Estar na Pele do Carlos: Página 09
Confesso pra vocês que, diferente dos meus outros relatos nesta plataforma que o Bem do Estar me proporciona mês a mês (acabei de perceber que já tem mais de ano que vocês me aturam por aqui, gratidão demais) eu já sabia exatamente sobre o que queria escrever, no mês do Orgulho LGBTQIA+. A propósito, eu ansiava por esta oportunidade.
Tem umas duas semanas,mais precisamente no dia 22/05, eu estava passando o feed do Instagram quando eu vi, no Midia Ninja, uma foto que me deu um nó na cabeça. Era comemorado o Dia do Abraço, e em homenagem a uma ação feita por uma ONG chamada Grupos Iguais, de Cabo Frio-RJ, mulheres trans carregavam cartazes com os dizeres:
SOU TRANS - VOCÊ ME ABRAÇARIA?
Aquilo foi, pra mim, um soco no estômago.
Eu não sei, sinceramente, qual foi a recepção daquele protesto, mas aqueles dizeres me tocaram profundamente, e eu acho que vocês entenderão o porquê.
Após meu último texto, algumas coisas mudaram na minha vida. Eu, que passei dois anos em completo lockdown, conseguindo me proteger do Covid-19, recebi uma proposta e fui trabalhar, presencialmente, na região da Paulista. num geral, estou bastante feliz em sair um pouco da bolha, ver gente, trocar experiências, mas eu não contava que, na primeira semana, eu finalmente faria parte das estatísticas que vejo religiosamente na TV, todo santo dia: fui contaminado pelo Corona Vírus. Fiquei um pouco mal, tive febre, mas sou imensamente agradecido por ter contraído o vírus após ser vacinado (Viva o SUS!) e sei que os sintomas foram bem mais amenos, mas é difícil descrever a sensação de vulnerabilidade que a doença me trouxe. O cansaço, as dores musculares, a febre… tudo isso aliado à impossibilidade de contato físico imposta pela quarentena obrigatória, agora sem flexibilização para não proliferar, me fizeram sentir muito fragilizado. E foi ali que, no meu momento de maior melancolia febril, eu vi essa imagem que ficou incrustada na minha cabeça.
Quando foi que a gente perdeu a humanidade, na essência?
Como já falei aqui antes, eu não sofri uma gota sequer nesta tempestade de preconceito que assola o meu povo. Gays, Lésbicas, Bissexuais, Transgêneros, Queer, Interssexuais, Asexuais, e todas as novas vertentes que podem vir a surgir com os novos estudos de sexualidade e gênero. Fui abençoado com uma família que aceitou, no seu tempo, a minha existência. Sempre me vendi muito bem, fui amado, sempre tive o afeto (inclusive físico, que é este o qual estamos debatendo aqui) de todos os que me rodearam. Nunca me vi preocupado com a possibilidade de não ser retribuído em um momento de troca física. Isso, claro, até esta maldita doença cercear a possibilidade,por dois anos, do meu contato físico com outras pessoas, e agora, com a certeza do "positivo", de uma maneira mais cautelosa, o que não diminuiu a minha sensação de solidão.
Imagine você, por uma questão totalmente além dos seus princípios e necessidades, por uma característica que eu sempre enxerguei como fisiológica, como a cor dos olhos ou o formato do lóbulo da orelha, viver com a dúvida se você deve, ou mais, se você merece ser abraçado, devido a sua identidade de gênero? Ou se você tem o direito de usar o banheiro ao qual você, por existência, tem o ímpeto natural de frequentar? O direito de ser chamado de ELA, ELE, ELU , mesmo que sua identidade de batismo não confira no RG? O que é um documento, perto da necessidade humana de ser quem se é?
Há uns 10 anos atrás, eu fui trabalhar em uma empresa baseada no bairro do Joquei, conhecido pelas suas mansões e pelo movimento de profissionais do sexo, geralmente composto por travestis. No começo elas mexiam comigo, tentando arrumar um programa, porém logo fiz questão de mostrar pra elas que eu as via, como pessoas. Fui decorando o nome de cada uma, trazendo uma naturalidade para aquela relação diária que durou pouco mais de um ano. Um dia, trouxe uma pomada pra uma delas que estava com uma alergia terrível nas partes íntimas e ficava reclamando para as amigas. O olhar de reconhecimento que ela me deu na época, de guarda baixa, olhos marejados por um simples ato que pra mim não era nada, porém para ela tão acostumada a marginalização, era tudo.
Ser vista.
Num país predominantemente CRISTÃO, um ser humano precisar perguntar se ele merece ser abraçado, é de revoltar qualquer pessoa realmente de bem. E, cá entre nós, eu estou levantando esta lebre com dados, porque nós ainda somos O PAÍS QUE MAIS MATA TRANSEXUAIS NO MUNDO INTEIRO. Não é uma opinião minha, são fatos.
Esta semana mesmo, vimos uma cena perturbadora de uma travesti sendo LINCHADA no meio da ExpoAgro, em Franca, aos gritos uníssonos de "MORRE, DESGRAÇADA".
Eu não consigo assimilar este ódio, fica entalado. E mais uma vez, com o mesmo espanto que eu senti quando vi a reação da travesti pra quem eu dei uma pomada, eu não acho que estou falando nenhuma novidade nem fazendo nada além do que eu considero normal, em relação a QUALQUER SER HUMANO.
Sorte a nossa é que este assunto está na boca do povo, com erika Hilton vereadora e Tammy Gretchen vereador, Linn da Quebrada servindo inteligência, carisma e uma porção na medida de safadeza no BBB e Pablo Vittar rainha do mundo todo, eu ainda consigo vislumbrar um mundo em que pessoas serão abraçadas, única e exclusivamente, por serem pessoas.
Enquanto eu escrevo este texto, já martelado na minha cabeça há semanas, estou ouvindo minha lista de novidades, e entre elas está a música do Gabriel Sater, tema da novela das 8, e ela diz uma frase que é perfeita pra gente encerrar esta conversa:
Aguentem firme, irmãs e irmãos, que a nossa luta está longe de acabar.
Sintam-se abraçadxs, nesse exato momento.🌈
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Carlos Stefano
Gestor comercial, decorador, escritor e aficionado por relações humanas e suas ramificações, ele divide suas experiências na coluna Estar na Pele aqui do Bem do Estar.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.