Estar na Pele da Lily: Página 01
Viver é sentir
Eu lembro da primeira vez que escrevi um poema, eu tinha quatorze anos e acabara de sofrer com uma decepção amorosa. E por incrível que pareça, não foi a primeira. Escrevi sobre a segunda, mas não sobre a primeira. Se colocarmos isso sob a ótica de filmes de romance teen, a situação tem zero sentido porque, de acordo com os seus roteiros, a primeira paixão é a mais arrebatadora. Eu venho aqui hoje para contestar essa lógica.
Nós humanos tendemos a ser influenciados por tudo ao nosso redor, como diz Guy Debord em A Sociedade do Espetáculo. Nesse cenário, entram os filmes teen com a idealização do primeiro amor. É o mais forte e o mais doloroso, é a paixão mais ardente com a decepção mais avassaladora. Nele, tudo é muito mais, e os outros amores ficam em segundo plano. Nesse processo de abandono, incluem-se também os sentimentos do casal. E isso só me lembra o quanto é prejudicial para o nosso psicológico rejeitar as nossas emoções....
Por ventura, eu não sofri com essa pressão social e me permiti sentir e extravasar a minha angústia, o que levou ao início da minha vida como poeta. Talvez, se eu tivesse renegado a experiência e me bloqueado de procurar apoio na escrita, eu não estaria aqui hoje. Viver como poeta é sentir tudo, o tempo todo e exacerbadamente. Toda e qualquer emoção é válida e digna de ser objeto de poesia. Então, de alguma maneira, faz sentido eu ter escolhido a minha segunda decepção amorosa como a minha primeira musa.
Além dos filmes de romance, existem vários tipos de mídia que indiretamente infligem pressões na sociedade e uma dessas é a positividade tóxica. Essa ideia, vastamente disseminada nas redes sociais, de estar sempre bem e “good vibes only” é uma falácia. Sentir-se mal faz parte da vida e aceitar esses sentimentos é o primeiro passo para o crescimento pessoal. Por isso que eu digo que todos deveriam viver como poetas. Não precisa rimar ou escrever em versos, tudo que precisa é entender que a sua dor é parte de quem você é e que você não é menos válido por isso. “Depois do primeiro término você se acostuma”, talvez não, toda vez doerá tanto quanto a outra, e está tudo bem.
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Lilly Alpina
Eu encontrei um refúgio nas palavras quando ainda era uma pequena menina. Sempre que a tarefa era escrever uma redação, eu ultrapassava o limite de linhas em páginas. Agora que cresci um pouco, entendo o porquê. É uma ponte para o meu interior que me ajuda a me conectar com as minhas emoções e a entendê-las. E assim como é para mim, espero que seja também para outros. Espero que, de certa forma, as minhas palavras lhes confortem e sirvam como um espaço para o autoconhecimento.
Neste mês das mulheres, em que refletimos sobre o nosso papel em sociedade, uma pergunta me fez pensar sobre o nosso estado emocional, em que muitas de nós se percebe em solidão e clamam por uma companhia.