Mulheres em movimento
Dedicar um determinado mês a temas importantes contribui para chamar a atenção das pessoas para questões sobre as quais o aprendizado, ou mínima familiaridade a respeito, são essenciais para o processo civilizatório. Processo civilizatório é aquele que estimula a cidadania por meio da cultura e do acesso à informação relevante e confiável, que diz respeito à preservação e promoção de uma vida saudável a todos, sem exceção, individual e coletivamente.
O mês de março é considerado o mês da mulher, em que nos propomos a dar especial atenção a como é ser mulher na atualidade.
Inicialmente quero esclarecer que minhas ideias têm origem em vivências, minhas e de outras mulheres, sendo fruto da convivência, das trocas, da observação, da presença, do contato com histórias de vida e de morte, ainda que nem sempre nossos olhares tenham se cruzado uma vez sequer. Observadora que sou, não raro me percebo testemunhando a existência e a forma de cada uma estar no mundo.
Nosso cotidiano materializa forças construtivas e destrutivas, avanços e retrocessos, luz e sombra. Boa aparência em uma face e bastidores mantidos a sete chaves em outra. Vivemos em meio a intensos contrastes. Crianças superprotegidas e cuidadas estão na mesma calçada em que perambulam crianças que há muito não sabem o que é se divertir. O sim e o não como experiências prevalentes, sem ponderação.
Cada época tem suas causas pelas quais devemos lutar, que nos motivam a sair no mundo. Parte da beleza de ser humano é o envolvimento, para o mundo ser melhor para todos.
Mulheres no ônibus, bolsas e sacolas, celular ligado: resolvem os problemas do vizinho, do filho, do vizinho do vizinho, dos pais que moram em outro estado, da colega que perdeu o emprego: “pode deixar que eu vou ver com a amiga da minha amiga, vamos conseguir, fica tranquila que vai ficar tudo bem”.
Mulheres especialistas em cortar caminho, fazerem três, talvez quatro coisas ao mesmo tempo, incluindo imprudências no trânsito e chegarem à porta das escolas, sorriso no rosto e ouvidos disponíveis.
Mulheres que administram inúmeras frentes simultaneamente. Exemplos de gestão eficaz.
Mulheres cuja atitude reflete a prevenção ao desperdício, seja de comida, de água, de energia. Aprendem e ensinam ao longo de gerações, a reaproveitar, a fazer mais com menos, visando a sustentabilidade, conceito oposto da exploração.
Ser mulher implica em deixar para trás a ingenuidade e abrir caminhos. Questionar os valores que vem determinando o uso da energia de vida, em grande parte os articulados ao mundo do trabalho e às “bancas de avaliação”.
Desacelerar já não basta. Ser resiliente não resolve no longo prazo, porque não gera mudança.
Começar por nós mesmas é condição necessária, ainda que insuficiente. Cultivar uma conduta que possa, de alguma maneira, em algum momento, encorajar mulheres e meninas a não duvidarem de si, mantendo-se abertas à transformação, apesar do medo ou justamente pelas provocações que nos traz. Talvez a jornada heroica feminina tenha muito a ver com adquirir confiança sobre o valor de sua efetiva participação no mundo. Tem a ver com aceitar incertezas, enfrentar desaprovações aprendendo a negociar, afinal, a unilateralidade é um campo estéril.
Ser mulher, ser homem, ser gente, transgênero, transmutado, transportado, transformado, transcendente.
A ousadia em quebrar padrões sendo acompanhada de ações que façam dos conflitos inerentes à transformação, uma oportunidade de avanço e ir além da mera disputa por espaços de poder e tudo permanecer como está, mudando apenas de figurino.
Diferenças na remuneração, no exercício de cargos de liderança, no investimento em desenvolvimento profissional. Violências explícitas e implícitas. Para fazer valer o salário tem que saber jogar em todas as posições e ainda ter fôlego para tapar buracos, compensar faltas e ineficiências circunstanciais. Tornar-se indispensável.
Depressão acomete mais meninas e mulheres. O número de mulheres desempregadas é maior que o de homens. O percentual de mulheres dispensadas após se tornarem seres invisíveis aos cinquenta e poucos anos é desconcertante.
Ser mulher é empreendedorismo. É tentar criar espaços intermediários, onde encontrar mais pontos em comum do que divergências. É reciclar. É movimento.
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Marcia Moura
Psicóloga, curiosa por diferentes saberes e perspectivas, tem dificuldade de responder sucintamente à pergunta “o que você faz?”. Interessada por pessoas, que são um mundo que se revela a cada encontro e transformam a quem se deixa afetar. Gosta de pensar junto, criar e realizar junto, de ser par, ser parte. Há muito se dedica a cultivar sementes, sempre com a convicção de que irão, cada uma a seu tempo e no tempo possível, viver e expressar sua singularidade.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.