Sobre Gente e Diversidade

Gosto muito de perguntas e costumo ter muito mais perguntas que respostas. Espero nunca me sentir tentado a inverter esta ordem. Imagino como seria bem chato uma vida só com opiniões e certezas.

Algumas perguntas que me vem à cabeça quando penso em diversidade:

O que é o diferente? 

O que é o diverso?

Por quê o diferente choca?

Será que o diferente choca porque fere expectativas?

Foto: Eugenio Marongiu / Canva

Nos habituamos a viver com modelos e talvez isto tenha começado com uma necessidade prática de replicar coisas úteis.

Pegue um modelo industrial, por exemplo. Este modelo pressupõe uma fôrma, com a mesma forma. Forma e fôrma. Fôrma que dá forma. Um bom par, até…

Modelos não tem diferença. Não podem ter, senão não servem. Não prestam.

Modelos têm sua utilidade, sua razão de existir.Facilita um bocado de coisas. 

Receitas, fôrmas, modelos, fórmulas. O que tudo isto tenta criar? 

Resultados iguais, padronizados. Com a mesma forma, gosto, aparência, textura, tamanho, cheiro...enfim, a mesma coisa. 

Coisas iguais.

A fórmula, a fôrma, nos prometem um alívio ao desamparo humano: o desamparo da incerteza.

Mesmo assim ainda acho que fôrmas tem seu lugar. 

Gosto da ideia de voar em aviões padronizados, andar em carros que não explodem. De novo, coisas. 

Coisas iguais.

O problema é quando começamos a tratar a vida como um conjunto de coisas. E só coisas.

Aí é quando a coisa “descoisa”. A vida é “descoisada”, “desenformada”, “desmodelada”.

Certo, terão aqueles que dirão que o DNA tem um certo código que busca replicar uma estrutura celular, etc, etc. Sei disso. 

E também gosto da ideia do meu fígado ser um fígado padrão. Mas fígados não andam por aí sozinhos, não é mesmo?

O legal é a mistura: um fígado com um pâncreas, uma vesícula, um par de rins, um cérebro, um par de olhos….

Mistura.

Essa mistura cria outras coisas, mas coisas “descoisadas”.

Parecidas entre si, mas diferentes. 

Com uma mesma fôrma mitocondrial, genética, mas absurdamente diferentes uma das outras. 

Essa coisa se chama Gente.

Somos Gente.

Tem gente legal, doida, canalha, perversa, falsa, carente, religiosa.

Tem gente jovem de alma, gente com alma de velho.

Gente que gosta de frio, de macarrão com feijão, cerveja sem álcool.

Gente que sabe cuidar da elétrica da casa, gente que faz poemas.

Gente que gosta de gente. Gente que gosta de fazer gente.

Gente que mata gente. Gente que não se importa com quem mata gente. Gente que gosta daquele que não se importa que matem gente.

Gente que sonha, gente que só dorme.

Gente que chora fácil. Gente que chora pra dentro

Gente que gosta de coisas mais do que de gente.

Gente que gosta de todos menos de si.

Gente que gosta de si mais do que do outro.

Gente que gosta de abraço, gente que tem saudade.

Gente que se arrepende, gente que nem lembra depois

Tem gente que ama seu trabalho. 

Tem gente que apenas sonha em ter algum.

Gente. Diferente. Divergente. 

Quando penso em diversidade passo antes por um auto trabalho de coragem e de aceitação de mim. Isto me parece muitas vezes um ato subversivo mesmo.

Como se a aceitação de si fosse um ato de rebeldia, desobediência até.

Por que dói se sentir diferente? 

Por que pode ser tão difícil ser o único em um certo ambiente a pensar como penso, valorizar o que valorizo, a rejeitar o que outros adoram?

Por que nos sentimos errados?

Sabe uma coisa…fico aqui pensando em quais fôrmas quero manter e quais quero jogar fora.

É, parece que a diversidade choca.

Que choque então…

***

João Paulo Ferreira

Coach ontológico, pós-graduado em Finanças pelo Insper e executivo do mercado financeiro.

João Paulo Ferreira

Coach ontológico e pós-graduado em Finanças pelo Insper, construiu sua carreira no mercado financeiro e hoje cuida de pessoas e de si como sócio executivo do Appana Território de Aprendizagem.

https://www.appana.com.br/
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