Estar na Pele do Reinaldo: Página 03
Na década de 50, um rapaz afeminado era chamado de “Fifi”.
Na rua onde eu morava tinha um. Com certeza, toda rua de São Paulo tinha um ou mais.
Toda vez que esse rapaz descia a rua para ir pegar o ônibus, ele era motivo de gozações por parte da garotada da rua, meninos e meninas, e eu era um deles.
Era algo que acontecia em cadeia. Era só o primeiro falar alguma coisa que o resto da turma se inflamava.
Até que um dia, eu estava com minha avó paterna na calçada, quando ele caminhava pela calçada do outro lado da rua. Sem ter noção do motivo, a palavra “Fifi” saiu da minha boca.
Na hora eu fui repreendido pela minha avó, e com ela não tinha rodeios, era papo reto e direto no que dizia respeito à educação e o recado foi o seguinte: “a próxima vez que você fizer isso você vai levar uma surra!”
Eu devia ter uns 7 anos e não tinha como entender aquela situação. Resumindo, nunca mais minha voz fez coro junto com a molecada da rua quando ele passava.
Bem mais tarde, já na adolescência, comecei a entender e me sentir mal quando eu assistia uma “agressão” desse tipo.
Respondendo à questão, na minha opinião, o ser humano não consegue viver sozinho. Ele tem necessidade de ser aceito, e a meu ver, qualquer tipo de rejeição afeta sua mente e desenvolve uma ferida interna que só cresce, levando a consequências graves.
Infelizmente, esse é um problema que vai perdurar por muito tempo. O ser humano evoluiu muito em vários campos, da ciência, da tecnologia, das artes, mas parece que existe um grande bloqueio em aceitar o seu igual ser diferente.
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Reinaldo Carmo Milito
Sou um “babyboomer”, apesar de brasileiro, taurino e super feliz por ter nascido numa família de descendentes italianos, moradora do bairro do Bom Retiro, na super querida São Paulo.
Tive uma infância de pé no chão, em rua sem asfalto, e à medida que eu crescia, ia percebendo as transformações internas e ao meu redor.
Como beatlemaníaco que sou, acredito muito na mensagem da última frase da última música gravada pelos Beatles, “o amor que você recebe é igual ao amor que você faz”.
Um poema sem fim" é como a Laura descreve seu processo terapêutico. Entre sonhos realizados e sentimentos de falta, ela compartilha a realidade de viver em meio a contradições. Tanta vontade de viver, mas também o peso de uma leveza que parece desconfortável.