Estar na Pele da Liz: Página 02

Tudo começou quando meu psiquiatra, na minha consulta de janeiro, disse: “como estão seus planos para engravidar?” Minha cabeça: “uhuuuuu" e eu disse bem linda e comportada: “como você sabe, estou casada há 1 ano e meio e gostaríamos de tentar para o segundo semestre”. Ele reagiu bem, disse que poderíamos começar a mexer na dose da medicação para até lá eu estar sem nada, mas que eu não podia correr o risco de engravidar com o remédio atual. Ok. DIU no lugar. Desafio lançado!

No dia 20/02 comecei minha dosagem mais baixa. Feliz, animada, entusiasmada. 48h depois eu já comecei a sentir alguns efeitos colaterais como: dificuldade de concentração, um pouco de ansiedade, fadiga / lentidão, sono excessivo, irritabilidade, alteração de humor. Fiquei tensa, achei que não fosse conseguir. Por um momento pensei que não fosse capaz de passar por isso, que eu era fraca e que não daria conta desse processo. Um choro tomou conta daquele instante quando percebi que na verdade, tudo o que estava sentindo era medo. Medo de quem eu sou sem remédio, medo do novo, medo do que está por vir, medo de não ter a compreensão necessária para esse momento e o medo paralisa.

Estou 49 dias na primeira fase do desmame (diminuição da dose) e junto dos efeitos colaterais que citei acima, me sentia como um leão na selva. Isso me assustou pois comecei a achar que estava agressiva. Logo, qualquer coisa “fora do meu comum” eu pensava: falta de remédio, não vai dar certo, isso é loucura e isso me gerava um alto grau de ansiedade a ponto deu não saber lidar com aquelas novas emoções. Pensei em desistir, mas dois dias depois eu tinha terapia e achei válido levar essa situação pra ela. Com o apoio e carinho do meu marido, consegui respirar fundo e seguir em frente até a sessão de quarta feira. 

Na terapia eu descobri algumas coisas bem importantes:

  1. Fazia sentido eu me sentir um leão na selva visto que o propósito do remédio é nos “domar”.

  2. Eu estava confundindo agressividade com raiva. Raiva era algo que eu não sentia há anooooos, nem lembrava mais como era. Eu não sabia nem nomear e confundi com descontrole, loucura, insanidade. 

  3. Claramente terei atitudes e sentimentos atípicos, afinal de contas, algumas coisas vão vir pra superfície, coisas que o remédio deixava lá guardadinho pra evitar a fadiga. Agora tem chance de eu não relevar, querer resolver e é aqui que está o pulo do gato. É exatamente aqui que temos que trabalhar.

  4. Ela disse que eu não preciso ter medo de ser agressiva pois não sou, minha dinâmica é exatamente oposta a isso. Ao me deparar com uma situação que não sei lidar, eu me fecho, me retiro, não encaro e é isso que eu preciso observar, a tendência a me deprimir. 

Isso posto, esse é o cenário. É tipo abrir a tampa do bueiro. Vai feder! Mas e daí? Quem foi que falou que precisamos exalar flor de cerejeira o tempo todo? E talvez seja exatamente essa pressão que nos faça adoecer tanto. 

Eu me sinto preparada pra encarar esse odor que eu sei que a minha trajetória tem e melhor, sempre vai ter. Aceitar que sou vulnerável, que erro, cometo equívocos, magoo pessoas, faz parte de ser humano e aprender a lidar com essas fragilidades é meu maior desafio agora. 

Eu estou escolhendo diariamente sentar de frente comigo e ter um papo reto. De frente com Liz!

***

Liz Ferreira

É estudante de psicanálise e apaixonada por seres humanos e seus conflitos. 

Em 2020, no auge da pandemia, criou um blog onde expunha seus sentimentos e pensamentos, que nada mais era do que um exercício de saúde mental. 

Seu propósito de vida é acolher as pessoas, mostrando que tudo o que elas dizem, pensam e sentem são importantes.

Liz Ferreira

É estudante de psicanálise e apaixonada por seres humanos e seus conflitos. 

Em 2020, no auge da pandemia, criou um blog onde expunha seus sentimentos e pensamentos, que nada mais era do que um exercício de saúde mental. 

Seu propósito de vida é acolher as pessoas, mostrando que tudo o que elas dizem, pensam e sentem são importantes.


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