Setembro Amarelo: vamos falar sobre o suicídio?

De todos os temas tabu da sociedade, talvez, nenhum deles é mais evitado do que o suicídio. Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, o "Setembro Amarelo" se mostra uma campanha importante, afinal de algum modo todos estão vivendo dores psíquicas. 

O intuito da campanha é gerar uma conscientização sobre suicídio, a intenção é de informar e acolher quem vive tamanha dor, porém apesar de muitos divulgarem a campanha, ainda há um abismo entre falar a respeito e acolher sem julgar.

Foto: v2osk / Unsplash

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Não temos inscrição psíquica para a morte. Quando alguém diz que quer morrer, é importante entender as fantasias por trás desse desejo, afinal não temos o registro da sensação da morte, então o que busca? Aliviar a dor? Deixar de se sentir um peso para os demais? Atacar alguém? Entender o sentido para aquele desejo é importante, contudo requer acompanhamento profissional e uma rede de apoio. 

Talvez quem se depara com tamanho sofrimento não tenha preparo para acolher aquilo, então prefere negar e crer ser um momento triste o qual irá passar, por isso é tão importante a escuta qualificada. Muitos acreditam que apenas pessoas com algum transtorno mental grave são capazes de escolher a morte diante da vida, mas quantas vezes não  flertamos com a morte em diversos comportamentos e desejos? 

Muitos suicídios podem ser facilmente confundidos com acidentes, assim se colocar em risco em inúmeras situações pode ser um sinal de dor psíquica e flerte com a morte. 

Eliminar a escuta, não falar sobre, por medo de desencadear algo pior parece não estar sendo eficaz. Os números crescem e cada vez mais os suicídios viram notícia. Precisamos entender, acolher e transformar em palavras esse desejo pela morte, essa campanha é uma tentativa de criar espaços para isso. 

Frases motivacionais e textos não tratam dor psíquica, nem uma vida toda de alguém que sente tamanha dor. Aconselhe seu amigo a buscar ajuda especializada ou qualificada de profissionais da área psicologia, espaços de escuta e não só medicações. 

A tendência a evitar a dor pode fazer com que muitos busquem eliminar com medicações, de forma prática. Contudo, falar sobre isso, apesar de não eliminar instantaneamente, pode trazer alívio ou talvez aumentá-la temporariamente, para assim se criar ferramentas internas para lidar. 

É importante deixar de lado qualquer romantização ou estereótipo sobre as dores psíquicas. Além de buscar ajuda profissional a quem precisa e também a quem acha que não precisa, mas que tem o desejo de falar mais sobre as próprias dores psíquicas.

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Mariana Pavani

Psicóloga clínica, atua em consultório particular em Campinas-SP. Fez especialização e cursos livres em psicanálise. Sempre gostou muito de ler e é curiosa, o que a levou a escrever alguns textos e criar blogs desde cedo. No início na clínica, escrever foi algo que a ajudou e ainda ajuda, pois a mantém estudando e além de facilitar a comunicação com pessoas sobre variados temas. 

Mariana Pavani

Sou psicóloga clínica e atuo em consultório particular em Campinas-SP. Fiz especialização e cursos livres em psicanálise. Atualmente participo de grupo de estudos sobre a relação das mulheres com o corpo e também estou cursando especialização em psicoterapia breve psicanalítica na UNICAMP.

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