Ecos do Estar: Arte da paz capítulo 2, por Paula Neves
A história de como Luana se tornou só (forte). Capítulo dois.
*Leia texto anterior: A história começa aqui (antes de Luana dar conta de si). Capítulo um.
O abuso acontecia porque achavam que ela era fraca. Ela era insegura, diferente de fraca. Abuso significa o quê nesta história? Ele começa com uma simples invasão de espaço, uma auto-afirmação perante uma suposta fragilidade do outro, aconselhar demais, fazer o ouvido do outro de penico e por aí muitos abusos acontecem em diferentes tipos de relações.
De fato, o músculo fraco de Luana era o de acreditar em si. Este era bem fraquinho. Ela custava acreditar em si. Precisava de uma referência externa constante para se sentir segura, para sentir que podia, que merecia conquistar o que se propusesse. Ela tinha a força do impulso inicial, mas diante dos obstáculos essa força pelejava para se sustentar. Diante das dificuldades, Luana imaginava uma lava ardente vindo em sua direção. O obstáculo de alguma forma em sua mente era o sinal do fracasso, da desaparição, da morte. E ponto, melhor voltar atrás, recuar, ir por outro caminho onde não tivesse que enfrentar o seu medo de não existir. Era nessa brecha que Luana entregava ao outro o seu poder e se rendia ao que o outro queria, pedia, aconselhava, fazia.
Dessa forma, Luana acabou acreditando que o seu jeito de ser era volátil, influenciável, definido pelo que o outro dizia sobre ela, afinal, ela tinha dificuldade de sustentar caminhar sobre suas próprias pernas, assumir as suas próprias decisões e desejos. Sofria com esse conflito de querer sem achar que podia e merecia.
Quem por algum motivo não vê lógica nisso, pode achar tudo uma grande tolice. Pois assim, muitos acontecimentos ficam no camarim, poemas guardados nas nuvens, sementes atrofiadas embaixo do chão. Insegura, Luana, não ocupava o seu espaço. Perante os obstáculos, não dobrava a aposta em si. Esperava que o outro apostasse nela para que pudesse ela acreditar.
A insegurança nos leva por caminhos tortuosos. Nos faz imaginar o inimaginável e nos torna refém da fantasia. Quando somos inseguros, fugimos da realidade e custamos testar os nossos limites. Não enfrentamos a verdadeira batalha do eu. Nos escondemos em artimanhas, entregamos a responsabilidade da nossa vida ao outro, seja este uma pessoa, relacionamento, empresa, partido, religião.
Estou presa, sentia Luana. Presa nesse emaranhado de pensamentos embolados. Por momentos sei o que fazer. Às vezes reúno coragem e motivação, mas quando a minha escolha me pede para resistir, fraquejo, paraliso, me distraio, fujo, me isolo, me sinto um lixo e sozinha.
Como sair dessa visão da lava ardente vindo em minha direção? Como acreditar sem saber do futuro?
A crença do outro nela funcionava como algum tipo de garantia do seu sucesso.
E essa garantia lhe trazia uma sensação de conforto, de confiança. Permanecer no desconforto da incerteza para Luana era correr o risco de fracassar, desaparecer, morrer e isto ela desconhecia como suportar. Luana não compreendia que errar era a única certeza no caminho, além da morte.
Quando se apaixonou por Sebastião e por como Sebastião a fazia sentir - plena, independente, divertida - Luana se sentiu confiante e em casa. Reconheceu, pelo menos, que aquela era uma casa em que gostaria de morar. Sebastião admirava sua poesia, acreditava nela como artista. Ah então, diante de todas as incertezas, ela também conseguiu acreditar. Se soltou bela, se acreditou capaz, mesmo com as mudanças todas de casa, cidade, profissão. Apaixonar-se trouxe essa sensação de ter encontrado casa para o coração. Então encontrou uma espécie de paz, daquelas gostosas de quando a gente se sente bem em casa. A paz de poder ser, apenas ser.
Até que não mais. Dificuldade. Obstáculo. Vulcão. Lava. Fracasso. E o ciclo de pensamentos se reiniciou dando voltas e voltas seguido de paralisação.
Para Luana a paz não durou muito. Ela se viu linda, mas conseguiu se ver porque se via através do olhar externo que a admirava. E chorou por alguns meses pela perda desse amor, dessa sensação de casa. Sofreu, principalmente, pela perda de confiança em si.
Mas este é o capítulo em que Luana se torna forte, forte na capacidade de deixar passar o sofrimento, de não se sentir definida pelo outro, de só ser.
Persistiu na possibilidade da sua sensibilidade se tornar palavra, se tornar canto, se tornar som. Quando criança ela sabia o segredo maior do mundo, mas havia se esquecido. Depois de adulta ficou adulterada, sem saber bem o que era brincar.
E brincar lá é ser forte? Sim, esse foi o segredo que Luana se recordou. É que brincando usamos a imaginação. E aquela compulsão pelo pensamento de lava ardente vindo em sua direção deu espaço novamente para aquele tempo quando nem lembrava que existia tempo. Era só (forte) e sabia seguir a sua inspiração.
Continua…
***
Paula Neves
Uma cidadã do mundo, amante das artes e eterna buscadora da verdade. Bailarina, desde criança encontrou na dança a espinha dorsal de como se expressa no mundo. A partir daí, em seu caminho já foi atriz, publicou um livro infantil, trabalhou com relações comunitárias em grandes corporações e com inovação social em uma ong de design.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.