Ser idoso e a saúde da mente
A população global está envelhecendo. Segundo a Organização Mundial de Saúde, estima-se que em 35 anos um em cada três brasileiros seja idoso. Até 2050, o número de pessoas com mais de 60 anos no mundo vai duplicar. Um século atrás, a maioria das pessoas não chegava ao seu 50o aniversário. Hoje, pessoas com mais de 100 anos são um segmento crescente na população mundial.
Em civilizações que valorizam o intelecto, ser idoso é sinônimo de experiência e sabedoria, visto com respeito e admiração. Nas culturas orientais os idosos são símbolos de experiência de vida. Já em outras culturas, principalmente as ocidentais, o idoso é visto como ultrapassado e descartável. Em sociedades capitalistas, envelhecer é frequentemente vivenciado como perda do sentido da vida, pois valoriza-se apenas aqueles que produzem, e deprecia-se o sujeito idoso. Em países desenvolvidos, o idoso com alto poder aquisitivo, que conseguiu acumular recursos financeiros, materiais e intelectuais enfrenta o envelhecimento de maneira diferente de idosos de baixo poder aquisitivo. O processo de envelhecer, considerando o gênero e a condição do indivíduo, pode ressaltar desigualdades quanto à qualidade de vida e ao bem-estar. Idosos ricos são considerados como consumidores em potencial, tratados como um segmento representativo da “melhor idade”. Além da questão financeira, têm tempo para “aproveitarem” a vida, podendo gastar sem muita preocupação. Essa, porém, não é a realidade da maioria dos idosos brasileiros que, por não disporem do atributo qualitativo “poder aquisitivo”, ficam dependentes do auxílio de seus filhos, parentes ou de escassos benefícios sociais que beiram a imoralidade. Dessa forma, para muitos do nosso país, a velhice é um período da vida caracterizado por insegurança econômica, pouca saúde, solidão, resistência à mudanças e ausência de recursos físicos e mentais.
Atualmente, os esforços para combater o idadismo – preconceito ou discriminação com base na idade – ganham força graças à crescente visibilidade de idosos ativos e saudáveis. Nem todo idoso pode almejar ser um maratonista, porém a prática frequente de exercícios físicos podem melhorar o tempo de reação, equilíbrio, força muscular e evitar muitas mudanças físicas associadas ao envelhecimento normal.
Transtornos comportamentais e psicológicos causam dificuldades para executar as principais atividades da vida, assim como o declínio cognitivo. Má nutrição, anemia, intoxicação medicamentosa, delírio, pequenos ferimentos na cabeça, alcoolismo e depressão são alguns dos problemas mais comuns enfrentados na terceira idade. Muitos idosos tendem a não procurar ajuda pela dificuldade de acessar os serviços de apoio necessários. A hereditariedade, interagindo com fatores ambientais como acontecimentos estressantes, divórcios, viuvez, solidão, doenças crônicas, deficiência, declínio cognitivo, abuso de medicamentos entre outros podem levar o idoso desenvolver transtornos psicológicos.
Embora o cérebro sofra mudanças com a idade, em geral elas são modestas. Essas alterações envolvem perda de volume e peso, e diminuição na velocidade das respostas.
Estudos mostram que pessoas idosas apresentam considerável plasticidade em desempenho cognitivo e podem se beneficiar bastante de treinamento e atividades como quebra-cabeça, caça palavras e outros jogos.
Para envelhecer com qualidade é fundamental o fortalecimento da tríade idoso-família-sociedade, reconhecendo os direitos, bem-estar, integridade e saúde da população idosa, por meio da prevenção e promoção do envelhecimento ativo. O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção, um direito social, e é dever do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde mediante a efetivação de políticas públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. A garantia desses direitos está determinada na legislação com o advento do Estatuto do Idoso – Lei nº 10.741, de 1o de outubro de 2003 –, considerada uma das maiores conquistas da população idosa brasileira. Essas normatizações justificam a necessidade de desenvolver e implantar intervenções de prevenção e promoção à saúde física e mental da pessoa idosa com foco no seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, prevalecendo as condições de liberdade, autonomia e dignidade.
Segundo Alessandra Pereira, colaboradora voluntária na escuta terapêutica de idosos, envelhecer possui as suas complexidades, e é com pequenos versos de sua autoria que eu gostaria de finalizar: “Oh, meu jovem, me deixe seguir os meus passos, mas não me deixe sozinho, pois também preciso de afago. Perdoe se minhas pernas falharem, se minha memória me trair ou se meus olhos e ouvidos não me ajudarem, a minha história é longa e tenho tanto para contar-lhe. Mas, se tiver um tempinho e puder me escutar; sinto saudade de um tempo que nunca há de voltar. Por isso, lhe dou um conselho, se assim me for permitido… Viva o seu presente, invista em você mesmo, ame como se não houvesse amanhã, não deixe nada para depois e cultive quem se fez presente antes, agora e depois.”
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Ricardo Milito
Diretor Científico do Instituto Bem do Estar. Psicólogo e administrador com experiência no segmento organizacional e projetos sociais. Curioso, observador e disposto a ajudar as pessoas buscarem respostas para suas questões. Acredita no potencial do ser humano.
Nosso desejo sexual pode variar ao longo da vida e isso não é um problema. Dependendo da nossa rotina, da nossa saúde física e mental, da nossa idade, da nossa sensação de bem-estar, dentre outros fatores, podemos estar com maior ou menor libido, sem necessariamente ter algo de errado. Mas quando essas alterações se tornam persistentes e prejudicam a vida da pessoa, algo deve ser feito para reequilíbrio do organismo.