Estar na Pele da Bruli: Página 02

Preocupações no trabalho, ter que cuidar e gerir uma casa, cuidar dos filhos, dos pets, das amizades, do crush, gerir as crises financeiras por viver num brasil de 2022 com esse presidente malvado, ainda assim não se sentir realizada, problemas no relacionamento afetivo, mas os coachs dizem pra tudo o que é lado: tem que se cuidar, se amar, pensar positivo, perseverar e preservar uma boa saúde mental, como se tudo fosse um grande roteiro decorado de um jeito mecânico... socorro ou melhor: hehehelp, parece que estamos todas nadando, nadando e surtando na praia. E nossa, eu até me esqueci de dizer a frasezinha que começo as crônicas aqui: ”Oie, tudo tudo? Espero que esteja bem.” Aliás, menina, feliz 2022, que esse ano traga consigo uma boa esperança de tempos melhores e uma mente mais calminha pra gente, não é não?

Afinal, como desenvolver uma boa saúde mental além dos scripts da blogueira que viaja com tudo pago e finge ser feliz nos stories? E fora deles você está bem?

Segundo o ibope numa pesquisa realizada para a organização global de saúde bayer, 84% das pessoas no brasil buscam ter uma saúde mental equilibrada, mas apenas 1/3 desse número sente que de fato consegue se cuidar e obter uma boa resposta no assunto. Ainda me parece que cuidar da saúde mental é um privilégio restrito de um nicho social quando deveria ser um direito inerente de todos.

Com isso, acho muito é importante a gente tentar cultivar uma prevenção à saúde mental, além do tratamento em si, quando já se está mal. A prevenção tem sido um dos melhores caminhos, e criar sua rotina de saúde e autocuidado, que pra cada pessoa vai ser diferente e única, pode e ajuda bastante, porque é como voltar-se ao momento presente e se perceber de verdade, trazer um afago para a alma e se descobrir no íntimo, e isso pode parecer clichê para uns e óbvio para outros, mas trazer uma atenção plena para a sua saúde mental pode ajudar desafogar e perceber muito do que está te desgastando, e quando olhamos e colocamos atenção, cuidado e carinho num assunto, conseguimos enxergar coisas que estavam ocultas ou imperceptíveis até então. Mas tudo isso não precisa ser rígido, você pode se permitir flutuar na leveza, sem se cobrar pela rotina da saúde mental, se não caímos numa cilada, percebe? Resgatar o contato com aquilo que te fazia bem na infância, ainda quando não éramos tão cheias de couraças e as  limitações da vida adulta, pode ajudar a construir um ambiente seguro na hora de desafogar e soltar o peso mental.

Mas a ideia aqui é que você faça realmente um mergulho sincero dentro de si mesma - um instante de silêncio e respiração profunda pode te ajudar nesse mergulho, se não souber muito bem como começar - e tenta se relembrar de coisas que você realmente sentia e sente prazer em fazer, pode ser pintar, desenhar, viajar, tocar uns instrumentos musicais, crochetar... tem gente que gosta de limpar a casa pra se sentir bem, organizar armários... são muitos os caminhos, e que bom, porque cada pessoa é diferente, única nesse universo vasto de minha deusa. O que te faz bem? Responda pra você mesma, no seu íntimo. 

Pra mim, um dos períodos mais traumáticos da minha vida, foi o final de relacionamento afetivo mega profundo e abusivo que vivi - e foi abusivo das duas partes, não me isento não - só que eu me lembro até hoje o quanto me trouxe dor e desafios viver esse término. O coração se partindo aos poucos, a negação do que havia acontecido, porque nem sempre conseguimos aceitar aquilo que parte nossos corações, às vezes demoramos um tempo até a aceitar que nosso coração se partiu. Eu realmente cai profundo, primeiro, por tempos, me tornei uma mulher embrutecida e depois mergulhei na descoberta do meu eu (ainda sem saber que estava fazendo isso conscientemente), até porque eu tinha perdido total referência do meu “eu” nessa relação. Era uma avalanche de me diluir no outro, e quando a relação acabou eu não sabia mais das coisas que gostava e me faziam bem. Eu nem sabia que eu era! Uma pergunta que me ajudou muito: eu era feliz antes de conhecê-lo, por que não consigo ser feliz agora? 

Hoje, com uma certa “maturidadezinha” e depois de muita terapia, depois de trabalhar o perdão a mim mesma e a ele, meu ex, consigo enxergar que essa fase cega foi como um impulsionador de partículas, uma injeção mega dolorida que me abriu os olhos e me fez tomar minha vida, observar minha existência, os meus dons, talentos e toda uma jornada mais consciente das minhas correntes, daquilo que ainda tenho que aprender e preciso do outro pra me ensinar. De longe, esse ex foi um dos maiores mestres que tive até agora na vida. Foi preciso viver esse grande perrengue pra me centrar em mim, me abrir para o novo e perceber as coisas que realmente fazem sentido pra mim.

Escrever sobre a minha história, por exemplo, e estar presente aqui enquanto desabafo no tecladinho tem sido um excelente exercício e me ajudado muito a me entender como humana, e decoupar a saúde mental, a me centrar, me encontrar e me converter em mim mesma. Também gosto de atuar como atriz, pintar, colorir meus móveis, repaginar minhas roupas, ler um bom livro, ver obras audiovisuais, ficar na natureza quietinha ou com boas companhias, cuidar e brincar com as minhas gatas, tomar um vinho escutando música clássica... Ahh, como eu viajo com vinho e música clássica! E depois volto pra lugares dentro de mim que eu mesma desconhecia e descubro novas potências. Também gosto e honro muito o ócio e costumo me convidar a desistir de ter controle quando estou de frente a uma situação que sinto que não consigo resolver muito bem. Desistir, nesse sentido de, entender que o fluxo da vida não está respondendo tão bem, e o “soltar” é um exercício que vem para te ajudar a descobrir novas possibilidades de se relacionar com os desafios.

Até porque o controle é uma ilusão, ninguém controla nada, não temos como controlar o que ocorre no próximo instante e há muito peso em querer ser uma super pessoa, somos seres humanos falhos e vulneráveis, todos em busca de aprendizado, do próprio eu e de conexões sinceras.

Obrigada pela leitura e espero que tenha feito sentido e te ajudado.

***

Bruli Maria

Se declara uma cuidadora do planeta, apaixonada por gatos e multi-artista, trabalha como: atriz, dj, modelo, taróloga, micro-influenciadora e terapeuta; e agora se aventura no universo da escrita também por aqui. Mora na mata atlântica de Nazaré Paulista, o que a permite uma escuta profunda com a vida e com a natureza.

Bruli Maria

Bruli se declara uma cuidadora do planeta e apaixonada por gatos, trabalha como atriz, modelo, criatura de conteúdo e terapeuta; e agora se aventura no universo da escrita também por aqui e em outros cantos também. Atualmente mora em São Paulo e é integrante do Teatro Oficina Uzyna Uzona.

https://www.instagram.com/criaturadeconteudo/
Anterior
Anterior

Vida, para que te quero? Chama pelo nome que ela vem

Próximo
Próximo

Encontre sua infância