Colunista convidada: Silvana Guerreiro

Negação do ciclo menstrual: uma castração social?

Sabe aquela angustiazinha que vez ou outra aparece? Se você notar, vai perceber que aproximadamente uma vez por mês, ela se manifesta. Uma sensação de esgotamento, de que não vai dar conta, desmotivação, de cansaço, irritação, somada a um estresse, são sintomas naturais que vivenciamos, em razão das fases pré-menstrual e menstrual. Esses sintomas se potencializam, quando não damos à essas fases o devido respeito e cuidado. Nos forçamos a sermos produtivas, a fazermos aquilo que não estamos em condições emocionais e energéticas para fazer, interagimos de forma desnecessária, buscando nos colocar de forma linear na vida (quem nunca?!). Resultado: dores, angústia, tristeza, desânimo, raiva e uma negação ao próprio corpo, nos distanciando da possibilidade de termos uma relação saudável com ele. Se identificou?

Zoltan Tasi/ Unsplash

Esse resultado é de um período menstrual vivenciado de forma desrespeitosa que, na maioria das pessoas que menstruam, acontece de forma inconsciente.

Afinal, não somos educadas para entender nosso corpo, mas sim para atender toda uma demanda de expectativas sociais que recaem sobre nós.
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Expectativas essas, que foram criadas por homens e para atender aos homens. Ter educação menstrual é proporcionar que as pessoas que menstruam tenham autonomia, poder de escolha, independência, aceitação, liberdade.

Eu tive esse entendimento há alguns anos atrás, quando algo forte dentro de mim me sinalizou que eu deveria seguir, deixar fluir, que aquilo que eu estava vivendo não me pertencia mais. Diante de um horizonte de possibilidades incertas, eu confiei e segui. Hoje eu entendo que eu estava cumprindo papéis e atendendo expectativas, buscando “ter” cada vez mais e deixando de “ser” e de “sentir”. Eu vivia de forma linear, negligenciando 100% meu ciclo menstrual, odiava menstruar porque eu “precisava” estar sempre rendendo, o que me trouxe muitas dores emocionais como crises de ansiedade, baixa auto-estima, processos de comparações e até, depressão. Sem romantizar a menstruação e o ciclo menstrual - afinal é um processo doloroso e desafiador para muitas pessoas - compartilho um pouco do que vivi, porque sou resultado de uma mulher que foi condicionada a negar o próprio corpo, que nunca teve alguém ensinando sobre essa potência que carregamos e que, ao me conectar com meu ciclo, me descobri na minha forma mais genuína e isso é um direito de todas as pessoas que menstruam: ter a possibilidade de se descobrir verdadeiramente em sua essência. Isso é tirado de nós. É uma castração social.

É tempo de revermos a sociedade em que vivemos e olhar para o nosso comportamento dentro dela, é o primeiro passo.

Estamos buscando viver em nossa essência, acessando nossas potências ou seguirmos replicando aquilo que o patriarcado tem ditado há séculos?
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Eu acredito que o futuro da sociedade é feminino. Um lugar mais colaborativo, interdependente, abundante, cuidadoso, empático, conectado à natureza. Que traga um novo olhar sobre a economia, sobre as relações, sobre a política, sobre o meio ambiente, sobre a alimentação.

E se o futuro é feminino, é no presente que precisamos nos conectar com o ciclo menstrual, uma força grande que naturalmente carregamos e que não é explorada.

O futuro não é o lugar para onde estamos indo, mas o lugar que estamos criando. O caminho para ele não é encontrado, mas construído, e o ato de fazê-lo muda tanto a realidade quanto o destino
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Silvana Guerreiro - ativista menstrual e incentivadora da emancipação feminina

É terapeuta menstrual, educadora física, empreendedora social e gestora de operações e finanças. Em 2020 fundou o negócio social Educadora Menstrual onde idealizou o Projeto EmanCicla, um trabalho de educação menstrual em escolas da rede pública e comunidades tradicionais, para adolescentes e jovens que menstruam.



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