também não tive voz para falar isso na época. Obviamente, não tive um bom aprendizado, além de todas as minhas questões internas, certo? 

No dia da prova prática, eu não passei. Lembro do meu nervosismo. Daquele olhar da moça que estava me avaliando. Da tensão que estava no ar. Não era nem de perto um ambiente favorável e acolhedor. 

Eu fiquei tão frustrada e tão triste que decidi não voltar mais. Para mim, não era interessante viver tudo aquilo novamente. Bom, pelo menos até 2022.

Há alguns meses, após muita terapia, optei por voltar ao processo da CNH. Ainda estou nas aulas do CFC, é um pouco cedo para afirmar que consegui, mas uma coisa é fato: estou tentando. 

O primeiro dia de aula foi bem difícil. Com lágrimas nos olhos, eu saí de casa. A minha certeza era de que seria chato, muito chato. E muito sofrido. 

Aqui entre nós, é claro que não é uma aula tão amigável. Mas percebi que o professor, do seu jeito, estava tentando deixá-la mais leve. Isso quebrou um pouco aquela minha certeza de que não poderia ser legal. 

Aos poucos, conversando com outras pessoas, entendi que, assim como eu, elas estavam tentando. Algumas retomando o processo após anos. Outras, por questões pessoais, em um processo de renovação.  

Cada um tem o seu porém, não é? A real é que o meu começou a doer um pouco menos, principalmente no segundo dia de aula. O meu pai foi me buscar com a minha sobrinha e ela me disse: 

  • Tia, como foi a aula de hoje? 

  • Foi boa, Ana (nome dela).

  • Que legal que você vai tirar carta, Tia. 

O diálogo foi mais ou menos assim. No terceiro dia, lá estava ela novamente, querendo saber o que eu tinha aprendido. E isso se tornou uma rotina. A partir disso, eu comecei a focar mais, pois eu queria responder o que tinha entendido do dia. 

A Ana, minha sobrinha, com apenas 8 anos, se tornou a minha rede de apoio. Ela nem faz ideia do quanto também me ajuda todos os dias. 

Ser tia, tanto dela quanto da Duda, é me sentir viva. 

Ter uma rede de apoio não é sobre construir um grupo de pessoas. É genuíno. A formação é sincera. Quando você menos espera, a sua pessoa está ao seu lado.

Por isso, eu digo: cuide-se, mas não leve tudo sozinho ou sozinha. Divida um pouco os seus sentimentos. Tenha alguém para ser o seu alguém. 

Um abraço,

***

Joice 

Tia da Duda e da Ana, comunicóloga, relações públicas por formação, ama fotografar pessoas e plantas, escreve para se encontrar e é uma mulher em busca de sanidade há muitos anos. Acredita no poder das pequenas e boas ações e que o amor é a chave para um mundo melhor.  

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