Estar na Pele da Lily: Página 02
Eu tenho a impressão que, às vezes, quando falamos do bem-estar da mente esquecemos de um aspecto crucial. Esquecemos da continuidade. Esquecemos que para se manter em um estado é necessária a continuidade, ou seja, para se construir um bem-estar da mente precisa-se de hábito e rotina. Veja, podemos recomendar meditação a um amigo angustiado (ou até mesmo ela é recomendada para nós), mas por não enfatizar na necessidade de construir um hábito da prática, cria-se uma expectativa inatingível de um efeito imediato. E, claro, ao não o alcançarmos, nos frustramos ainda mais.
Antes de prosseguir quero deixar claro que estou me referindo a rotina como ideia de frequência constante na vida diária, mas não à ideia de horários fixos e rígidos porque isso não faz bem a ninguém.
Nessa colocação há duas ideias: a rotina e a particularidade. A primeira, que já lhes apresentei, consiste em achar um tempo, por menor que seja, para tornar um hábito presente na sua rotina aquilo que faz bem. Seja ouvir o horóscopo ao acordar, ouvir música, tomar um belo café da manhã, meditar, ir na terapia, ler um bom livro, fazer trabalho voluntário, desenhar, observar o pôr sol... O que for, o que o leitor desejar e acreditar que lhe faça bem. E de alguma forma, inserir isso na rotina com a maior frequência que for possível. Digo isso porque, infelizmente, nem sempre conseguimos fazer tudo o que queremos em um dia, mas está tudo bem, não vale a pena se frustrar por isso. Retomando, a rotina e o hábito são importantes porque uma vez que nos acostumamos a eles, aquele momento especial do dia se torna um porto-seguro pessoal, em que se poderá se recorrer e se refugiar. A prática constante de algo que nos faz bem e a presença da rotina, nos torna menos suscetíveis ao estresse causado pelos imprevistos do dia.
Agora, há o segundo aspecto. Qual era mesmo? Ah sim, o da particularidade. Essa se diz respeito tanto à empatia quanto ao autoconhecimento. Empatia (nos pondo como quem aconselha) porque precisamos pensar no outro e não em nós mesmos uma vez que aquilo que nos faz bem não necessariamente tem o mesmo efeito na outridade. E autoconhecimento (agora na perspectiva de quem está sendo aconselhado) porque precisamos aprender a reconhecer o que nos faz bem e o que não faz, o que é particular e genuíno de cada um. O que é também, não por coincidência, um processo particular e individual. Uns podem buscar o autoconhecimento lendo “Mulheres que correm com os lobos” de Clarissa Pinkola Estés (foi o meu caso), outros, através da meditação e outros ainda, pela arte. Essa é uma pequena lista de três jeitos, mas os caminhos possíveis são inúmeros. Como, então, saber qual é o certo para você? Sinto te dizer, caro leitor, que é experimentando e pesquisando. O que pode parecer, em determinada altura do campeonato, um pouco desesperador, mas não desista, procure apoio em seus queridos e, se for necessário, na terapia. Em algum momento, você vai se identificar com um caminho, e se não, criará o seu próprio.
Mas como a particularidade se encaixa na ideia de constância? No aspecto da empatia, precisamos torná-la um hábito e exercitá-la, precisamos constantemente checar se os nossos queridos estão bem ou se estão precisando da nossa ajuda. E na questão do autoconhecimento, estamos sempre crescendo e evoluindo e por isso mudamos. Logo, o que nos fazia bem em um momento da vida pode, eventualmente, parar de fazer sentido e dar lugar a outra coisa. Assim, precisamos praticar o autoconhecimento com frequência para estarmos antenados às mudanças que ocorrem em nós e que são nada menos do que naturais.
***
Lilly Alpina
Eu encontrei um refúgio nas palavras quando ainda era uma pequena menina. Sempre que a tarefa era escrever uma redação, eu ultrapassava o limite de linhas em páginas. Agora que cresci um pouco, entendo o porquê. É uma ponte para o meu interior que me ajuda a me conectar com as minhas emoções e a entendê-las. E assim como é para mim, espero que seja também para outros. Espero que, de certa forma, as minhas palavras lhes confortem e sirvam como um espaço para o autoconhecimento.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.