Sobre mulheres e dietas
Já repararam que todas as revistas femininas publicam pelo menos uma coluna sobre dietas? A indústria das dietas prospera, por isso o tempo todo as mulheres são bombardeadas por imagens de corpos ideais, tentando copiar e chegar a um ideal nunca alcançável. Acabam se submetendo a inúmeros tratamentos estéticos e cirurgias, dietas, medicações... E tudo isso vai gerando enormes frustrações e sofrimentos.
A imagem de mulher bela ligada a bondade se faz presente desde os contos de fadas. Por meio da beleza, a mocinha conquista um mocinho e são felizes para sempre. Ora, então, se quero ser feliz para sempre devo ser bela e isso irá atrair o príncipe? Parece que desde cedo somos ensinadas assim: uma vida boa depende da beleza, além de que ser escolhida pelo príncipe irá transformar a bela mocinha em princesa.
Mulheres aprendem desde cedo a cuidar da casa inclusive da alimentação, mas nunca devem comer demais. Uma mulher gorda é apontada como incapaz de controlar seu peso, apetite e impulsos. Quantas vezes, disfarçadamente, empresas não deixam de contratar mulheres gordas baseadas nessas crenças?
Uma mulher com apetite é ensinada a nunca o saciar, temendo o ganho de peso e tudo de ruim que possa lhe causar, eis que a compulsão alimentar, predominante em mulheres, têm sido cada vez mais frequentes. O que será que significa para cada mulher o comer em excesso?
Quantos filmes não fazem piada com a figura da mulher gorda e seus relacionamentos? Parece que não há um entendimento de alguém com um corpo não considerado belo possa ter coisas boas dentro de si.
A experiência de ser mulher em nossa sociedade certamente tem relação com a compulsão alimentar, uma grande transgressão a todos esses padrões e fantasias internalizadas.
O ato parece trazer à tona uma agressividade voltada para si mesma, mas também um ataque a essas vozes internalizadas sobre padrões, dietas e tantos sofrimentos ligados ao feminino.
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Mariana Pavani
Psicóloga clínica, atuo em consultório particular em Campinas-SP. Fez especialização e cursos livres em psicanálise. Sempre gostou muito de ler e é curiosa, o que a levou a escrever alguns textos e criar blogs desde cedo. No início na clínica, escrever foi algo que a ajudou e ainda ajuda, pois a mantém estudando e além de facilitar a comunicação com pessoas sobre variados temas.