Saúde mental na perspectiva sociológica: qual o mal-estar dessa civilização?
Para a sociologia, basicamente o que somos pode ser definido pelo que, quando, com quem e onde vivemos. O ser social atribui sentido à existência e forma características da personalidade de uma pessoa, além de se debruçar em como esse conjunto de fatores formam a sociedade que exerce forte influência cultural e política na população, principalmente, no âmbito dos costumes, valores, desejos, projeções e pensamentos.
A nossa relação com o consumo é completamente atravessada pelo capitalismo, claro, relação com consumo existe em qualquer sistema, mas a forma como acumulamos e damos sentido a coisas desnecessárias é uma característica fundamental para a sobrevivência desse sistema que impera em nosso cotidiano. Hoje em dia, por exemplo, estamos completamente envolvidos com as telas e com a produção desenfreada de conteúdo na internet e a forma como somos influenciados nessas plataformas passa pelo funcionamento dos algoritmos digitais - sempre atentos aos nossos desejos e empurrando propagandas que consumimos sem nenhuma chance de escolher se queremos ou não ver - o que vai afetando e distorcendo a forma como nos enxergamos úteis, felizes, realizados e/ou satisfeitos.
A relação com o trabalho nesse contexto do capital também é distorcida, em vista de que, além dos preços inflacionados, somos forçados a desejar cada vez mais coisas que não precisamos, encurtando a renda de quem tem menos e concentrando de quem tem mais, clássico. Claro que, para a sociologia, essa conversa é antiga, entretanto nunca fomos tão vulneráveis ao consumo desenfreado e a cultura do ódio à falta de posse. Levando em conta que toda distorção deixa danos consideráveis à saúde mental, não é difícil dizer que esse é um grande problema dessa geração.
É justamente essa influência consumista, arrítmica, descartável, modista, intensa, que nos impacta de forma picotada, além de provocar gatilhos em nós, podendo nos deixar com o sentimento de insuficiência, frustração e ansiedade. A exploração irrestrita da nossa força de trabalho, a falta de pertencimento e segurança, o consumo exagerado e sem filtro de informações distorcidas, a ausência do poder público em setores essenciais para a população, indicam a fonte do mal-estar dessa nova civilização, que na verdade só ressignificou os males ansiosos da geração anterior só que com a potencialização da tecnologia.
Não existe a possibilidade para a sociologia, assim como para qualquer área de humanidades, entender a saúde mental dissociada dos direitos humanos e, também, não considerar a relação entre saúde e desigualdade social, racismo, lgbtqiap+ fobia, etarismo, exclusão, machismo, xenofobia, preconceito e falta de renda. Tudo está diretamente ligado, o ser humano é biopsicossocial e, ser socialmente saudável, se sentir aceito e pertencente a uma comunidade faz parte desse conceito. Saúde mental é integral, e é um direito que se conquista socialmente.
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João Vitor Borges
Psicólogo Clínico e Social. Escreve textos e reflexões gerais com ênfase em comportamento social e saúde mental.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.