Estar na Pele do Reinaldo: Página 01

Desde que meu filho Ricardo me convidou para escrever sobre meu estado emocional à beira de completar a 7ª década vivida, aposentado, ocioso e confinado por conta da pandemia, tentei encontrar um gancho para começar.


Hoje, há poucos minutos, eu o encontrei lendo o texto que foi publicado num grupo do Facebook do qual sou membro, BOMRA. Me chamou à atenção a foto do ator Anthony Quinn no papel de Zorba e o texto tinha o seguinte título, “Um provérbio grego”. Confesso que me enxerguei lendo o tal provérbio. Se me permitem, o texto dizia o seguinte:

Não deixem suas panelas brilharem mais do que você. Não leve a limpeza de casa muito a sério. Tire o pó, se necessário, mas tire um tempo para pintar um quadro, escrever um poema, visitar um amigo, cozinhar o que quiser ou regar os vasos. Divirta-se tomando cerveja, nadando no mar, escalando montanhas, brincando com cães, ouvindo música, lendo livros, cultivando seu círculo de amigos e aproveitando a vida. À medida que tiramos o pó da vida, lá fora continua, e estamos envelhecendo, envelhecendo e já que um dia iremos todos embora daqui ninguém vai se lembrar quantas contas você pagou, nem se sua casa era limpa, e nem quanto você limpou o pó. Mas irão lembrar da sua amizade, da sua energia explodida, da alegria da vida, do riso solto, das besteiras que você fez, e de tudo o que você os ensinou e deixou.
— .

Percebi que essa foi a minha linha de pensamento durante a minha vida sem nunca pôr em risco a segurança da minha família (esposa e filhos). Desde que casei, em outubro de 1975, até o dia que parei de trabalhar, fevereiro de 2016, fiquei ocioso em casa (desempregado) uns 6 meses, de dezembro de 2001 a maio de 2002. Na verdade, não foi um tempo tão ocioso porque eu estava focado na minha recolocação e saia todo dia para ir comprar jornal, verificar os anúncios, ou ir até uma agência de empregos. Então posso dizer que a minha rotina de trabalho e familiar praticamente não mudou em quase nada.


Quando me aposentei definitivamente, meu primeiro sentimento foi de estar iniciando um verdadeiro período de férias, o que raramente aconteceu na minha vida profissional. Tudo maravilhoso, noites bem dormidas, não sofria mais com a insônia pelos problemas da empresa, passeios de moto com minha esposa ou sozinho, até receber a notícia do meu médico que eu teria que ser operado para retirada de um tumor maligno na próstata.

Aí começou um grande drama! A concessão que a empresa havia me dado de extensão do meu plano de saúde iria vencer em julho e eu não poderia ser operado antes de agosto, porque teria que aguardar pelo menos 30 dias após a data que havia feito a biópsia. Tive que abrir uma empresa às pressas para poder migrar meu plano de saúde sem perder a carência e foi com ajuda de amigos, o contador que prestava serviço para a empresa que trabalhei e a corretora de seguros que me atendia, que eu consegui, em cima da hora, acertar todos os detalhes para a cirurgia, na 2ª semana de agosto.


Passado isso é que comecei a pensar no risco da cirurgia e o que iria mudar na minha vida pós cirurgia, diante de tanta besteira que nós os homens ouvimos sobre esse assunto. Apesar da enorme dificuldade que o cirurgião (meu médico que me acompanhou nos 10 anos que antecederam a cirurgia) teve para levar os instrumentos chegarem até o local de destino, comandando-os por um “joystick” a cirurgia foi um sucesso em todos os sentidos. Meu pior momento foi assimilar que eu teria que usar fraldas geriátricas, para conter a urina, por uns 4 ou 5 meses. Com 2 meses deixei de usá-las durante a noite, ou seja, acordava com vontade de urinar e conseguia controlar até chegar no banheiro. Grande vitória! Eu não me imaginava sair de casa usando fraldas!


Daí pra frente, tudo foi voltando ao normal com gosto de férias, e decidi começar a gravar as músicas que marcaram a minha vida. Sempre amei a música desde criança. Aprendi a tocar violão e guitarra pela paixão pelos Beatles com 13 anos de idade. Nessa fase, me libertei de pagar IPVA, seguro de veículos, manutenção, procurar vagas para estacionar, etc, etc, com a decisão de vender os 2 carros que tínhamos. Eu e minha esposa começamos a utilizar transporte público e andar a pé. Amamos essa nova experiência de vida nos proporcionando uma sensação nunca antes vivida, a não ser nas viagens internacionais.

Comecei a conhecer uma cidade que eu não conhecia, aquela que só os passageiros conhecem. Não via a hora de chegar em casa para poder me envolver com uma nova gravação. Fui ficando cada vez mais exigente visando melhorar a qualidade. Foi quando resolvi aprender a tocar contra baixo e como o orçamento estava curto, usei o contra baixo que um amigo me emprestou e comecei sozinho, fuçando na internet e melhorando a cada dia.

Seguindo sugestões de amigos para algumas mudanças, e vibrando com as conquistas que, cada vez mais, iam me dando prazer naquilo que eu estava fazendo. Pensava, “por que não comecei a fazer isso antes?” Sempre senti vergonha de cantar para as pessoas e aos poucos fui me soltando e me animando a tocar e cantar em público. Comecei a preparar um repertório de “playbacks” ou “backings”, muito utilizado pelos artistas de rua. Nada mais é do que a gravação da harmonia de uma determinada canção e que ao ser executada o artista complementa com um violão ou uma guitarra e solta a voz. Normalmente os “playbacks” são comercializados na internet. Alguns são fornecidos gratuitamente, mas eu comecei a produzir os meus, para me entreter ainda mais. Criava a harmonia no teclado, acrescentava o contrabaixo, mais a guitarra ou violão e pronto.

Aí veio a pandemia. Acabaram as saidinhas, os passeios nos shoppings, nos parques, as viagens gratuitas para Campinas e começou a querer bater um desespero. Com ela acabaram as pizzas com os amigos de mais de 50 anos de amizade, com quem estava organizando um encontro com uma turma maior da época do colégio para eu tocar e cantar! O plano ainda está de pé, só aguardando a poeira baixar. Graças a Deus, sempre estive atento à tecnologia dos computadores, tablets e celulares, e sempre estive presente nas redes sociais. E foi através do “whatsapp” que eu “reencontrei” um amigo que não via há muito tempo, o Leonil Junior, tio da minha afilhada Dani. Excelente tecladista e músico, com quem dividi alguns momentos super agradáveis tocando juntos entre amigos nas décadas de 80 e 90.


Depois que cada um pôs em dia suas novidades sobre filhos casados, netos, etc, começamos a falar sobre música e surgiu a ideia de gravarmos juntos. Não esqueço, a primeira foi “Fly Me To The Moon”! Me empolguei com o resultado. A partir dela, o esquema passou a ser o seguinte, escolhemos uma música, definimos o tom para que eu consiga cantar desafinando pouco, daí ele cria a harmonia e me manda o arquivo pelo whatsapp. Eu coloco o violão ou guitarra ou contrabaixo e faço os vocais.


Puxa vida, tem sido maravilhoso porque temos conseguido gravações muito legais. E é como eu falei lá atrás, a cada conquista tem sido muito gratificante.

Comecei a produzir os vídeos das músicas gravadas para postar no Face. Em cada postagem eu escrevia a história minha vivida no passado, que a música me levava. Daí nasceu a ideia de deixar para meus filhos, netos, bisnetos, etc os registros no meu canal do Youtube – Meu Retro Diário.


Só está faltando uma coisa para coroar tudo isso que estou vivendo, eu e o Leonil nos encontramos para tomarmos nossas cervejas juntos, respirando o mesmo ar. Já faz 2 anos que estamos fazendo isso e não nos encontramos nenhum dia, pessoalmente! Espiritualmente estamos ligados à muito tempo, quem sabe um dia tocarmos numa banda celestial!

É assim que tenho envelhecido fisicamente, mantendo a minha mente ainda jovem e, graças a Deus, desencanada de muita coisa que carreguei durante muito tempo e que não serviu para nada!

Resumo o meu bem estar mental da seguinte maneira:

  1. Amo ir para a cama dormir e durmo muitíssimo bem ouvindo músicas;

  2. Amo acordar cedo e começar a pensar, saindo do inconsciente e indo para o campo do consciente. Lavando a louças do café começo a ter inspirações, inclusive para escrever parte desse texto.

  3. Amo sonhar acordado.

  4. Amo comer sanduíches e aperitivos, sem a formalidade de se comer com prato, garfo e faca.

  5. Amo cozinhar.

  6. Amo cinema.

  7. Amo a cidade de São Paulo, em especial o centro velho e o bairro do Bom Retiro, onde nasci e vivi momentos maravilhosos da minha vida.

  8. Amo meus muitos amigos.

  9. Amo o mar.

  10. Amo o cheiro de mato molhado.

  11. Amo minha esposa, meus filhos, meus netos, minha mãe, meus irmãos e sobrinhos e todos os demais familiares.


E acima de tudo, amo a Deus! Não consigo entender a sua não existência, só de pensar que certo dia eu fui o espermatozoide campeão de natação, em cujo organismo materno me desenvolvi com perfeição física e mental, e nascer com habilidades para chegar onde cheguei!

***

Reinaldo Carmo Milito 

Sou um “babyboomer”, apesar de brasileiro, taurino e super feliz por ter nascido numa família de descendentes italianos, moradora do bairro do Bom Retiro, na super querida São Paulo.

Tive uma infância de pé no chão, em rua sem asfalto, e à medida que eu crescia, ia percebendo as transformações internas e ao meu redor.

Como beatlemaníaco que sou, acredito muito na mensagem da última frase da última música gravada pelos Beatles, “o amor que você recebe é igual ao amor que você faz”.

Reinaldo Carmo Milito

Sou um “babyboomer”, apesar de brasileiro, taurino e super feliz por ter nascido numa família de descendentes italianos, moradora do bairro do Bom Retiro, na super querida São Paulo.

Tive uma infância de pé no chão, em rua sem asfalto, e à medida que eu crescia, ia percebendo as transformações internas e ao meu redor.

Como beatlemaníaco que sou, acredito muito na mensagem da última frase da última música gravada pelos Beatles, “o amor que você recebe é igual ao amor que você faz”.


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