Perdão ou auto responsabilidade

Nathan Dumlao/ Unsplash

Muitas vezes escutamos que o perdão é liberta-dor, que aquele que concede o perdão, se livra desta conexão de sofrimento, que se trata muito mais daquele que dá, do que aquele que recebe este ato.

Eu vou iniciar com as forças de caráter, a virtude que abarca o perdão, é a Temperança.

Existe uma crença que diz: o fraco jamais perdoa, o perdão é uma das características do forte.

Os mártires agem neste comportamento, para restaurar a paz.

Só para reflexão: a paz é um objetivo de todos? Quando falamos da paz mundial, estamos dizendo que todos querem a paz, isto é uma verdade?

O que entender por paz? É o ato de perdoar?

Cada um de nós vive seu caos e sua paz, à medida que compreende as próprias questões. Penso que até o último suspiro de vida, encontraremos o caos e a paz em si mesmo. 

O ser humano vive internamente em conflito, e isto é o ponto que faz com que possamos avançar em nossa evolução constante. O conflito é diferente do confronto.

Toda vez que colocamos um pensamento, uma emoção, um comportamento em avaliação, estamos conflitando entre o certo e errado para nós, e este ato nos dá o senso de realidade das nossas ações no mundo, nas relações com o outro e consigo mesmo.

Confrontar é sair de si, para ir ao outro, é um ato que na maioria das vezes revela o desrespeito com a unicidade. Cada um é de um jeito, a nossa formação vai muito além da leitura e julgamento que o outro faz, somos uma complexidade de vivências consciente e inconsciente, sabemos inclusive, muito pouco de nós, como poderia a outra pessoa saber quem sou? 
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Como se colocar neste lugar de “aquele que perdoa”?

Este é o forte? Ou o arrogante? O dono da razão? O politicamente correto?

Quem é o detentor da verdade, para julgar a atitude do outro, com tamanha maestria e coerência para dar o veredito de: eu te perdoo.

Se falarmos dos doutores da lei, desde que o mundo é mundo, há equívocos, predileções, jogo de poder, interesses prioritários, e tantas outras questões que o ser humano leva em consideração, como seu favorecimento em detrimento ao certo e ao outro.

Quando uma pessoa se direciona a outra para pedir perdão, penso que em sua avaliação se considera errada, e a outra pessoa certa. O que seria errado, quando somos fruto do meio, representantes de um sistema familiar e social, eternos aprendizes nesta jornada chamada vida.

Muitas vezes o que chamamos de erro, torna-se rapidamente em aprendizado. A partir daquilo que realizamos, podemos observar e avaliar, para a melhoria constante de nossas ações e condição humana.

Os estudos falam sobre os 3 tipos de perdão:

  • Autoperdão: honrar e respeitar a própria história.

  • Perdoar o outro: aceitar a dualidade do ser humano; equilíbrio.

  • Pedir perdão: 2 causas: consciente e inconsciente.

Até aqui, é o perdão como conhecemos, mas quero te levar a ampliar sua compreensão quanto ao assunto.

Se todos somos aprendizes em si mesmo, da caminhada humana, na evolução diária de nossas virtudes e vicissitudes, o que fazemos ao darmos um passo neste sentido, é reconhecer que as atitudes de ontem, foram as possíveis, o que sabíamos fazer e agir, e agora ao aprendermos algo novo, com nossas próprias ações, podemos decidir fazer um pouco diferente, melhor, de outro jeito.

Entendo como responsabilidade, e esta maturidade em reconhecer as próprias ações, implica em reparar algo, em se comprometer com a transformação e mudança de algo feito, e aqui vejo verdadeiramente uma possibilidade de apaziguar o conflito interno.

Reconhecer e dizer ao outro: eu sinto muito, é trazer para si a responsabilidade que compete a cada um em uma relação, eu assumo os meus 50%, e deixo o outro com os seus 50%, o que a pessoa irá decidir, é uma escolha dela, todos crescem nesta atitude.
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Quando me coloco a pedir perdão, retiro a minha responsabilidade, delego ao outro: eu peço, se ele quiser dar, ótimo, mas aí já é com o outro, não se trata mais de mim. É uma relação de desequilíbrio, porque um se coloca pequeno e o outro grande.

Na relação de adultos, ambos são iguais, mas na mente inconsciente, se peço perdão, já fiz minha parte, e a penitência me absolve de algo, fico livre, mas não gera ação, e os tormentos internos reincidem, e a falta de ação, leva muitas pessoas a enlouquecerem, pela máxima culpa que carregam dentro de si. 

Então, quem perdoa é o forte? Isto se trata de uma crença fortalecedora ou limitante?

Talvez, possamos mudar a palavra forte, para coragem de assumir as próprias escolhas, e perdão por responsabilidade. Aqui se trata de amadurecimento, reconhecer luz e sombra. O caminho do autoconhecimento é o que de fato nos leva a libertação de crenças centrais, intermediárias, valores impostos, ética ferida, distorção de imagem, e tudo o que nos aprisiona.
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Te convido a pensar mais profundamente sobre o perdão, e podemos em breve, conversar um pouco mais sobre este assunto: perdão ou auto responsabilidade.


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Crystiane Faria Feijes

Uma profissional que olha para a mente humana: consciente e inconsciente, as relações intra e interpessoais, a família, a estrutura da formação da psique (traumas, sintomas, dores e doenças), as forças de caráter, saúde mental, sonhos, sucesso, sentido da vida, são assuntos recorrentes nestes 10 anos de atendimentos psicanalítico e sistêmico. E quanto mais ela se coloco a serviço deste algo maior, que envolve a todos nós, mais observa o universo brilhante, e ainda inexplorável que somos.

Crystiane Faria Feijes

Eu sou uma ajudante de pessoas, à serviço da Humanidade, e me coloco a servir a mais de dez anos, com as expertises de Psicanalista, Palestrante, Facilitadora em Constelação Familiar (Hellinger), Especialista em Psicologia Positiva, Mentora, Master Coach Trainer (IBC), Treinadora em Desenvolvimento Humano, Hipnoterapeuta Clínica e Ericksoniana, Master Practitioner em PNL Integrativa Aplicada, Relações Públicas (Metodista) e Escritora. Idealizadora e fundadora do IOSI (Instituto Origem do Ser Integrado).

Graduanda em Psicologia, sou engajada no estudo contínuo da psique, do comportamento e das relações humanas, observáveis em sua singularidade e complexidade, nestes anos de setting psicanalítico. Assuntos relacionados ao autoconhecimento, saúde integrativa (biopsicossocial espiritual), bem-estar, felicidade, empoderamento dos recursos e habilidades e sistema familiar, são enfoques da minha dedicação profissional e projeto de vida.

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