Estar na Pele da Bruli: Página 04

Oie tudo tudo? Espero que sim.

O mês de março chegou e com ele vem a vontade de falar sobre as nossas questões, os nossos desafios, os lugares que temos como meta e objetivos, mas que ainda não chegamos lá. Ainda há muito caminho a percorrer dentro do modelo de sociedade em que vivemos… E se continuamos engatinhando enquanto indivíduos, o que dirá da nossa sociedade então? Os reflexos catastróficos estão cada vez mais escancarados, e esse assunto e a complexidade que o abarca é um tanto complicado pra mim na hora de colocar pra fora, mas como adoro um desafio, vou tentar! Pois bem, é tempo de falar sobre a mente e os ciclos femininos.

Muitas vezes a vida vai nos consumindo e a gente não para pra pensar na ideia de que temos ciclos de polaridades que nos abraçam como autoconhecimento e direcionamento. As pessoas “modernas” em geral se esqueceram de olhar da barriga pra baixo com carinho, até o baixo ventre; parece que elas não têm tempo, estão correndo demais pra resolver demandas aparentemente mais importantes. Olhamos para a genitália como sexo e fricção, e para a mente com aquele velho pensamento safado meritocrata cheinho de metas a cumprir. Estamos cristalizadas performando algo que nem sempre se sustenta. Simone de Beauvoir já disse lá trás uma frase muito real: “ninguém nasce mulher, torna-se mulher.” Essa afirmação sempre me acompanha, e me atormentou por muito tempo.

Pra mim, não há dúvidas de que o feminino é muito, muito poderoso, ousaria afirmar, que na situação atual que vivemos, é mais poderoso que o masculino, justamente porque seria interessante e curativo todos entrarmos em contato com o oculto e receptivo que essa polaridade oferece. Nós mulheres, por sermos tão objetificadas e menosprezadas desenvolvemos uma capacidade de campo de pesquisa maior do que os homens… Parafraseando Freud “a falta é o que nos faz buscar”, e isso não é justificativa para o machismo, é só uma reflexão para o olhar apurado que desenvolvemos, como por exemplo: olhar para um homem e reconhecer potencial capacidade de ser um cara escroto. No meio místico vão chamar essa capacidade de “lua”, justamente pela ideia de que os ciclos são orientados através das fases lunares, e isso tem muito fundamento, pelos menos pra mim. Na época da lua cheia (que ela está grávida) é o momento de parir sonhos - torná-los reais, dar vida ao novo e a esperança, se afirmar como indivíduo. Na minguante é tempo de recolhimento, investigações, silêncio, banimento e encerramentos. Citei essas duas fases porque são as que mais admiro, mas te convido a investigar mais em si as fases da lua, pode ser um exercício bem interessante, afinal esse único satélite da Terra tão seduzente não está à toa nos céus, não é mesmo? Ela é um rochedo esférico como um asfalto mas permite refletir a luz do Sol, controla as marés e funciona como uma antena, tem influência nos eclipses e há séculos vem servindo de inspiração para diversas obras de arte e literatura. Fica a reflexão!

Nesse barco de reflexões sobre o feminino, te convido a incluir sempre nas suas discussões as mulheres trans, travestis e outras identidades ou performances femininas binárias ou não. Eu sou uma mulher trans, e só falo disso quando me sinto num ambiente seguro, já que ainda há muita violência e opressão por nossas existências. Tudo o que é feminino é objetificado e/ou ainda choca a sociedade fálica.

Comecei esse processo de investigação do meu corpo há um pouco mais de cinco anos, mas que na verdade deriva-se de uma vida toda. Logo eu, que sempre vivi com os pés no mundo da lua por medo de aceitar quem eu sou, fazer esse “update de sistema” e viver minha verdade, me coloca com os pés bem postos e firmes no chão e a cabeça como uma antena para a lua; e isso não tem preço. Já precisei muito da afirmação da sociedade e, em especial de homens para me aprovarem como mulher, para me sentir desejada, bonita, atraente. Hoje em dia não preciso provar para ninguém sobre ser mulher, porque sei quem eu sou - nesse quesito, e tenho muita preguiça de discutir com pessoas transfóbicas, o meu silêncio e apatia tem sido o melhor ativismo.  

Se preservar quando não há abertura do outro lado é o mais importante, afinal precisamos estar vivas. 

Acho muito interessante a vivência de ciclos e como vamos abrindo horizontes, expandindo, visto que, biologicamente eu não tenho útero, mas tenho uma espécie de, vamos chamar de: útero emocional e etérico. Eu faço reposição hormonal e é muito interessante perceber e dançar com esses velhos e novos ciclos, como eles me alquimizam e me convidam a construir minha história. E a lua é uma ferramenta essencial no meu processo como mulher e ser humano. Também acho bonita a leitura de que tudo que respira tem polaridades masculinas e femininas. Eu demorei um tanto pra aceitar meu lado masculino mas ele me permite coisas incríveis também, como por exemplo ser mais objetiva e ter aberto o espaço pra trazer essa mulher que eu sou pra terra. Sou muito grata.

Agora, abrindo mais um pouquinho do meu coração pra você, ultimamente um dos ciclos que mais me acompanham é observar o desconforto como ensinamento, gosto de pensar que no núcleo do nosso átomo há o vácuo, e que esse vazio permeia tudo o que existe… Por isso nos questionamos tanto em determinados momentos da vida. O micro imita o macro e vice-versa. Sabe aquela sensação de que parece que não aprendi nada nos últimos anos? (eu sei que numa visão mais cosmológica isso não é verdade, mas preciso acolher essa parte minha que pensa isso, e na real, acho bastante interessante essa indagação)

A pandemia e a observação do mundo do lado de fora, as guerras etc e tal… tudo isso está cada vez mais forte e nos fazendo acreditar que é o mais real que está acontecendo agora… e esse “não saber” que está passando por mim é uma sabedoria também. Estou entendendo na análise - viva a força da terapia - se esse meu momento é um estado depressivo ou uma depressão mesmo, e pra isso eu preciso também da minha solidão e solitude (elas andam se misturando com frequência) e dê tempo ao tempo, acho que o tempo é um dos grandes mestres e pode nos ajudar. Inclusive, o Tempo é um Orixá no candomblé de Angola, chamado de Kitembo, simbolizando o tempo cronológico mesmo e o crescimento natural das coisas. 

Sem delongas de tempo, hoje eu fico por aqui, com todas essas reflexões como lição de casa pra mim mesma, e fecho com uma sabedoria do senhor Kitembo: “Mesmo que a árvore caia, se a raiz estiver viva, brotará.”

Nos vemos por aqui!

Obrigada pela leitura, espero que tenha feito sentido e te ajudado.

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Bruli Maria

Se declara uma cuidadora do planeta, apaixonada por gatos e multi-artista, trabalha como: atriz, dj, modelo, taróloga, micro-influenciadora e terapeuta; e agora se aventura no universo da escrita também por aqui. Mora na mata atlântica de Nazaré Paulista, o que a permite uma escuta profunda com a vida e com a natureza.

Bruli Maria

Bruli se declara uma cuidadora do planeta e apaixonada por gatos, trabalha como atriz, modelo, criatura de conteúdo e terapeuta; e agora se aventura no universo da escrita também por aqui e em outros cantos também. Atualmente mora em São Paulo e é integrante do Teatro Oficina Uzyna Uzona.

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