LGBTQIAPN+ fobia: a realidade da discriminação

Imagem do livro Sexualidade e Saúde da Mente | NOZ Inteligência e Instituto Bem do Estar

Termo utilizado para descrever a aversão, discriminação, preconceito e violência direcionados a pessoas lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros devido à sua orientação sexual, identidade de gênero ou expressão de gênero, a LGBTQIAPN+ fobia também é conhecida como homofobia, bifobia e transfobia. Ela se manifesta de várias formas, incluindo atitudes negativas, estigmatização, exclusão social, agressão verbal, física e até mesmo homicídios.

A LGBTQIAPN+ fobia é uma violação e pode ter consequências devastadoras para a saúde mental e emocional das pessoas LGBTQIAPN+. Ela cria um ambiente hostil e limitante, no qual esse grupo é constantemente marginalizado, humilhado e discriminado. A LGBTQIAPN+fobia também pode resultar em isolamento social, dificuldades de acesso a serviços básicos, oportunidades de emprego limitadas e falta de proteção legal adequada.


“Sempre me chamavam de ‘viadinho’, ‘bichinha’ e tinha que ficar provando que eu não era para que eles parassem. Dava um beijo em uma menina [...], tinha medo de ser homossexual porque crescemos aprendendo que é errado.”

| Pessoa não binária, homossexual, branca, solteira, gorda, 27 anos


É importante ressaltar que a LGBTQIAPN+ fobia não se restringe apenas a manifestações individuais, mas também pode ser expressa por instituições, leis e políticas discriminatórias que perpetuam a desigualdade e a violência. Combatê-la requer uma abordagem multifacetada que inclua a educação, o engajamento da sociedade, a promoção de leis inclusivas, o suporte emocional e a ampliação da conscientização sobre os direitos humanos das pessoas LGBTQIAPN+.

Nos relatos das pessoas entrevistadas, é muito presente a LGBTQIAPN+ fobia dentro da família. De forma quase generalizada, nas conversas nas quais se assumiram fora de heteronormatividade para a família, não foi raro que houvesse preconceito, inclusive com estereótipos de que um homem que se assume homossexual passaria a usar vestidos; ou ao assumir a bissexualidade a pessoa passa a ser lida como promíscua.


“Quando contei ao meu irmão que eu sou gay, ele falou que tudo bem, que estava tudo certo, e perguntou: você não vai usar vestido, né?”

| Homem cis, homossexual, branco, solteiro, 45 anos


“Bissexualidade é igual à homossexualidade para quase todo mundo. E é a mesma coisa que falar: ‘Sou extremamente promíscuo, minha saúde está em risco’ [...]. A minha mãe deu uma surtada quando eu disse que era bissexual, disse que não quer que eu adoeça.”

| Homem cis, bissexual, branco, solteiro, 28 anos


No caso das mulheres bissexuais entrevistadas, é onipresente que existe a inibição de se assumirem para parceiros e parceiras, por terem a ideia que por parte dos homens isso seria um motivo para hipersexualizá-las com o fetiche de quem também se relacionam com mulheres; e por parte das mulheres lésbicas que, segundo relatos, não levam a sério mulheres bissexuais “de festa”, ou seja, que se relacionam com mulheres apenas por diversão e em ambientes sociais.


“Com homem não, porque eu acho que também entra um pouco de fetichização, duas mulheres [...], mas com mulher um pouco, porque principalmente quem é lésbica tem um certo preconceito contra quem é bi, rola até uns termos meio chatos [...]. Já senti receio de falar que eu era bi para uma menina que eu estava saindo. Principalmente por conta desse preconceito contra bi.”

| Mulher cis, bissexual, amarela, solteira, 34 anos



Um homem bissexual relata a leitura das pessoas sobre essa orientação sexual estar associada à exposição a riscos de saúde, por causa de uma suposta promiscuidade do indivíduo ao se relacionar com homens e mulheres. Houve mais entrevistados que relataram essa aproximação entre riscos de saúde por causa de sua sexualidade, principalmente entre os homens, o que indica ainda a existência de um pensamento epidêmico de IST a partir da relação sexual entre homens. Entre as mulheres, esse tipo de preocupação não foi percebida.

Outro estigma identificado em um relato, que também aproxima identidades fora da heteronormatividade com hipersexualização, foi associar as travestis exclusivamente à prostituição. Esse é mais um exemplo de como as identidades LGBTQIAPN+ são interpretadas — dentro e fora da sigla — a partir de interações puramente sexuais, o que significa que a concepção de relações de afeto não faz parte de uma primeira associação fora do circuito de relações heterocissexuais.


“Eu ainda tenho preconceito com a palavra travesti. Eu lembro quando eu era criança que, no mercado que eu ia com a minha mãe, ali perto, tinham as travestis que se prostituíam. Acho que ainda trago a memória daquela época, que travesti é marginalizada, as que não deram certo. Sempre que eu escuto ‘travesti’, me remete a esse lugar de uma pessoa que veio com defeito. E mesmo com essa leitura, hoje em dia eu me vejo no lugar de uma pessoa que não deu certo. Por exemplo, eu tenho muita dificuldade de me tornar adulta, prefiro ficar na fantasia abstrata da Síndrome de Peter Pan, para não olhar o mundo como ele é.”

| Mulher trans, heterossexual, branca, solteira, 31 anos



“O meu primeiro namoro eu escondia das pessoas. Éramos somente amigos, tínhamos planos de casar-se (com uma mulher) e ter filhos, mas continuar nossa amizade.”

| Homem cis, homossexual, branco, solteiro, 45 anos



“Talvez eu não quisesse esperar ter um relacionamento com uma mulher pra chegar e falar que eu gosto de homens e mulheres. Talvez eu quisesse falar antes para parar de ouvir besteiras, coisas que eu não concordo. Enquanto isso, eles vão falando o que dá na cabeça deles e isso vai machucando.”

| Mulher cis, bissexual, amarela, solteira, 34 anos



Na pesquisa quantitativa Sexualidade e Saúde da Mente, a maioria dos participantes discorda da afirmação "Só é sexo quando acontece entre homens e mulheres" (91%), com variações nas proporções de discordância e concordância entre alguns grupos, destacando a influência potencial de fatores como gênero, orientação sexual e religião nas opiniões sobre esse assunto.

É essencial lembrar que progressos estão sendo feitos, como indicado pelos dados da pesquisa quantitativa e pelas histórias compartilhadas nas entrevistas em profundidade. Entretanto, ainda há um longo caminho para erradicar a LGBTQIAPN+ fobia; além da continuidade dos avanços na educação, na sensibilização e no diálogo, deve-se implementar leis inclusivas, apoiar emocionalmente aqueles que enfrentam a discriminação e aumentar a conscientização sobre os direitos humanos das pessoas LGBTQIAPN+.


Este conteúdo faz parte do “capítulo 8 - Preconceito e tabus” do livro “Sexualidade e Saúde da Mente, disponível gratuitamente em www.nozinteligencia.com.br/sexualidadeesaudedamente


Realização: NOZ Inteligência e Instituto Bem do Estar

Sobre o Instituto Bem do Estar - ONG de saúde mental | O Instituto Bem do Estar é um negócio social sem fins lucrativos voltado à promoção da saúde da mente. Com o propósito de desafiar as pessoas a mudar o próprio comportamento em relação à saúde da mente, a organização colabora com a prevenção de doenças psicológicas e contribui para uma sociedade mais consciente e saudável. Para tal, possui três frentes de atuação, que visam CONSCIENTIZAR, por meio de ações que levam informações sobre os cuidados para uma saúde da mente de qualidade; CONECTAR,  por meio de atividades práticas e imersivas, proporcionando ferramentas que contribuem com o desenvolvimento socioemocional individual e coletivo; e MOBILIZAR, gerando estatísticas e articulando agentes públicos e privados, via pesquisas e práticas de advocacy. www.bemdoestar.org

Sobre a NOZ Inteligência | A NOZ  atua  desde 2015 de forma personalizada para gerar conteúdo qualificado para empresas, projetos e causas.  A consultoria trabalha  conectado conhecimentos de Economia Comportamental, Pesquisa de Mercado, Planejamento Estratégico, Financeiro e de Marketing, para produzir informações e apoiar a tomada de decisão.

Para além do desenvolvimento de consultoria e projetos para empresas, a NOZ atua em estudos sociais em temáticas diversificadas como Cooperação, Educação, Saúde, Trabalho e Empreendedorismo, Maturidade (50+), Mulheres, Pessoas com Deficiência.

Instituto Bem do Estar

Queremos gerar conhecimento aplicável sobre a saúde da mente


https://www.bemdoestar.org/
Anterior
Anterior

Homossexualidade no DSM e na lei brasileira

Próximo
Próximo

Sexualidade e Saúde da Mente | Entrevista com o geriatra e professor Milton Crenite