Consciência – abraçando nossa inteireza dentro dos ciclos femininos

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“Mulher de fases!” dizia o hit dos anos 90 da banda Raimundos. Brincadeiras e um pouco de saudosismo à parte, fato é que somos cíclicas. Ser mulher é vivenciar constantes mudanças físicas, hormonais, emocionais, tudo junto e misturado. O ciclo menstrual tem influência direta no bem-estar da mulher, na disposição física e mental e no humor. Alguns sintomas que se manifestam, e variam de intensidade de um mês para o outro e de uma mulher para outra, podem indicar como estamos respondendo à vontade natural do nosso corpo.

Fecha um close em “vontade natural do nosso corpo”, pois sim, esses movimentos cíclicos são naturais, são parte do ser feminino que somos e cada fase nos convida a um posicionamento de expansão, intensificação, dinamismo ou introspecção, enraizamento, pausa, liberação. Sentimos dores, inchaços, uma variação enorme de hormônios acontecendo, diversas mudanças visíveis e não visíveis impactam nosso corpo e é comum que nosso bem-estar fique comprometido em alguns momentos, especialmente quando silenciamos a voz do nosso corpo que nos conta a necessidade de cuidar de algo que está em desequilíbrio.

No entanto, é notório que a sociedade atual não sustenta a realidade vivenciada pelas mulheres. Somos cobradas a nos comportar praticamente como robôs, ignorando a voz do nosso próprio corpo para cumprir tarefas do contexto profissional e pessoal em que vivemos. Somos instigadas por propagandas a simplesmente tomarmos um comprimido para estarmos rapidamente disponíveis para atender as demandas de produtividade e ganhar o selo de “mulher guerreira”.

Não é natural, e não podemos deixar que seja naturalizado em nossa sociedade, exigirem que a mulher apenas anestesie seus sintomas e se comporte como uma máquina programada para executar tarefas, entregar resultados e satisfazer todos à sua volta, sem reclamar.

Essa engrenagem social é cansativa, nociva e desconsidera por completo a beleza da inteireza do ser feminino
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Há de se considerar, ainda, que não conseguiremos sequer dar conta dos afazeres se estivermos em desequilíbrio, pois o resultado terá sempre alguma ponta solta, seja nossa saúde, nossos relacionamentos ou as próprias tarefas em si. Negar isso é negar nossa integridade enquanto mulher, é negar nossa humanidade, é negar nossa existência plena no mundo! Faz-se urgente uma transformação na maneira com que lidamos com os ciclos femininos e cuidamos da saúde e do bem-estar físico, mental e emocional de meninas e mulheres.

Então, como equalizar? O primeiro passo de qualquer transformação começa sempre por nós mesmas; a partir da consciência de como nossa ecologia interna funciona, como estamos no momento presente e quais estratégias de autocuidado temos à mão, podemos organizar nossa rotina de forma a trazer maior equilíbrio para a balança entre as demandas cotidianas e o nosso bem-estar, afinal propósito, contribuição, saúde e bem-estar são todas necessidades humanas universais.

Sabemos que as mudanças de humor podem trazer conflitos com as pessoas ao nosso redor caso não sejam bem gerenciadas, por isso é importante que a mulher reconheça os convites que cada fase de seu ciclo está lhe fazendo. Alguns hormônios estimulam maior atividade, podem influenciar nossa autopercepção corporal e autoconfiança positivamente, outros tendem a reduzir um pouco nossa disponibilidade de energia. É um baita desafio!

As fontes em que mergulho para desenvolver meu autoconhecimento me ensinaram a escutar essa voz do corpo e compreender que o primeiro recurso que temos à disposição, a qualquer momento, é a auto-observação. Desenvolver um olhar atento, presente e gentil com nossos movimentos internos (corpo-mente-emoções) nos permite conhecer cada nuance do nosso ser e do que precisamos para reabastecer nosso tanque de bem-estar. Sugiro uma prática de pausa consciente que pode te ajudar nesse processo:

a) faça uma pausa ao longo de cada dia - reserve alguns minutos, sente-se numa cadeira com a postura ereta, mas sem rigidez, apoie os pés no chão e feche os olhos;

b) traga a intenção de focar sua atenção na respiração por algum tempo – não precisa mudar a forma como respira;

c) faça um escaneamento direcionando sua atenção para as sensações do corpo – se notar algum ponto de tensão ou dor veja o que é possível fazer de forma delicada para trazer algum conforto e relaxamento;

d) amplie esse escaneamento para suas emoções e pensamentos, apenas observando o que está vivo dentro de você agora.

Trazer autocompaixão e gentileza para se escutar, acolher e resgatar a consciência de que esses movimentos são naturais do ser feminino e cíclico que você é, diminuindo eventuais resistências ou julgamentos sobre o que for percebido, é essencial para iniciar uma prática de autocuidado.

O simples ato de pausar, observar, (re)conhecer a si mesma e validar o que é e como está no momento presente é uma estratégia de autocuidado que já pode trazer muitos benefícios para o seu bem-estar.
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E talvez essa pausa te apoie a serenar a mente e encontrar outras estratégias que ampliem esse cuidado, pelo menos para amenizar alguns efeitos mais desgastantes e potencializadores de conflitos - p.ex. reagendar uma reunião com tema mais áspero, acionar sua rede de apoio para uma determinada atividade, ter um momento de resguardo e silêncio sozinha, praticar algum exercício que libere a carga excessiva de energia (por vezes inflada por sentimentos como raiva e frustração), afinal nem tudo precisa ser “zen”, basta canalizar essa energia para uma direção positiva.

Veja que não há uma meta de equalizar 100% sempre, o que importa é não se afogar num mar de trevas deixando-se levar pela correnteza inconsciente de total desconexão com você mesma. A consciência nos traz liberdade de escolha! Praticar esse movimento de resgate da sua integridade feminina e retomar o poder de escolha sobre sua própria vida, gerenciando, dentro dos seus limites, as atividades que cuidarão de todos dentro de suas relações, a começar por você mesma. Assim, o segundo recurso que temos disponível é a escolha consciente de autocuidado.

Estar lúcida para ser livre! É assim que iniciamos uma mudança na engrenagem.

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Debora Andrade

Aprendiz da vida, em constante (des/re)construção, praticante de yoga, meditação e trekking, energizada pela natureza, interessada em temas relacionados ao autoconhecimento, gestão das emoções, relacionamentos interpessoais e integração do ser humano com a natureza. Multiplicadora da Comunicação Não Violenta e mediadora de conflitos com ênfase em mediação familiar. Dedico-me a projetos que envolvam a construção de conexões humanas por meio da CNV, da mediação de conflitos e outras práticas que estimulem a autoconexão.

Debora Andrade

Aprendiz da vida, em constante (des)construção, praticante de yoga, meditação e corrida, interessada em temas relacionados ao autoconhecimento, gestão das emoções e relacionamentos interpessoais. Acredito na vivência do ser humano em harmonia com a natureza. Estou cursando formação em Comunicação Não Violenta. Já atuei como advogada especialista em contratos no mercado corporativo por mais de 10 anos. Atualmente me dedico a projetos que envolvam a prática e disseminação da comunicação não violenta em prol de um mundo de paz.


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