Estar na Pele da Bruli: Página 03
Oie, tudo tudo? Espero que esteja bem.
Você já parou pra pensar na potência que o silêncio tem e como ele pode ser um agente de transformação e se tornar um aliado na hora de entender melhor os nossos movimentos?
Queria contar uma experiência de silêncio barulhenta que eu vivi uns tempos atrás. Mas antes acho importante contextualizar e contar um pouco sobre o lugar onde aconteceu tal faceta, foi numa comunidade espiritual chamada Nazaré Uniluz, localizada em Nazaré Paulista - SP (há 1h da capital), é desafiante relatar a experiência de lá, por ser um espaço tão especial na minha vida, e colocá-lo numa caixinha pode diminuir todo o ecossistema que acontece em Nazaré, mas vamos lá:
O espaço é uma escola de meditação e atenção plena - o tão famoso mindfulness, eles plantam muitas verduras e alimentos na horta orgânica, fazem o próprio pão, realizam o almoço em união com as pessoas que estão presente no espaço, além de ter como pilar: o foco de trazer sua presença na hora de realizar as tarefas, independente se elas são julgadas mentalmente como corriqueiras ou não.
Realizei alguns retiros de silêncio por lá, e inclusive morei um ano e meio - mas isso é assunto pra outro dia. Hoje quero contar sobre o meu primeiro retiro de silêncio, lembro como se fosse hoje, a ansiedade me corroendo por dentro, embebida da dificuldade mental e pela síndrome da impostora, não sabia se ia dar conta de viver tamanha aventura. Começamos o retiro e na teoria ele parecia muito mais complicado do que na prática, porque a mente não parava de inventar ”porquês” e alguns “e se”. Durante a noite, o facilitador explicou tudo certinho como funcionaria, fomos dormir e até aí tudo bem. Ahhh, esqueci de dizer que não teríamos acesso a estímulos, como livros, eletrônicos, filmes, contato de olhar com as pessoas e etc.
Eu diria que o primeiro dia foi o mais desafiante pra mim. Muito difícil passar pelas pessoas e não dar aquele sorrisinho como cumprimento, ou pelo menos um aceno com a cabeça ou mesmo com o olhar. Doido perceber como a gente busca estímulos para ser aprovada pelo outro ou pelo menos garantir que está tudo bem no ambiente.
Era um tédio “não ter o que fazer” pelo menos no externo, mas à medida que a experiência ia desenrolando, desenrolava-se também uma porção de nós e amarras dentro de mim. Não que eles se resolveram num primeiro momento, mas pelo menos se apresentaram ali pra mim. E diz a lenda, que quando a gente começa a ter noção das nossas amarras, uma boa parte disso desata também no universo, a gente recebe ajuda, porque estamos fazendo tarefinha de casa ao olhar para determinada situação. Me contaram também que tem uns anjinhos que ficam de férias voando pelos céus mas por perto da gente, e que não podem ajudar se não pedirmos ou não começarmos a desabotoar os primeiros botões do assunto que estamos vivendo. Mas deixa eu voltar pro assunto se não eu me perco de tão aérea que sou e voo com os anjos, hehe, ali eu olhei pra muitas mazelas dentro de mim, a carência, minha afetividade, o medo de ficar sozinha, alguns traumas e bloqueios que voltaram. E ouso dizer que é por isso que a gente vive em busca de estímulos, justamente pra deixar pra depois as coisas que precisamos olhar... e nessa, continuamos deixando tudo pra depois e não vivemos o momento presente. Só que assim, também acho importante dizer que, tem algumas coisas dentro da gente que não conseguimos lidar e olhar na hora, e é importante se respeitar, procurar ajuda e terapia, isso mostra o quanto somos vulneráveis e estamos trabalhando a nossa humildade.
Só sei que os processos foram se desenrolando mais e mais, os dias foram se passando, fui me adaptando na vivência, no final, quando acabou, aproveitei pra ficar mais um tempo quietinha e fui percebendo que comungar do silêncio é beber de uma fonte muito genuína dentro do self, porque ele limpa e lapida as nossas pepitas de ouro, aquilo que é mais importante na nossa essência, nossa parte fica convertida no que realmente somos. No silêncio habita todas as coisas e me pareceu que o corpo gosta e sabe ficar em quietude. Perceber que não há nenhum lugar pra ir ou nada a cumprir: viva o ócio e isso faz bem, ajuda o aprendiz a escutar o que realmente importa quando se está perdida, porque muitas vozes confundem ou enlouquecem. Nesse silêncio, cada um vai escutar uma coisa, porque a verdade tem variantes, cada um tem a sua própria e intransferível. É claro que, num primeiro momento, o macaco (nossa parte animalesca) vai ficar pulando como um rebelde no trapézio da mente pra lá e pra cá, não tem o que fazer, se não observá-lo, trabalhar a paciência e a compaixão consigo mesma. É como se fosse uma fase de jogo de videogame. Viver talvez seja um videogame ou um teatro e essa é a graça - e que a gente aprenda a olhá-la com os olhos de uma criança. Os meditadores profissionais dizem que o segredo da prática é observar os pensamentos como se eles fossem nuvens passando no céu da mente, sem se identificar ou entrar neles, é uma tarefa e tanto às vezes, né?! Mas não é impossível e podemos acessar fragmentos desse exercício.
Termino aqui hoje com a fala de Mustafá em O Profeta, de Khalil Gibran que diz: “Vosso coração conhece em silêncio o segredo dos dias e das noites.”
Nos vemos por aqui!
Obrigada pela leitura, espero que tenha feito sentido e te ajudado.
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Bruli Maria
Se declara uma cuidadora do planeta, apaixonada por gatos e multi-artista, trabalha como: atriz, dj, modelo, taróloga, micro-influenciadora e terapeuta; e agora se aventura no universo da escrita também por aqui. Mora na mata atlântica de Nazaré Paulista, o que a permite uma escuta profunda com a vida e com a natureza.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.