Estar na Pele do Flávio: página 06

Espelhos e horizontes

Eu fui adolescente a partir de meados da década de 70 do século 20, esticando até o comecinho dos anos 80. Gosto da definição “teen” para se dizer quando alguém é adolescente: dos 13 aos 19, exatamente as idades que, em inglês, terminam com “teen”, do thirteen ao nineteen. Nos últimos anos, já li várias versões novas sobre esse período, mas ainda me apego mais a essa.

Naqueles anos 70 o mundo era pouco parecido com o que é hoje e uma dessas diferenças estava nas idades em que as coisas iam acontecendo em nossas vidas. A maturidade vinha mais tarde e a inocência demorava mais tempo para ir se esvaindo.

Seja como for, em algum momento havia a famosa virada da chavinha e, a partir dali, não tinha mais volta: a adolescência tomava conta de seu corpo e alma, o chamado espírito rebelde surgia com tudo e questionar passava a ser algo cotidiano, às vezes até horário. Assim, a vida passava a ser um eterno embate entre jovens e adultos.

Independente a ter razão ou não, o horizonte do adolescente passava a ser, literalmente, outro mundo. Os olhos começavam a enxergar e se interessar por vertentes nunca dantes navegadas, a aceitação tácita de conceitos impostos ia ladeira abaixo e havia uma curiosidade pulsante a nos extrair o ar dos pulmões. Não bastavam mais as respostas prontas, era preciso que fossem convincentes.

Francamente falando, hoje, aos sessenta anos recém completados, não faço a mínima ideia de como andam os adolescentes contemporâneos, até por um motivo muito simples: raramente convivo com algum deles! Mas a ideia nem é ficar comparando épocas e sim trazer algo que a tal virada de chavinha causou no passado.

A curiosidade e a inquietude nos levam a questionar, a xeretar, a buscar informações e, principalmente, a conversar com outras pessoas. A gente queria conhecer gente diferente da gente, saber o que elas pensavam, porque pensavam aquilo, porque agiam da forma que agiam. Não era só jogar papo fora, havia algo a mais naquilo, um interesse que aumentava a cada nova descoberta, a cada revelação.

O resultado disso tudo foi aprender que não existe só o nosso ponto de vista e, mais ainda, que não é possível se entender como alguém age sem que se conheça como esse alguém pensa. O costume de se analisar os outros pela nossa própria lógica acaba sendo uma espécie de armadilha da qual raramente nos damos conta: às vezes acabamos julgando como errado o que os outros fazem simplesmente porque eles não fazem o mesmo que nós. E ninguém é a régua do universo!

Homens e mulheres vivem em debate há séculos e o mais comum de se ver é exatamente isso que mencionei anteriormente: enxergam o outro lado sempre pela sua própria ótica. Difícil que acabe funcionando.

Março se tornou um mês de destaque para o tema mulher. Tenho aproveitado a oportunidade para ler vários artigos escritos por elas. O cerne não está em concordar ou discordar, mas tentar entender melhor o universo feminino pela ótica delas. 

Em 2021 resolvi me aventurar com tudo nesse universo, escrevendo uma quadrilogia em que o protagonismo é todo de personagens femininas. São quatro mulheres, de diferentes idades, diferentes origens, que tinham em comum um clube cultural no qual se encontravam regularmente para falar de artes e cultura em geral, até que num dado momento de suas vidas elas resolvem ir morar sob o mesmo teto.

Como eu disse antes, a questão não é concordar ou discordar, mas colocar o lado A em frente ao lado B: o mesmo tema, mas em diferentes óticas. A melhor parte? Conversar com quem leu para saber o que se passou pela cabeça da leitora.

Fica o convite: que tal ser o lado B de algum lado A em sua vida?


***

Flávio Berto

Eu comecei a escrever em prosa aos 14 anos, em versos aos 16. Romances e poesias se tornaram o caminho natural para tanta necessidade de grafar palavras no papel, sendo que mais tarde a poesia se expandiu para a composição de letras e melodias. Não consigo passar um dia que seja sem escrever algo ou criar alguma história na minha cabeça. O mundo das letras, mais que um universo fantástico e inesgotável, nos apresenta também a magia que as palavras têm e o quanto elas preenchem cada momento de nossas vidas. É um aprendizado eterno e, se bem trabalhado, um dos melhores meios para tentar tornar esse mundo um lugar mais agradável para se viver.





Flávio Berto

Aquariano, nascido nos anos 60, engenheiro de profissão, escritor e compositor de alma. Racional para o cotidiano, a flor da pele para tudo o mais que é da vida. 95% Luke Skywalker, 5% Darth Vader, pois infelizmente nem tudo são flores. Pai da Sabrina e da Carol, com quem vive uma relação de sangue, amor, carinho e responsabilidades desde que nasceram. Mais do que pai, um "paixonado".


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