Estar na Pele do Flávio: Página 07

Há alguns anos se nota no mundo que, de forma geral, o convívio entre as pessoas anda mais áspero. As irritações predominam, há mais radicalismo, há menos tolerância, às vezes até se proíbe haver certas tolerâncias. Em alguns casos, é até compreensível, contudo nem sempre a rigidez plena se mostra ser a melhor opção.

Parte do resultado disso é que vivemos, atualmente, em um mundo belicoso e, consequentemente, de pouca harmonia. Falta ouvir mais, ouvir prestando atenção, falta compreensão e sobram críticas. Não que seja proibido haver críticas, mas o excesso, como em quase tudo, não costuma ser benéfico.

Nota-se também uma tendência forte a se repetir mantras ou expressões feitas, o que muitas vezes limita as conversas e o entendimento entre as partes. Falta empatia, falta um olhar mais afetuoso, falta mais receptividade, enfim, falta diálogo e, sem ele, não se chega a lugar algum quando se quer resolver alguma divergência.

Certas coisas provavelmente não vão mudar, porque querendo ou não, somos falíveis em muitos assuntos, temos dificuldade em lidar com nossas emoções e, ainda que gostemos muito de nos gabar como espécie superior, fazemos lambança de sobra ao longo da vida. Ainda assim, tentar melhorar é quase que obrigação.

O simples parece ser algo em extinção, porque nós adoramos complicar tudo, talvez sem nem sequer nos darmos conta disso. Há também uma relativa aversão ao todo, como se tudo tivesse que ser compartimentado. E, querendo ou não, mesmo com todas as diferenças que existem entre nós, ainda somos todos pessoas.

Quando se age com respeito, todo mundo é respeitado, não importa quem seja. Quando se age com educação, todo mundo é bem tratado, não importa quem seja. 

Todo preconceito é ruim, embora alguns tragam, sem dúvida, uma carga mais pesada. Porém, é preciso frisar, sempre: todo preconceito é nocivo. Então, quando se trata alguém sem demonstração de preconceitos, diminui-se significativamente a chance desse alguém sofrer por algo que sequer lhe diz respeito, algo que está atrelado única e exclusivamente a outra pessoa e sua forma de agir e enxergar o mundo.

O discurso é bonito, o difícil é colocar em prática. O ser humano é uma ambiguidade ambulante, ele ama, mas odeia, ele afaga, mas agride, ele sente compaixão, mas também sente raiva, ele acredita que o seu pensamento é o melhor e mais correto, mas nem sempre aceita que outro ser humano, que pense ou haja de forma diferente, também possa estar certo.

Nesses casos de divergência, geralmente sobra o pior para quem não está dentro da maioria, para quem não faz parte do padrão “considerado” como certo ou normal, pois o diferente tende a incomodar, não por ser diferente, mas porque tira as pessoas da sua zona de conforto.

E se tem algo que o ser humano detesta, é sair da zona de conforto, do sempre mais do mesmo, porque dá trabalho, porque questiona culturas arraigadas, porque mexe com convicções. E isso incomoda, incomoda muito.

Apesar de não fazer parte de nenhum grupo que, costumeiramente, sofre preconceito constante, em algumas ocasiões no transcorrer da vida, quando a gente faz opções que vão contra a maré, se sente na pele o quanto essa situação é incômoda. 

Quando isso é pontual, não afeta tanto, mas nos faz pensar em como seria se isso fosse constante, diário, mensal, pra sempre. E como ficaria nossa cabeça convivendo com uma realidade dessas? A resposta parece ser meio óbvia, não?

Voltamos à tecla do respeito. Qual a dificuldade em se respeitar alguém, seja lá porque motivo for? Não tornaria a vida mais saudável, mais agradável, mais harmônica? 

Dificilmente pessoas que pensam de forma muito diferente vão concordar com o pensamento alheio, mas isso não é o fundamental, cada um pode enxergar a vida como bem entender. 

Quem sabe se um dia todo mundo tentasse respeitar todo mundo, a gente viveria mais feliz e menos doente, porque hoje a sociedade, de forma geral, está quase indo para UTI. E para quem ainda não entendeu com clareza, sociedade é só um nome, estamos falando é de pessoas.


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Flávio Berto

Eu comecei a escrever em prosa aos 14 anos, em versos aos 16. Romances e poesias se tornaram o caminho natural para tanta necessidade de grafar palavras no papel, sendo que mais tarde a poesia se expandiu para a composição de letras e melodias. Não consigo passar um dia que seja sem escrever algo ou criar alguma história na minha cabeça. O mundo das letras, mais que um universo fantástico e inesgotável, nos apresenta também a magia que as palavras têm e o quanto elas preenchem cada momento de nossas vidas. É um aprendizado eterno e, se bem trabalhado, um dos melhores meios para tentar tornar esse mundo um lugar mais agradável para se viver.




Flávio Berto

Aquariano, nascido nos anos 60, engenheiro de profissão, escritor e compositor de alma. Racional para o cotidiano, a flor da pele para tudo o mais que é da vida. 95% Luke Skywalker, 5% Darth Vader, pois infelizmente nem tudo são flores. Pai da Sabrina e da Carol, com quem vive uma relação de sangue, amor, carinho e responsabilidades desde que nasceram. Mais do que pai, um "paixonado".


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