Saúde da mente na maternidade

Sabe aquela sensação de está completa e ao mesmo tempo tão vazia? Ou aquele sentimento de amor genuíno e no mesmo instante a vontade enorme de estar em outro lugar? Ou a paz interior tão grande e quase instantaneamente o desespero e a bagunça no mesmo interior. É realmente uma roda gigante de sensações e sentimentos, isto é a maternidade! 

Hollie Santos/ Unsplash

Muitas mamães me procuram relatando sempre as mesmas queixas sobre a solidão da maternidade, o cansaço extremo, a falta de apoio e compartilhamento das tarefas e também sobre o tempo que nunca tem para si. Isso me faz pensar com pesar sobre a maternidade ser ainda um assunto tão individual, tão “da mãe”. Algo está errado nesse contexto, principalmente porque na maioria das vezes a mãe não tem um filho sozinha e então não é compreensível que o pai tenha essas opções desleais de querer ou não, de “assumir” ou não um filho quando a futura mãe é obrigada a simplesmente enfrentar tudo. 

Mas não estou aqui questionando a posição de cada um e nem quero falar sobre um tema muito mais delicado de poder escolher ou não ter um filho. Estou apenas questionando o coletivo na maternidade, expondo que criar um ser humano nunca poderia ser assunto de uma só pessoa e sim do todo. Tem uma frase que particularmente acho bem cruel e que ouso a dizer que quase toda mãe já ouviu, que diz assim “quem pariu Mateus que o balance”, mas como isso pode ser usado de uma forma tão natural para com a mãe, é de uma insensibilidade tão grande esse ditado, não acha? 

Mãe precisa de aldeia, precisa estar rodeada de gente que a acolha, de amor, compreensão e apoio, mas infelizmente não é isso que vemos no dia a dia e que até parece algo normal, mas não é!

Essa visão de uma mãe sobrecarregada, exausta e sozinha não é linda, não merece aplausos. 

É preciso desconstruir essa realidade, mãe não pode ser mãe sozinha, é pesado demais e essa capa de mulher guerreira que a sociedade coloca em cima das mães é só uma romantização de algo que não é saudável para ninguém.

A cada dia os casos de transtornos mentais nas parturientes, principalmente a depressão pós-parto aumentam de uma forma assustadora, atualmente no Brasil para cada quatro mulheres, uma apresenta os sintomas de DPP (Depressão pós-parto). E em muitos desses casos os sintomas começam a aparecer no início da gravidez e a grande maioria dessas mulheres não conversam sobre o que sentem, principalmente por não terem com quem falar e por medo de não serem acolhidas.

Se a maternidade fosse vista na sociedade como um assunto coletivo, talvez esse número de mulheres com DPP diminuíssem consideravelmente. E posso até dizer que também reduziria a taxa de abandono e maus tratos de bebês, parece meio exagerado colocar essas questões aqui, mas os estudos mostram que as mães com DPP são mais suscetíveis a causar danos ao bebê e a maioria das mães que apresentam DPP não possuem nenhum apoio ou muito pouco. 

Precisamos falar muito disso ainda, mostrar para o mundo um olhar empático com a mãe, mais humano e sem tantos julgamentos. E para isso é importante entender melhor o que é a DPP, como lidar e ajudar uma recém-mãe. 

Os principais sintomas de DPP são tristeza aparentemente sem motivo, ansiedade, perda de interesse na vida, preocupação excessiva em relação às necessidades do bebê, cansaço extremo, distúrbios de sono, desespero, pensamentos suicidas, vontade repentina de causar algum dano ao bebê e culpa.

É muito provável que você leitor já tenha presenciado alguma situação parecida e simplesmente achou normal e não ofereceu ajuda por acreditar que estava tudo bem e aquelas queixas eram apenas momentâneas. Mas não é, e essa precisa ser uma preocupação coletiva. Também é importante prestar atenção nessa mulher desde a gravidez, pois esses sintomas podem surgir bem no comecinho da gestação.

Pode ser uma tarefa difícil ajudar uma recém-mãe, então a primeira dica é: seja paciente e disponível; deixe que ela se sinta confortável para compartilhar sem muitos questionamentos, só esteja presente e seja um bom ouvinte. Você também pode ajudar nas tarefas domésticas e em alguns dos cuidados com o bebê se ela permitir, sem forçar. Entenda que a recém-mãe está cheia de medos e pode preferir cuidar do pequeno sozinha, nesse caso a ajude com os outros afazeres. 

Outra dica importante é se disponha a fazer uma caminhada com ela e o bebê, a preparar algo que ela goste de comer ou simplesmente estar atento e preparado para as demandas que surgirem. Se perceber que essa mamãe não tem uma melhora dos sintomas e continua se sentindo muito deprimida depois de umas três ou quatro semanas é necessário que haja procura de um profissional habilitado para cuidar dela logo no início, impossibilitando que esses sintomas se agravem.

Essa mulher sendo acolhida pelas pessoas presentes, familiares, parceiros e amigos tem um grande impacto positivo, fazendo com que esses sintomas se tornem mais leves e realmente passe em um determinado período de tempo, o apoio faz toda a diferença na vida de toda e qualquer pessoa, imagine só para alguém que acabou de passar por uma mudança tão profunda. 

É possível acolher ao invés de julgar, é possível abraçar e apenas ouvir o outro, é possível se colocar no lugar de uma mãe com todas as suas particularidades. Isso parece até pequeno agora, mas pode mudar a história de uma família, de algumas crianças e de muitas mamães. 

***

Louise Barbosa 

Gestora de recursos humanos pelo Centro Universitário Jorge Amado e Psicanalista formada pelo Instituto Oráculo de Psicanálise, aborda temas como ansiedade, depressão, autoconhecimento e maternidade. Atua em consultório particular na forma presencial e online. Também é uma utilizadora da clínica peripatética em casos específicos. 

Louise Barbosa

Gestora de recursos humanos pelo Centro Universitário Jorge Amado e Psicanalista formada pelo Instituto Oráculo de Psicanálise, aborda temas como ansiedade, depressão, autoconhecimento e maternidade. Atua em consultório particular na forma presencial e online. Também é uma utilizadora da clínica peripatética em casos específicos. 

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