Estar na Pele do Carlos: Página 05
Quando a Bel me pediu pra escrever sobre o Novembro Azul, a saúde do homem, eu senti mais uma vez que nossos caminhos (o meu e o dela, e o meu com o seu, leitor) não vinham se cruzando por acaso.
Isso porque, durante este tempo (2 meses e 5 dias, mais precisamente) eu estou vivendo uma das maiores aventuras da minha vida: o caminho para um corpo saudável e ativo. Eu sei exatamente o tempo, pois meu último texto foi publicado exatamente em 12 de setembro, o dia em que completei 41 anos e, também, em que decidi mudar minha rotina de vez.
Em suma, eu cheguei a 92 kg na pandemia, 22 a mais do que o normal. Pode parecer bobagem, mas pra alguém franzino, sedentário e fumante como eu, com 1,70m, é peso pra dedéu, e tudo que vem com ele. Problemas de circulação, falta de energia, e o mais grave, no meu caso, que é apneia mecânica, que nada mais é do que a gordura em excesso que se acumula na papada e impedia minha respiração durante a noite. Eu acordava de 5 em 5 minutos, no susto, provavelmente sufocado por uns bons minutos, até que meu corpo sinalizava e eu emergia, como se vindo do fundo do mar, após um longo mergulho. De 5 em 5 minutos, todas as noites. Eu estava exaurido, respirando mal, emocionalmente fragilizado e sem perspectiva de mudança. Isso tudo pau a pau com todas as questões profissionais que eu tive este ano, me colocou em um dos momentos mais delicados que já vivi. Podia ser uma depressão, mas por dentro, minha ansiedade crônica me deixava completamente apavorado e em estado de alerta constante. Isso difere nós, os ansiosos, de outros quadros psicológicos. A gente até tenta se entregar, mas nossa mente lista os possíveis percalços da vida mesmo que eles não se concretizem. Eu não tinha um único momento de paz.
Foi então que, no fim de semana do meu aniversário, 3 dos meus melhores amigos me convenceram a passar o fim de semana com eles em Ubatuba, onde dois deles passaram a morar durante a pandemia. Entendam: estar com eles é uma das maiores alegrias que eu tenho hoje em dia, mas só de pensar em como eu roncava alto, o quanto isso vinha sendo problemático, já me assustava. Porém, não teve jogo. Eles mal sabiam o que estavam fazendo por mim naquele momento.
Pra vocês entenderem o motivo, eu vou descrever esta minha amiga que mora na praia hoje. Temos a mesma idade, a mesma energia, gostamos de curtir a vida, mas uma imensidão de diferença em como cuidávamos do nosso corpo. Ela sempre direcionou esta energia pra atividades de todo tipo. Ela acorda 6 horas, vai pro Pilates, volta, leva a filha na escola de bike (ela vai achar que tô exagerando, mas é bem assim que eu vi) volta, trabalha, faz aula de italiano, busca filha na escola, leva pra outra escola, trabalha mais, vai na reunião de pais a noite, volta, toma uma cerveja com a gente... aí dorme e no dia seguinte, tudo de novo. Ok, tudo bem, ela talvez não faça tudo isso todos os dias, mas o que eu quero dizer é que ela consegue fazer tudo que é preciso para manter sua energia, física e mentalmente. Fora ela, o marido dela e meu outro amigo que estavam comigo e com meu marido lá, também tem diversas atividades, sem comprometer o direito de beber com os amigos ou aproveitar momentos como aquele, tão preciosos pra nós. Aliás desde já, eu quero agradecer o apoio do meu companheiro (que adora uns lanches que vem em caixa, mas me apoia mais do que eu sequer imaginaria, te amo) e os meus dois amigos que também fizeram parte desta história. Sem vocês, eu não teria força pra fazer este corre.
Voltando a história, no sábado deste fim de semana prolongado, eu fui para um ritual de cura no meio da floresta de Ubatuba. Ela tem um grupo de amigas lá que cultuam o sagrado feminino, porém aquele dia era um dia pra todos, e me vi no meio de uma experiência muito, muito engrandecedora. Pessoas extremamente ligadas à natureza (ao redor e a do próprio corpo) em uma sintonia maravilhosa, cantando mantras e celebrando sua existência. Eu costumo meditar e sou muito ligado aos mantras, mas sempre entendendo como um método muito eficaz de controle da minha ansiedade. Naquele dia, eu senti uma ligação diferente. Entendi um pouco desta conexão direta entre a mata, os corpos e os espíritos ali presentes. Entendi, sentindo.
Na manhã seguinte, acordamos, a filha dela me trouxe um bolo, eu acendi meu isqueiro pra ela cantar parabéns, arrumamos nossas coisas e fomos embora. Mas eu não conseguia parar de pensar em tudo aquilo. Na minha vida, no ritual, no meu ostracismo, e, quando cheguei em casa, tive uma crise de ansiedade, como eu não tinha há muito tempo. Meu corpo respondeu a tudo aquilo de uma maneira visceral. Tomei Rivotril, dormi o resto do dia e da noite.
Gente, eu não sou gordofóbico, é importante que isso seja dito. Eu só sentia que eu havia abandonado o meu corpo “a Deus dará”, sem me preocupar com que ele respondesse a tudo aquilo que posso e quero que ele realize. Minha cabeça ansiosa queria realizar mil atividades, e meu corpo seguia, em inércia, não correspondendo de acordo. Tanto que não havia me pesado até ontem, pois queria saber, decerto, o quanto eu havia perdido para contar pra vocês. Porém antes, o início.
Fui ao médico, pois sabia que eu não manteria minha resolução sem ver resultado rápido. O remédio, além de tirar a fome, me ajudou a desinchar. Em muitas pessoas, ele pode causar ansiedade física, angústia, aumentar os batimentos... no meu caso, graças a Deus, não.
Depois disso, eu pensei como eu faria pra emagrecer efetivamente sem sofrer tanto com a falta da comida que eu tanto amo. Eu cortei basicamente 4 coisas: pão, açúcar, arroz e álcool. Me acertei com o adoçante do meu café diário, troquei arroz por berinjela, pão por Wrap integral e bolacha de água e sal com requeijão. Refrigerante normal por zero, doce por fruta. Não vou me estender porque não estou aqui vendendo método de perder peso, nem sei se minha dieta é saudável ao cubo (provavelmente não rs), mas funcionou pra mim, e é só parte do processo. Eu precisava partir de algum ponto, e eu evolui dia a dia na minha alimentação, pq sei da importância.
Próximo passo: exercícios. Eu odeio academia e nunca almejei ser forte. Porém, eu precisava me exercitar pra ajudar meu corpo a ter mais energia e resistência. Então, eu escolhi andar/correr. Digo isso entre barras, pq sou fumante e ainda não consegui largar o vício. Achei que correr, na minha idade, seria difícil. Porém, não foi. Eu comecei andando um trecho na ciclovia perto de casa, passei a correr umas partes e hoje estou correndo 80%. 4km, porque é o tempo que eu tenho pela manhã. Corria 2x por semana no começo, morria de dor, reclamava muito. Hoje corro 6x por semana, pulo um dia que eu achar que devo, ou não, tá rolando natural. Faço Yoga e alongamento também, porque amo a sensação e ajuda na resistência.
Aliás, pela primeira vez de todas que eu tentei ter um corpo funcional, eu sinto que esta é a minha vida mesmo. Acho que o grande lance de você se comprometer com uma mudança desta, é ser feliz, tanto no processo, quanto na sua nova vida. E não achem, nem por um minuto, que eu não amo as coisas que eu deixei de comer. Só pra vocês terem ideia, quando eu tenho minhas folgas (porque eu transformei estes alimentos que eu tanto amo em prêmios pra quando eu me sinto esforçado) muitas vezes, eu quero comer PÃO COM MARGARINA. Isto é o quanto eu gosto de pão francês. Mas eu sinto, desta vez, que não preciso mais me recompensar com comida o tempo todo, porque a vida está difícil. Eu prefiro me recompensar por estar levando uma vida mais enérgica.
Eu não queria contar calorias nem acompanhar o meu peso pois, apesar de ser um cara bem vaidoso (me redescobri assim, depois de muito tempo escondido debaixo das roupas que eu amo, porém, usadas pra esconder meu corpo, até de mim mesmo) o que eu queria era perder o peso que eu ganhei, mas de uma maneira mais ativa e acompanhando meu corpo. Vendo as mudanças, valorizando-as sem gerar ansiedade, pois isso seria um tiro no pé. Eu só queria saber que estava caminhando para algum lugar.
Como eu disse pra vocês, eu me pesei ontem, depois de todo este processo. Eu estava tranquilo, porque a balança podia dizer que eu perdi 100g, que eu tava todo feliz com meu empenho, com meu comprometimento nesta jornada. Enfim, eu emagreci 14 kg até agora, dos 22 que ganhei na pandemia.
Fiz uns exames e está tudo bem com meus níveis todos, aliás, já estavam bons antes. Nunca tive problemas com colesterol, nem com glicose, meu metabolismo é ótimo. Mas eu estou envelhecendo, e sei que pode pesar em algum momento. Reduzi o remédio pela metade já há uma semana, pois quero perder estes últimos quilos de maneira gradativa e adaptando meu corpo a esta nova realidade. Minha apnéia acabou, minha circulação tá ótima. Ainda pretendo parar de fumar, uma coisa de cada vez, no meu tempo.
No entanto, amigos, o que eu ganhei mesmo com isso tudo foi uma nova chance. De viver mais, de meu corpo acompanhar toda esta energia que eu tenho. Agora, sim, eu sinto o que a minha amiga sentia, lá atrás, no meu aniversário, quando descrevi o início da minha mudança.
Bom pra mim.
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Carlos Stefano
Gestor comercial, decorador, escritor e aficionado por relações humanas e suas ramificações, ele divide suas experiências na coluna Estar na Pele aqui do Bem do Estar.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.