Estar na Pele da Joice: Página 07
Uma mulher em busca de sanidade
Eu sempre amei camisetas. Confesso que nunca gostei de nada muito apertado ou elaborado, uma camiseta, uma calça e um tênis sempre me pareceu confortável - só não supera a meia com chinelo - mas isso sempre foi um dilema na minha vida. Quando eu era criança, lembro das comparações com outras colegas “mas por que ela não usa um vestido?” ou “Tão bonitinha, tem que se arrumar mais”.
Ainda na infância, lembro de amar futebol, jogar com os meus vizinhos na rua e com os colegas da escola. Basicamente, eu era a única menina. Isso também era estranho para muitas pessoas. Ainda mais porque eu não gostava de usar vestidos (socorro).
Essa é recente: há alguns meses, fui ao mercado e coloquei as compras em uma caixa. Um homem, de aproximadamente 50 anos, veio me ajudar e eu disse, educadamente, que não precisava. Ele ficou indignado e ainda resmungou algo do tipo “agora mulher blá blá blá”.
Em um trabalho, o chefão do setor me chamou para dar um feedback. Eu era estagiária e ele me disse que eu parecia fraca ao pedir desculpas o tempo todo. Um outro homem do setor de tecnologia, tinha - o que eu achava na época - uma “mania” estranha de ficar tocando as mulheres. No braço, no ombro. Aquilo era horrível.
Outro dia, eu li a publicação de um homem que falava mais ou menos assim: “saudades das mulheres de antigamente”. Oi? Qual é a sua saudade especificamente? Quando a mulher tinha que pedir autorização para o marido pra conseguir fazer uma viagem?
Nós mulheres, mulheres-trans e travestis precisamos nos provar o tempo todo. Provar que conseguimos. Provar que somos boas. Provar que merecemos uma promoção. Provar que aguentamos o trabalho. Provar que sabemos o que estamos fazendo. Cara, é tanta prova que tem hora que a gente se pega provando em silêncio.
Eu sinto muito que na escola não nos ensinaram, na íntegra, o propósito do Dia Internacional da Mulher. Mas fico feliz por entender, hoje, todo o significado por trás desta data. Não é sobre flores, presentes e elogios. É sobre igualdade, autonomia e respeito.
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Joice
Tia da Duda e da Ana, comunicóloga, relações públicas por formação, ama fotografar pessoas e plantas, escreve para se encontrar e é uma mulher em busca de sanidade há muitos anos. Acredita no poder das pequenas e boas ações e que o amor é a chave para um mundo melhor.
Neste mês das mulheres, em que refletimos sobre o nosso papel em sociedade, uma pergunta me fez pensar sobre o nosso estado emocional, em que muitas de nós se percebe em solidão e clamam por uma companhia.