Como você cuida do seu lugar?
Esse texto chama-se “O lugar das pessoas”, de William Crocker, e é com essa citação poética que inicio a reflexão de hoje.
Ao ler esse texto pela primeira vez, dei-me conta de que, muitas vezes ao longo da minha vida, não me permiti ser eu mesma, busquei me adequar aos estímulos que percebia ao meu redor, acreditando que essa permissão estava fora de mim. Venho percorrendo uma jornada de autoconhecimento e, hoje, consigo experimentar a vida em maior consonância com a minha verdade e, por mais desafios que isso me traga, é libertador demais!
Na CNV, consideramos a autenticidade uma necessidade humana compartilhada por todos, ou seja, precisamos nos expressar tal qual somos, mostrar a nossa verdade, nossa versão mais genuína. Ocorre que, costumeiramente, nos comportamos de forma diversa da que gostaríamos em nosso íntimo, por inúmeras razões, dentre elas é comum a busca pela aceitação pelo outro. Às mulheres são impostas cobranças, para nos enquadrarmos em modelos reconhecidos pela sociedade como ideais, seja no âmbito profissional, social, familiar, amoroso, etc. Espera-se uma performance quase sobre-humana da mulher: tem que ser magra; tem que ser uma profissional bem-sucedida e mãe exemplar; aliás, tem que querer ser mãe; tem que ser feminina; tem que ser bem-humorada e, emocionalmente, equilibrada, afinal mulher cansada, ou irritada, certamente está de tpm. Cansei só de ver tantos "têm que” nessa frase, e o pior é que nem listei todos os que vivenciamos, rotineiramente.
Olhar para si e não se reconhecer, não se gostar, ter sempre uma sensação de inadequação, com a mente preocupada em se moldar para encaixar, seja qual for a caixa que a abriga neste momento, torna a vida sem graça, vazia de significado e cheia de buscas inglórias e expectativas frustradas de aceitação, pelo outro e por você mesma, quando tenta atender a esses padrões inalcançáveis. Ao mesmo tempo em que é invadida por angústias, vergonha, culpa, desânimo, solidão, frustração, medo, finge não escutar essa turbulência interna. Esse ciclo nocivo encontrará campo fértil para se perpetuar, enquanto você silenciar sua autenticidade e não se permitir destrancar as grades, em que você mesma se enjaulou.
Se tudo o que fazemos é para atender a uma necessidade humana, entenda que, ao reprimir sua autenticidade, você pode estar cuidando de algo que, também, é importante para você (isto é, alguma outra necessidade – p.ex. aceitação); ao mesmo tempo, as estratégias usadas, para atender a essa necessidade, podem não ser as melhores para o seu bem-estar geral, caso sacrifiquem outras partes de você, dentre elas a sua autenticidade. E está tudo bem se você se identificou com esse perfil, pois esse é o modelo que nos foi ensinado e é a condição normalizada em nossa sociedade. Meu propósito é jogar luz sobre essa questão e ajudá-la a criar consciência sobre esse processo.
Quando abafa sua autenticidade, você entrega seu poder e se coloca sob o controle do outro. Ainda que cheio de boas intenções, esse outro vai direcioná-la pelo caminho que atenda às necessidades dele, que nem sempre levarão seus interesses em consideração, especialmente se você não consegue identificar, nem expressar quais são suas necessidades. Como é possível exigir do outro que a compreenda, se nem mesmo você tem conhecimento do que há para ser compreendido? Ter consciência sobre seus sentimentos e necessidades traduz seu mundo interno e lhe permite avaliar, com mais clareza, se a estratégia atual (isto é, seu comportamento diante da situação) atende a essas necessidades, ao mesmo tempo em que cuida de você integralmente, ou se para garantir esse cuidado outras escolhas podem ser feitas. As escolhas passam a buscar um equilíbrio entre as diversas versões de você mesma.
Esse processo consciente gera autoconhecimento, que desencadeia na autoconfiança, que é seguida pelo desejo de expressar, livremente, nossa autenticidade. Isso nos empodera a nos colocar no mundo como somos, a nos despir das máscaras que nos sufocam e a ocupar o nosso lugar. Trata-se de estarmos conectados com nosso eu mais íntimo e nos responsabilizar por construir os caminhos, que cuidem de nós. Cada mulher é um ser humano complexo, um infinito particular, cada uma tem sua história, crenças e necessidades, somos diversas e únicas. Humanize a mulher que você é!
Investigue-se: Você vive em função de atender aos padrões e às expectativas, em sobreposição ao que está sentindo e necessitando? Suas escolhas atuais cuidam de você integralmente? Busque perceber, num nível mais sutil, a autenticidade se expressar no seu corpo e ouça o que ela tem a lhe dizer: ela se sente livre ou presa?
Meu desejo é que esse texto chegue como uma inspiração, para que você cuide do seu lugar, conheça e honre sua verdade. Permita-se, libertando sua autenticidade.
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Debora Andrade
Aprendiz da vida, em constante (des/re)construção, praticante de yoga, meditação e trekking, energizada pela natureza, interessada em temas relacionados ao autoconhecimento, gestão das emoções, relacionamentos interpessoais e integração do ser humano com a natureza. Multiplicadora da Comunicação Não Violenta e mediadora de conflitos com ênfase em mediação familiar. Dedico-me a projetos que envolvam a construção de conexões humanas por meio da CNV, da mediação de conflitos e outras práticas que estimulem a autoconexão.
Neste mês das mulheres, em que refletimos sobre o nosso papel em sociedade, uma pergunta me fez pensar sobre o nosso estado emocional, em que muitas de nós se percebe em solidão e clamam por uma companhia.