Estar na Pele da Andrea: Página 03
Ser mulher, para mim, é ter um desafio a mais, uma luta a mais do que os homens. Mas vejo hoje isso como uma vantagem, pois somente aqueles que enfrentam grandes desafios é que crescem e se desenvolvem. Segue aqui um pouco da minha história nesse mundo, sendo mulher com muito orgulho.
Meu nome é Andrea, sou casada, muito feliz pelo marido e os dois filhos que tenho. Sou empreendedora e realizadora. Digo realizadora porque gosto de fazer acontecer, mas como mulher nunca foi fácil.
Desde pequena me interessava entender como as coisas funcionavam e me interessava por tudo, além do que só as meninas gostavam. Estudei todo o meu primário em uma escola só para meninas. Foram 8 anos sem ter coleguinhas meninos na sala de aula. A escolha da escola foi somente pela sua reputação e não porque deveria ser só para meninas. Excelente escola, mas hoje não acredito que seja o melhor modelo, pois falta a interação entre mentalidades diferentes de meninos e meninas.
Na escolha para meu segundo grau técnico, eu quis estudar eletrônica, uma área que era, ou ainda é, mais popular entre os meninos. Lembro que a minha turma tinha quarenta alunos, sendo somente sete meninas. Sem falar que os professores eram todos homens.
Não é difícil, naquela idade, às vezes você se perguntar se está no lugar certo. Entretanto, eu gostava do curso, sempre gostei de matemática e física, matérias que não faltavam para o curso de eletrônica.
Trabalhei na área, era uma das poucas meninas da empresa que trabalhava com projeto de centrais telefônicas. Foi uma excelente experiência.
Eu, jovem, me sentia privilegiada de ser uma das poucas meninas nessa função.
Sou a filha mais velha de três meninas, sempre gostei de dirigir, algo que também sempre foi mais popular entre os meninos. Falavam que eu era como se fosse o menino da casa. Sempre fui aquela que mais se arriscava, que não gostava de rotina, que não tinha medo de trabalhar.
Na escola técnica conheci meu marido, sim, com dezessete anos começamos a namorar e estamos juntos até hoje. Ele me conhece muito bem, o que me ajudou a continuar seguindo meus sonhos.
Tudo estava muito bem, sendo mulher num ambiente dominado pelos homens. Eu sabia que não tinha nada de errado eu gostar e ter talento para trabalhos e atividades feitas, geralmente, pelos homens.
Entretanto, depois de ter filhos, tudo mudou.
Foi aí que senti que mulher é sim diferente dos homens. O esforço físico e mental da mãe é enorme, comparado ao do pai. Temos mais compromissos e, mesmo que o pai queira ajudar, somente a mãe consegue resolver, até a criança chegar a uma certa idade.
Por conta de hormônios desregulados e pela falta de atividade profissional, entrei em depressão. Eu nem sabia o que era isso, mas não estava bem. Não me levem a mal. Não sou ingrata por ter filho. Lembrem-se: eu já não estava bem, deprimida. Tudo era motivo para eu chorar e me sentir sem ânimo nenhum. Para alguém que sempre estava na ativa, de repente parar, não foi fácil.
Sim, amo ser mãe, amei estar grávida, amei amamentar, mas, neste momento, você vê que é só você. Como moro no Canadá, tive direito a um ano de licença maternidade. Meu marido ficou um mês em casa e voltou ao trabalho. Quando chegou a hora de colocar nossa filha aos cuidados da creche, foi de cortar o coração. Sim, também é difícil para o pai, mas a mãe é quem estava mais tempo. Na verdade, o tempo todo com a criança e essa separação não foi fácil.
Mas o tempo cura, a criança cresce e a mãe quer voltar a trabalhar, quer se sentir produtiva e reconhecida profissionalmente. E eu, alguns anos depois, mudando de emprego, cheguei aonde eu queria, que era ser empreendedora e ter minha empresa.
Então, agora eu era conselheira em segurança financeira, autônoma. O que significava que eu trabalhava para atender clientes e minha remuneração era baseada, exclusivamente, em comissão. Eu precisava trabalhar muito para ter uma renda significativa. Com essa nova profissão, eu tinha muitas viagens de treinamento, até para atender clientes em cidades diferentes.
Numa sociedade onde aprendemos que a mãe fica em casa e o pai sai para trabalhar, não teve como eu não me sentir culpada de estar ausente várias e várias noites, pois esse era o melhor horário, para encontrar com meus clientes e, também, ficava alguns dias fora viajando.
Eu tenho muita sorte de ter um marido maravilhoso, que sempre me apoiou nos meus sonhos. Sempre! Até hoje! Mas escutei, entre linhas, comentários sobre a maneira que vivíamos nossa vida. Coitado do pai que tem que cuidar das crianças. Ele trabalhou o dia inteiro e ainda tem que cuidar dos filhos? E ainda cozinhar? Era um absurdo.
Trabalhei muito, não desisti. Sentia falta demais de estar com eles, mas essa cobrança, onde somente o pai pode trabalhar bastante e ficar horas fora e a mãe que deve cuidar dos filhos e da casa, não foi fácil. Por mais que ninguém fale isso na sua cara, você nasceu vendo isso. Você nasceu entendendo que a mulher cuida da família em casa e é o pai que traz o dinheiro.
Sinto que o mundo está mudando. Por necessidade, muitas mães começaram a trabalhar fora. Entretanto, ainda não são muitos os pais que ajudam em casa. A casa que também é dele, os filhos que também são deles.
Vemos muitas guerreiras, que trabalham fora e ainda cuidam de tudo sozinhas. São tantos desafios. Choros escondidos e a saúde mental comprometida.
Eu sou grata pelo marido maravilhoso que tenho. Ele me valoriza e me respeita.
Que o mundo acorde, para entender o poder das mulheres e que saibam que essa pressão, imposta sobre nós, só nos deixa mais fortes e muito mais capazes do que se imagina.
Força mulherada! Estamos juntas!
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Andrea Britto
Brasileira-Canadense, mãe, esposa, filha, irmã, amiga, empreendedora e apresentadora do podcast Dose de Energia. Apaixonada por desenvolvimento pessoal, tenho como objetivo de vida espalhar pelo mundo mensagens de inspiração, conhecimento e consciência sobre nossas mudanças e desafios. Acredito muito nas pessoas e que todos nós oferecemos o melhor que temos no momento em que estamos e, por isso, podemos sempre evoluir e então inspirar aqueles que nos observam - buscando assim um mundo melhor.
Neste mês das mulheres, em que refletimos sobre o nosso papel em sociedade, uma pergunta me fez pensar sobre o nosso estado emocional, em que muitas de nós se percebe em solidão e clamam por uma companhia.