Estar na Pele da Liz: Página 03

Ninguém falou que ia ser fácil. 

O que eu tenho percebido com frequência é a irritabilidade e um nível de tolerância próximo - ou igual - a zero. Não é que eu viva de mau humor mas me desconforto com mais facilidade. É como se eu estivesse mais sensível a tudo. Tudo o que eu ouço, tudo o que eu falo, tudo o que vejo, como se as coisas me tocassem mais fortemente. Um simples olhar torto hoje me incomoda, com remédio provavelmente eu pensaria: foda-se. Sabe aquele bestseller “A sutil arte de ligar o foda-se”, então, saudades!

E o que é, ou melhor, o que esse olhar torto representa pra mim que me machuca? Eu sou estudante de psicanálise e hoje entendo um pouco o mecanismo do nosso aparelho psíquico, o que me ajuda nas sessões de análise e também me faz mergulhar de cabeça nesse processo todo, mas é cansativo. 

Eu tenho preguiça de encarar e resolver certas situações, na minha cabeça sou sempre eu que me movimento para resolver uma questão, por que não pode - de vez em quando, que seja - ser o outro? Vejo sempre eu indo atrás de esclarecer as coisas, isso vai de uma questão com a família a um vizinho qualquer. Preguiça. Já levei isso pra terapia e a resposta é que eu sofro com essa “indisposição" e quero resolver mas não adianta esperar isso do outro, ele não tem como saber como eu me sinto, a famosa “bola de cristal”. Tinha que ter sim, em algumas situações tinha, ia me poupar uma bela de uma energia! Mas essa é uma questão minha, posso optar por guardar pra mim (o que me leva a doenças psicossomáticas) ou enfrentar. Sentar, conversar e chegar num acordo ou até mesmo resolver. Só de pensar nessa segunda opção eu morro de sono. Juro. 

O que eu vejo agora é que, nesse caminho de divórcio dos remédios, eu não tenho como fugir das pendências emocionais. É lutar contra o sono mesmo. Esse sono é fuga, não é falta de medicação. Ou é? A medicação, talvez, não me deixasse entrar em contato com esses sentimentos. Mas gente, eu só diminui a dose, como vai ser quando tirar tudo? Ficar sem nada? Vou entrar em contato com o que? Eu heeeein. 

Percebo que fugindo dessa missão - de encarar os sentimentos, ou as frustrações - aí sim as coisas pioram e grande chance de eu precisar voltar para os antidepressivos. E quanto mais eu entendo e sei que preciso ir para a luta, mais cansada eu me sinto. Mecanismo de defesa do ego? Talvez. 
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Minha analista que lute pra me ensinar e eu para aprender. Vai dar trabalho, mas estou decidida a seguir em frente! Vão ter esses inconvenientes no meio do caminho que vou ter que lidar, aceitar que precisarei de um dia ou outro pra processar, digerir…e reagir. Reagir é importante. 

Preciso focar no objetivo final desse grande propósito e sair pisando fundo de Louboutin por aí. 

***

Liz Ferreira

É estudante de psicanálise e apaixonada por seres humanos e seus conflitos. 

Em 2020, no auge da pandemia, criou um blog onde expunha seus sentimentos e pensamentos, que nada mais era do que um exercício de saúde mental. 

Seu propósito de vida é acolher as pessoas, mostrando que tudo o que elas dizem, pensam e sentem são importantes.

Liz Ferreira

É estudante de psicanálise e apaixonada por seres humanos e seus conflitos. 

Em 2020, no auge da pandemia, criou um blog onde expunha seus sentimentos e pensamentos, que nada mais era do que um exercício de saúde mental. 

Seu propósito de vida é acolher as pessoas, mostrando que tudo o que elas dizem, pensam e sentem são importantes.


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