Atividade Física x Positividade Tóxica

Tão relevante e comentado nos dias de hoje, o termo “Positividade Tóxica”, se torna uma pauta quase obrigatória para reflexão. 

Ao procurarmos conceituá-lo, encontramos muitas definições que vão desde “estado otimista ao extremo que pode resultar em negação, repressão e invalidação dos sentimentos”, passando por “impor a nós mesmos, ou aos outros, uma atitude falsamente positiva, generalizando um estado feliz e otimista independente da situação”, até “a crença de que encarar a vida a partir de um estado de felicidade e otimismo constantes são o único caminho a escolher”. 

Cotton Bro/ Pexels

Nessa lógica, emoções e experiências negativas são desprezadas, minimizadas e tratadas com indiferença ou inferioridade, como se elas não fizessem parte de uma experiência emocional humana e verdadeira. Dentro da nossa realidade, o maior exemplo que vivenciamos são as redes sociais, em especial o Instagram, que se transformou em propagador dessa positividade totalmente contraproducente, que expõe vidas perfeitas em seus perfis e contribuem para o negacionismo dos seus usuários. 

Diante de momentos desafiadores pelos quais todos passamos durante o curso de nossas vidas, é comum observarmos essa abordagem utópica de que há um lugar onde o otimismo impera e não há espaço para emoções tristes, difíceis ou frustrantes.

As pessoas criam, imaginam e acreditam que exista uma receita pronta para estar e permanecer em otimismo constante, dando início assim, a um processo de alienação de aspectos emocionais que deveríamos experimentar em sua totalidade, pois fazem parte das nossas experiências quanto indivíduos.

Nesse aspecto, o exercício físico entra como uma espécie de salvação. Seus conhecidos benefícios na prevenção e tratamento dos mais diversos transtornos da mente, desde os mais simples aos mais complexos, são comprovados pela ciência. Mas como lidar com a frustração nos dias em que você acorda e simplesmente diz a si mesmo: - “Hoje eu não consigo, não estou me sentindo bem o suficiente para encarar a academia ou participar daquela aula que queima 700 kcal por hora que havia me programado para participar" . 

Como lidar com os dias em que as emoções não colaboram, em que você sente o coração bater acelerado sem fazer nenhum grande esforço, o corpo inteiro dói ao menor sinal de tensão muscular ou você se sente tão acelerado que não consegue sequer organizar seus pensamentos? Dias assim acontecem para todos, sem exceção, a diferença está em como cada um escolhe encará-los. Talvez, a forma mais equilibrada de fazê-lo, seria ancorarmos nossa segurança na certeza de que podemos alcançar bons resultados, fazendo o melhor que pudermos fazer, com os recursos físicos e emocionais que temos disponíveis no momento. Tendo consciência que podem haver limitações, sem desconsiderar uma dose de otimismo realista. 

Na ótica das atividade físicas ou do mundo “fitness”,  seria a busca por longevidade ao invés de performance esportiva, é o famoso “escute seu corpo… ele sempre tem muito a dizer”, é ter a sabedoria de identificar um dia ruim e suas necessidades, é saber que, por exemplo: “hoje posso ter me programado para correr 15 km, mas como estou me sentindo assim, opto por caminhar 5km, treinando meu foco e dando atenção especial ao meu padrão respiratório e aos detalhes que me cercam”. 

Querer resultados rápidos é, sem dúvidas, algo intrínseco à nossas mentes, mas devemos lembrar que insistir apenas no extremo positivo das nossas rotinas e do nosso desempenho, nos afasta da nossa própria realidade e muitas vezes nos leva a negar quem somos, o que  queremos e pior, o que realmente estamos sentindo. 

Todos nós somos “luz” e “sombra”. Excluir nosso lado “sombra” é dar permissão para que ela se potencialize e continue nos machucando. Não existe cura sem um olhar para o todo, sem a aceitação de todas nossas demandas emocionais por inteiro. Escolha viver o processo, o autoconhecimento e a sua verdade, acolha-se com compaixão e não tenha pressa, não se cobre demais, nem se auto-congratule ao extremo, isso machuca mais do que podemos imaginar. 

Quanto mais nos treinarmos a respeitar nossas fragilidades e entender que, por mais clichê que possa parecer, nosso corpo é mesmo o nosso templo e merece ser tratado com todo amor, carinho, respeito e dedicação, mais rápido nos conectamos com nossa humanidade e entendemos melhor os ciclos naturais da vida.

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Bárbara Reis

Mestranda em Políticas Públicas (UMC - SP ), Pós Graduada em Neurociência e Comportamento; Filosofia e Autoconhecimento. Residente na cidade de Mogi das Cruzes- SP, atua como Educadora Física/Personal Trainer com foco no equilíbrio entre corpo e mente, promovendo informações sobre atividades físicas e saúde mental através de sua página no Instagram @barbarafelicianoreis. Acredita que a máxima 'Mens sana in corpore sano' é o caminho para uma vida equilibrada.

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