Passo
Este poema de um passo
começou na intenção
o corpo inclinou-se à frente
a cabeça equilibrou
abdômen contraiu
braços em contrapeso
a perna direita se arriscou
ponta do dedão do pé
última parte que o chão tocou
um ligeiro sobressalto
se apoderou de meus pulmões
a perna esquerda acolheu atenta
a responsabilidade das decisões
manteve-se sólida, impassível
sua companheira cruzava os ares, intangível
no momento correto
nem antes, nem depois
o calcanhar pediu chão
o pé aos poucos se acomodou
gato que amacia a relva
e a total entrega veio pôr fim
ao momento de delírio
ajustes incalculáveis para o equilíbrio
até que a conta chega a zero
com ambos os pés sobre o planeta
o corpo se divide exato
dois pontos contra um chão
gangorra parada no tempo
balança em dia sem vento
no instante seguinte
somou-se ao zero nova intenção
e junto à força que tudo move
o primeiro passo
ganhou um irmão
Professor de Educação Física (USP) e trabalha em escolas da rede particular de São Paulo e em cursos de formação de professores.