Mãe de menina
Ser mulher nesta sociedade machista é um dos maiores desafios do estar em todos os tempos, e em pleno século 21 ainda tememos apenas por ser mulher, a evolução está chegando a passos lentos, mas claro todo avanço é bem-vindo. Porém, o ser mulher é uma carga pesada demais, é viver com o sistema alerta ligado o tempo todo, não se pode relaxar nem quando está sentada num barzinho rindo com as amigas, na verdade, nesse momento é onde essa mulher fica ainda mais vigilante, pois envolve muitos riscos em algo aparentemente simples, talvez porque na cabeça dos homens exista uma idéia de que se a mulher está sem um macho do lado pode ser desrespeitada, e infelizmente isto reflete tanto em nós mulheres, que muitas vezes preferimos ter uma pessoa do sexo oposto para nos sentir mais segura.
É cruel pensar que uma mulher nunca, em hipótese alguma pode descansar, relaxar, desligar o alerta e muitas nem na própria casa tem essa liberdade, onde deveria ser acolhida e protegida. Viver com a triste certeza que algo de ruim sempre pode acontecer é desumano. Agora imagine só como é ser mãe de uma menina nesse contexto social? O medo se faz presente 24 horas por dia, não dá para distrair um segundo sequer que já passa por sua cabeça todas as possibilidades detestáveis que podem acontecer com a sua filha em um piscar de olhos simplesmente por ser uma menina. É doloroso demais para uma mãe cogitar tudo isso quase que como um ato de ruminação, algo que fica na boca sendo mastigado e mastigado, que demora a ser digerido. Avaliar cada detalhe dessas possibilidades doentias em tudo que planeja fazer com sua filha é extremamente pesado, promove o sofrimento lentamente avaliar todo o crescimento dela, o seu desenvolver torcendo para que consiga protegê-la de tudo.
E logo ela irá para a escola, ficará um pouco mais de tempo longe de você, e aposto que só de pensar nessa possibilidade teu peito dispara, medo, muito medo. Você já imagina que ela estará desprotegida e só consegue pensar no pior, mas é nesse momento que você precisa cuidar da sua saúde mental e acreditar que as coisas vão ser melhores para ela, melhores do que foi para você, principalmente porque você faz tudo diferente, então mulher, mãe de menina, só acredite! Maternar é isso, não é mesmo? Lutar todo o tempo contra os próprios demônios, querer com todas as forças ser para a filha o que lhe faltou na infância. É muito lindo perceber isto, mas também é importante compreender que ela não é uma extensão do seu corpo e os traumas dela provavelmente não vão ser os mesmos que os seus.
As estatísticas mostram que uma a cada quatro mulheres no mundo já sofreu algum tipo de violência, então lamentavelmente é mais que compreensível que uma mãe super proteja sua filha.
Se pudesse colocá-la numa caixinha, guardada para que nunca sofresse nenhum tipo de violência, principalmente relacionada à sua sexualidade, que ninguém a olhasse estranho, falasse do seu corpo e a tocasse sem o seu consentimento. Que ela fosse respeitada em todas as esferas de sua vida. Mas essa mãe sabe que o mundo real não é assim, lamentavelmente. E por isso tenta ao máximo proteger sua menina, mas é exatamente neste ponto que habita um grande problema, porque a saúde mental de uma mãe não suporta essa pressão e adoece rapidamente. É demais imaginar que sua filha poderá sofrer os mesmos abusos que para você foram devastadores.
A primeira concepção que é preciso ter em mente é que você não pode proteger-la de tudo, infelizmente as mães ainda não possuem este poder de onipresença. É importante também ter a consciência de que elas vão passar por coisas ruins no decorrer da vida, mas tendo a certeza que você sempre estará presente para acolhê-la nesses momentos. E pode ter certeza que este apoio fará toda a diferença para ela. O segundo passa extremamente indispensável é ensinar a sua filha a se proteger sozinha, mostrando maneiras que a faça sair de situações ruins, como pedir ajuda, orientando que sempre pode falar e contar com você para qualquer situação e mesmo que não esteja presente se algo ruim vier a acontecer ela saberá se proteger sozinha.
Essa ideia de que meninas são frágeis, precisa ser mudada urgentemente, precisamos pensar em criar uma menina que saiba se proteger, que tenha voz, que consiga dizer não. Vamos prestar mais atenção a tudo que reproduzimos com nossas filhas, cobrar que ela retribua carinho pode parecer algo inocente, mas desse modo você está ensinando-a ceder uma chantagem quando ela não quer dar um abraço por exemplo. As histórias que você conta, a música que ouve enquanto ela está perto também tem quer analisada. Perceba as atitudes que tem diante da sua filha e tente educá-la de uma maneira consciente, aproveite os momentos de brincar para ensiná-la de um jeito leve.
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Louise Barbosa
Gestora de recursos humanos pelo Centro Universitário Jorge Amado e Psicanalista formada pelo Instituto Oráculo de Psicanálise, aborda temas como ansiedade, depressão, autoconhecimento e maternidade. Atua em consultório particular na forma presencial e online. Também é uma utilizadora da clínica peripatética em casos específicos.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.