Janeiro Branco: saúde da mente e sexualidade
A saúde mental é uma parte integrante e essencial da saúde. Porém, o estigma associado à depressão e ansiedade permanece elevado e 70% das pessoas com depressão não falam sobre a doença. Sem contar, que a cada ano, os baixos níveis de informação e a falta de acesso a tratamentos para esses transtornos levam a uma perda econômica global estimada em mais de um trilhão de dólares.
Diante deste cenário, neste Janeiro Branco (e no restante do ano!), queremos alertar sobre a importância de ter um cuidado especial com a saúde da mente, disseminando informações sobre o que é a saúde mental, além de conscientizar a população sobre os cuidados que podemos ter para uma saúde da mente de qualidade e, principalmente, reduzir o estigma que envolve a questão.
Saúde da mente e a sexualidade
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), muitos fatores podem prejudicar a saúde da mente das pessoas, como: grandes mudanças sociais, condições de trabalho estressantes, discriminação de gênero e raça, exclusão social, violência, violação dos direitos humanos e estilo de vida não saudável.
Algo presente em nosso cotidiano e que impacta nossa saúde da mente é a sexualidade. Ela está presente nos corpos expostos na rua, no carnaval, na pornografia, nos corpos gestantes, nos divãs de psicanalistas, no discurso político, nos movimentos por direitos, na literatura, mas também nos assédios sexuais, nos discursos de moralização de algumas instituições, em projetos do congresso para criminalizar o aborto, entre outros.
A sexualidade é um assunto complexo e, muitas vezes, alvo de conflitos, preconceitos e um boom de emoções. Repleta de contradições, conflitos e ambiguidades, ao mesmo tempo que pode ser cheia de prazeres e descobertas, a sexualidade também pode ser vivida com muitos medos, violências e traumas. Assim, pode-se dizer que as experiências de sexualidade são íntimas não porque elas acontecem na privacidade dos espaços privados, mas porque cada pessoa a vive de uma forma única e com as suas devidas particularidades.
Para Freud, fundador da psicanálise, a sexualidade é intrínseca às noções de prazer e estão inscritas no nosso corpo desde a infância. Ela faz parte do desenvolvimento psíquico do ser humano, que busca no fisiológico a satisfação de excitações, inclusive em sensações de prazer que estão ligadas à sobrevivência, como se alimentar, mamar, excretar, e claro, ter relações sexuais.
A sexualidade, seja no sentido de prazer ou mesmo de ato sexual, pode ter associações com culpa, vergonha, medo, nojo. E isso tem uma história importante, pois envolve dois agentes históricos importantes: as instituições religiosas e também as instituições médicas.
Um pouco de história…
Na Europa dos séculos XVI ao XVIII, sexo e as relações com o prazer foram dominados pelo discurso da Igreja Católica - como forma de controle sobre a vida terrena e também da promessa da vida eterna. Com a ascensão do conhecimento científico, as noções de sexualidade passaram a ser manuseadas e esmiuçadas pela medicina - que na época era integralmente exercida e proferida por homens de elite financeira e intelectual.
Na virada do século XIX, segundo o professor de Sociologia e Filosofia, Paulo Sérgio do Carmo, em seu livro “Prazeres e Pecados do Sexo na História do Brasil”, aqui no Brasil o sexo foi estudado por meio da concepção de devassidão moral e também pelas ameaças patólogicas de doenças, física e mental.
Quais são os ecos que permanecem ao falarmos de sexualidade, principalmente se levarmos em consideração em como as noções de culpa, nojo, medo, vergonha e outras formas de inibição afetam a saúde mental de indivíduos e também da sociedade?
Como dissemos, a sexualidade está presente em nosso cotidiano e, como tudo que está relacionado ao ser humano, impacta nossa saúde da mente. Por isso, escolhemos esse tema para o Janeiro Branco de 2023!
Afinal, queremos falar mais, ouvir mais … até que a saúde da mente vire parte do dia a dia das pessoas.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.