O impacto da pandemia na saúde das mães, gestantes e puérperas
O ano de 2020 foi atípico, forçou mudanças de hábitos e rotinas de pessoas do mundo inteiro. Tivemos que fazer adaptações que, obviamente, não estavam nos planos de ninguém. E tudo isso afetou muito a saúde de mente das pessoas, em termos de aumento de sentimentos de tristeza, desolamento, estresse, angústia, entre outros, bem como aumento de consumo de álcool e drogas, para dar uma falsa sensação de alívio diante de todo esse cenário.
Acúmulo de tarefas e preocupação com o sustento e a saúde da família são fatores de estresse apontados por mulheres. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), as mulheres são o grupo mais vulnerável a problemas de saúde da mente, durante a pandemia da Covid 19. Neste grupo encontram-se mães, gestantes e puérperas, pois também existem quadros de alteração hormonal da gravidez e pós parto, que as deixam mais propensas à depressão e ansiedade.
Mães, que trabalham em home office, falam sobre o desafio de cuidar e conciliar a educação das crianças em tempo integral, cuidar das tarefas de casa e de seu próprio trabalho. Muitas perderam os empregos, e contam com o auxílio emergencial, o que contribui para o aumento de quadros de ansiedade e depressão.
Como seria a rotina de uma mãe, por exemplo, neste momento da pandemia?
Com as aulas das crianças no formato online, devido à suspensão das aulas presenciais, a mãe precisa acompanhar esse processo educacional do filho, que também é novidade para ele! Ela exerce suas funções no trabalho e, também, é professora do filho, além de cuidar de todo o preparo do alimento, gerenciar as atividades domésticas, arrumar e limpar a casa, cozinhar, lavar louças, passar e lavar as roupas.
Diante de todo esse cenário, ainda se depara com a angústia de lidar com os sentimentos que a pandemia e o isolamento trazem. As mães, muitas vezes, se vêem sozinhas nessa nova rotina, não encontram rede de apoio. Existem, também, aquelas situações onde os maridos não auxiliam nas tarefas de casa, ou com os filhos. É, extremamente, angustiante se deparar com essa sensação de impotência, onde quase toda a rotina depende dessa mãe. Não tem como não apresentar quadros ansiosos e depressivos.
Agora, quais são as ações, que essa mãe pode ter, para amenizar um pouco essa angústia?
Considero importante ampliar a rede de apoio. Existem muitos grupos de mães, que desabafam e ajudam umas às outras, oferecendo ideias, e até novas ideias para a rotina. Buscar também apoio dos vizinhos, relatar para familiares, sobre como eles podem ajudar. Às vezes, elas não querem incomodar, ou não relatam como estão se sentindo, e os familiares nem imaginam o quanto elas precisam de auxílio.
Outro ponto importante é o planejamento de rotina. Com uma planilha em mãos, coloque todos os dias da semana, períodos e horas. Aponte quais as tarefas que melhor se adaptam naquele período, não esquecendo de colocar os momentos de lazer e hobbies, que irei descrever nos próximos pontos. Quando vemos a rotina concretizada em uma folha de papel, percebe-se melhor o que pode ou não melhorar, para otimizar o dia a dia.
Desenvolver bons hábitos para relaxar: leitura de um bom livro, escutar músicas, dançar, ver filmes, pintar, desenhar, brincar com os filhos (cartas, bingo, desenhar, fazer doces), escrever e etc. Tudo para estimular a consciência e relaxar. Esses momentos são necessários para drenar a energia acumulada.
Compartilhar e dialogar com o companheiro sobre a rotina da casa, e como ele pode auxiliar, é extremamente importante. O companheiro precisa e deve ter o conhecimento, e ajudar no dia a dia, seja nas tarefas domésticas, seja nos cuidados com as crianças.
E o último ponto que quero esclarecer, e não menos fundamental, é o seguinte: fale como você está se sentindo. Se guardarmos nossas emoções, angústias e o que nos machuca, por muito tempo, a sobrecarga é maior. O ideal é procurar a ajuda de um profissional da área da saúde da mente, para ouvir e orientar da melhor forma. Além de gerar uma sensação de alívio, saber que estamos oferecendo-nos essa oportunidade é gratificante.
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Camila Jacob
Graduada em psicologia pela PUC Campinas, há 16 anos. Especialista em Treinamento em Psicoterapia Breve Psicanalítica, pela Unicamp. Atuou por 10 anos como Matriciadora de Saúde Mental na Rede Pública e trabalha com Psicoterapia, há 16 anos, em consultório próprio.
Neste mês das mulheres, em que refletimos sobre o nosso papel em sociedade, uma pergunta me fez pensar sobre o nosso estado emocional, em que muitas de nós se percebe em solidão e clamam por uma companhia.