Saúde da mente na maternidade
Sabe aquela sensação de está completa e ao mesmo tempo tão vazia? Ou aquele sentimento de amor genuíno e no mesmo instante a vontade enorme de estar em outro lugar? Ou a paz interior tão grande e quase instantaneamente o desespero e a bagunça no mesmo interior. É realmente uma roda gigante de sensações e sentimentos, isto é a maternidade!
Muitas mamães me procuram relatando sempre as mesmas queixas sobre a solidão da maternidade, o cansaço extremo, a falta de apoio e compartilhamento das tarefas e também sobre o tempo que nunca tem para si. Isso me faz pensar com pesar sobre a maternidade ser ainda um assunto tão individual, tão “da mãe”. Algo está errado nesse contexto, principalmente porque na maioria das vezes a mãe não tem um filho sozinha e então não é compreensível que o pai tenha essas opções desleais de querer ou não, de “assumir” ou não um filho quando a futura mãe é obrigada a simplesmente enfrentar tudo.
Mas não estou aqui questionando a posição de cada um e nem quero falar sobre um tema muito mais delicado de poder escolher ou não ter um filho. Estou apenas questionando o coletivo na maternidade, expondo que criar um ser humano nunca poderia ser assunto de uma só pessoa e sim do todo. Tem uma frase que particularmente acho bem cruel e que ouso a dizer que quase toda mãe já ouviu, que diz assim “quem pariu Mateus que o balance”, mas como isso pode ser usado de uma forma tão natural para com a mãe, é de uma insensibilidade tão grande esse ditado, não acha?
Mãe precisa de aldeia, precisa estar rodeada de gente que a acolha, de amor, compreensão e apoio, mas infelizmente não é isso que vemos no dia a dia e que até parece algo normal, mas não é!
É preciso desconstruir essa realidade, mãe não pode ser mãe sozinha, é pesado demais e essa capa de mulher guerreira que a sociedade coloca em cima das mães é só uma romantização de algo que não é saudável para ninguém.
A cada dia os casos de transtornos mentais nas parturientes, principalmente a depressão pós-parto aumentam de uma forma assustadora, atualmente no Brasil para cada quatro mulheres, uma apresenta os sintomas de DPP (Depressão pós-parto). E em muitos desses casos os sintomas começam a aparecer no início da gravidez e a grande maioria dessas mulheres não conversam sobre o que sentem, principalmente por não terem com quem falar e por medo de não serem acolhidas.
Se a maternidade fosse vista na sociedade como um assunto coletivo, talvez esse número de mulheres com DPP diminuíssem consideravelmente. E posso até dizer que também reduziria a taxa de abandono e maus tratos de bebês, parece meio exagerado colocar essas questões aqui, mas os estudos mostram que as mães com DPP são mais suscetíveis a causar danos ao bebê e a maioria das mães que apresentam DPP não possuem nenhum apoio ou muito pouco.
Precisamos falar muito disso ainda, mostrar para o mundo um olhar empático com a mãe, mais humano e sem tantos julgamentos. E para isso é importante entender melhor o que é a DPP, como lidar e ajudar uma recém-mãe.
É muito provável que você leitor já tenha presenciado alguma situação parecida e simplesmente achou normal e não ofereceu ajuda por acreditar que estava tudo bem e aquelas queixas eram apenas momentâneas. Mas não é, e essa precisa ser uma preocupação coletiva. Também é importante prestar atenção nessa mulher desde a gravidez, pois esses sintomas podem surgir bem no comecinho da gestação.
Pode ser uma tarefa difícil ajudar uma recém-mãe, então a primeira dica é: seja paciente e disponível; deixe que ela se sinta confortável para compartilhar sem muitos questionamentos, só esteja presente e seja um bom ouvinte. Você também pode ajudar nas tarefas domésticas e em alguns dos cuidados com o bebê se ela permitir, sem forçar. Entenda que a recém-mãe está cheia de medos e pode preferir cuidar do pequeno sozinha, nesse caso a ajude com os outros afazeres.
Outra dica importante é se disponha a fazer uma caminhada com ela e o bebê, a preparar algo que ela goste de comer ou simplesmente estar atento e preparado para as demandas que surgirem. Se perceber que essa mamãe não tem uma melhora dos sintomas e continua se sentindo muito deprimida depois de umas três ou quatro semanas é necessário que haja procura de um profissional habilitado para cuidar dela logo no início, impossibilitando que esses sintomas se agravem.
Essa mulher sendo acolhida pelas pessoas presentes, familiares, parceiros e amigos tem um grande impacto positivo, fazendo com que esses sintomas se tornem mais leves e realmente passe em um determinado período de tempo, o apoio faz toda a diferença na vida de toda e qualquer pessoa, imagine só para alguém que acabou de passar por uma mudança tão profunda.
É possível acolher ao invés de julgar, é possível abraçar e apenas ouvir o outro, é possível se colocar no lugar de uma mãe com todas as suas particularidades. Isso parece até pequeno agora, mas pode mudar a história de uma família, de algumas crianças e de muitas mamães.
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Louise Barbosa
Gestora de recursos humanos pelo Centro Universitário Jorge Amado e Psicanalista formada pelo Instituto Oráculo de Psicanálise, aborda temas como ansiedade, depressão, autoconhecimento e maternidade. Atua em consultório particular na forma presencial e online. Também é uma utilizadora da clínica peripatética em casos específicos.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.