“São fáceis porque são pobres”
A insistência do discurso social em designar um modus operandi de como a mulher deve ser e se comportar existe desde sempre e em diversas culturas. As inúmeras tentativas de colocá-la na posição de objeto escancaram, por um lado, os corpos como moeda de troca, alvo de violência e assassinatos. De outro, esse discurso vela e tampona o feminino particular de cada uma.
A discussão sobre a mulher não é mais designada por uma questão biológica, já que não estamos falando de macho e fêmea. A escolha de gênero faz desaparecer essa vertente do tema e, assumir-se como mulher, deixa de ser baseada no órgão sexual.
Esta é uma pergunta ontológica. Tal definição é feita pela diferença, pelo negativo e não por sua suposta identidade. No dicionário, homem é definido como ser humano em geral, mamífero bípede, dotado de inteligência e linguagem. Mulher é o substantivo feminino da espécie humana. Se não é mais a biologia que a determina, não há um atributo exclusivo, uma essência universal. A identificação daquela que se nomeia “mulher” não se completa em um conjunto, em um complemento, pois o feminino experimenta no corpo, segundo a psicanálise, algo sem forma, sem palavras e sem razão.
O discurso patriarcal, enquanto insiste em estabelecer semblantes que determinem o que é ser mulher, também exclui sua essência. Negar a mulher, e negar a ela, parece mais fácil do que escutar sobre aquilo que escapa a ordem do saber do dicionário ou da biologia.
Sem inscrever a mulher em categorias normativas determinadas por um ideal social, a feminilidade pode ser o caminho a nos dar pistas sobre o enigma do que é ser mulher, no singular. Ser mãe, por exemplo, não diz o que é ser mulher. Em alguns casos isso pode se cruzar, mas em outros, não.
É a linguagem que faz o ser existir. Inclusive aquilo que não existe tem a chance de existir quando é falado. Nesse sentido, coragem pode ser entendida como dar lugar ao que não se sabe. Escutar como cada ser humano que se identifica como mulher, constrói sua própria feminilidade, onde e como está ancorada sua existência e sua relação com o outro. Mas socialmente, parece ser mais simples negar, diminuir, violentar, objetificar ou matá-la. A cada dez minutos uma mulher é estuprada no Brasil.
Não há dualidade heteronormativa que dê conta da determinação de gênero. Primeiro, porque mesmo que haja uma identificação ao outro e um reconhecimento de si no outro, há algo da feminilidade que não diz respeito a nada pré-estabelecido. Segundo porque, mesmo que a mulher esteja inserida na mesma lógica de todos os seres humanos, ela está lá parcialmente. Por isso não é complementar a norma, mas suplementar a ela. Como diz Lacan, não se cruzam e não se completam. Disso só se sabe quando se experiencia. Apenas é.
Aquilo que não se sabe, fascina, causa desejo e curiosidade. Mas o desconhecido também causa repulsa, violência, nojo e ódio. Tomada como valor menor, a mulher é colocada na lógica universal. Tomada como livre e dona de si, em excesso. O problema é que não se trata de uma medida de valor, mas de uma borda. O limite estabelece um dentro e fora, uma totalidade para ser ou não ser. A borda parte do que não se é, para então bordear o que é. Para muitos pode ser insuportável aquilo que não entra na lógica do equilíbrio, da unidade e da uniformização. Em contrapartida, a mulher pode saber que aquilo que o discurso social promete é apenas semblante de ser.
A misoginia ainda hoje é aceita na tentativa de destruir e destituir a mulher. Muitos acreditam que caso o desejo dela seja mortificado, nada da feminilidade aparecerá. O estranhamento de si, e o horror daquilo que não se sabe nomear, toma forma no corpo da mulher, como alvo. Enquanto nela falta, é oco, vazio e objeto, o homem é aquele que sabe de si e é prudente. Para alguns deles, a mulher é apenas duas coisas: mamãe, com quem se fala, ou objeto sexual.
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Tem experiência nas áreas de Psicanálise, Gestão Institucional e Saúde Pública, atuando principalmente em temas relacionados à população em extrema vulnerabilidade social. Estes doze anos de experiência profissional foram perpassados pelo interesse entre a relação da subjetividade humana e o mal estar da civilização.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.